O boom do “Morango do Amor” e as lições financeiras para empreendedores
Sucesso do doce mostra como tendências podem gerar lucros, mas especialistas alertam para gestão e planejamento financeiro
247 - O “Morango do Amor” se tornou a nova sensação das redes sociais e das confeitarias brasileiras em 2025. A receita que combina morango, brigadeiro e caramelo ganhou popularidade a ponto de mexer com a economia: segundo dados da Ceagesp, em São Paulo, o quilo da fruta disparou de R$ 23,00 para R$ 48,07 em menos de um mês — uma alta de 107%.
Mais do que uma sobremesa viral, o fenômeno revelou como modismos digitais podem se transformar em fonte de faturamento, sobretudo para pequenos empreendedores. Mas o sucesso momentâneo precisa ser acompanhado de organização financeira para que o negócio se torne rentável a longo prazo.
A educadora financeira da Rico, Thaisa Durso, aponta que o caso serve de exemplo para entender melhor conceitos de custos, precificação e margens de lucro. “O ‘Morango do Amor’ é um caso prático para compreender como transformar uma oportunidade passageira em lucro consistente”, afirmou.
Custos fixos: a estrutura que sustenta o negócio
Segundo Durso, os custos fixos funcionam como a base da operação: aluguel, contas de luz e internet, salários e manutenção. Eles não variam de acordo com a quantidade de doces vendidos e precisam ser calculados para que o empreendedor saiba qual é o valor mínimo necessário para não operar no prejuízo.
Já os custos variáveis, explica a especialista, estão diretamente ligados ao volume de vendas. São os ingredientes — morangos, chocolate, leite em pó, açúcar —, além de embalagens, gás, energia e taxas de cartão. Quanto mais unidades produzidas, maiores serão esses gastos. Durante a alta do preço do morango, muitos produtores sentiram no bolso o impacto de um custo variável em escalada.
Margem de lucro: o sabor que faz diferença
Com os custos mapeados, o próximo passo é calcular a margem de contribuição. Em um exemplo dado por Durso, se um doce é vendido a R$ 12,00 e os custos variáveis somam R$ 4,00, a margem de contribuição é de R$ 8,00. Esse valor ajuda a pagar os custos fixos e, a partir daí, vira lucro real.
Na prática, para cada R$ 100 vendidos, cerca de R$ 66,67 correspondem a lucro bruto após o pagamento dos custos variáveis. Esse cálculo é fundamental para definir preços de forma estratégica e evitar que a produção seja inviável financeiramente.
Ponto de equilíbrio: quando a conta fecha
Outro conceito essencial é o ponto de equilíbrio, que indica quantos doces precisam ser vendidos para cobrir todas as despesas. Se os custos fixos mensais chegam a R$ 1.400,00 e cada unidade rende R$ 8,00 de margem, são necessárias 175 unidades para empatar as contas. A partir dessa quantidade, toda venda representa lucro líquido.
Um erro recorrente entre pequenos empreendedores é unir despesas da empresa às pessoais. Durso alerta que essa prática compromete o controle financeiro. A recomendação é separar contas bancárias, registrar todas as transações e definir um pró-labore, ou seja, um salário fixo para o empreendedor.
Planejamento para transformar tendência em oportunidade
A febre do “Morango do Amor” mostra como uma tendência pode gerar receita rápida. No entanto, para garantir a sustentabilidade do negócio, é preciso investir em planejamento, controle de custos e formação de reserva financeira equivalente a três a seis meses de despesas.
Com isso, o empreendedor consegue atravessar oscilações de mercado sem comprometer a saúde da empresa. “A oportunidade é apenas o começo. O que mantém o negócio vivo é a disciplina financeira”, destaca a educadora financeira.
