Pequenos negócios aceleram expansão das empresas verdes no Brasil
Crescimento de 20,4% entre 2019 e 2024, segundo estudo do Sebrae, revela a força dos pequenos empreendedores na economia verde e na transição ambiental
247 - O avanço das empresas classificadas como “verdes” no Brasil vem redesenhando o cenário empreendedor e aponta para uma transição ambiental cada vez mais presente no setor produtivo. De acordo com dados divulgados pelo Sebrae, que analisou informações da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o segmento cresceu 20,4% entre 2019 e 2024. A fonte original do levantamento é o próprio Sebrae, que identificou 1,8 milhão de CNPJs ativos dentro dessa categoria. Desse total, a imensa maioria — cerca de 1,7 milhão, ou 95,8% — corresponde a pequenos negócios.
Essas empresas, que incluem microempreendedores individuais (MEI), microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP), já representam 6,7% de todos os pequenos negócios brasileiros. A classificação considera parâmetros como economia circular, uso coletivo, mensuração de emissões de gases de efeito estufa e análise de risco ambiental das atividades descritas no CNAE. O recorte revela que a transição verde não é apenas uma agenda das grandes corporações, mas vem sendo impulsionada principalmente pela base do empreendedorismo nacional.
O presidente do Sebrae, Décio Lima, destaca que a pesquisa confirma o papel estratégico dos pequenos negócios na agenda climática, tanto no enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas quanto na criação de soluções de impacto. “O mundo precisa levar em conta que, somados, os pequenos têm contribuição relevante a fazer nas ações de mitigação dos efeitos climáticos do setor privado. Por outro lado, há enorme potencial para oferecer soluções escaláveis de impacto na luta pela preservação do clima”, afirma.
Para Lima, a permanência e o fortalecimento do segmento é fundamental: “Garantir a presença dos pequenos entre nós significa manter todos os benefícios econômicos e sociais já conquistados: inclusão produtiva, emprego e renda com equidade e oportunidades para todos”. Ele acrescenta ainda que “temos a convicção de que uma nova sociedade mais justa e integrada à natureza está nascendo, onde prevalecerão os valores fundamentais do humanismo, das pessoas e da vida, sempre com inclusão”.
Dentro do conjunto de negócios verdes, o microempreendedor individual é o protagonista. Os MEIs respondem por 60% das empresas e dominam o estágio inicial da jornada empreendedora: concentram 84,4% dos negócios nascentes e 79,9% dos negócios iniciais. Entre as empresas já estabelecidas, há maior equilíbrio entre MEIs e micro e pequenas empresas, o que indica maturidade crescente e diversificação dos modelos de operação.
Serviços e comércio puxam o setor
O estudo do Sebrae mostra ainda que o setor de Serviços é responsável pela maior parcela dos pequenos negócios verdes (45,9%), seguido pelo Comércio (40,2%). A Indústria aparece com 13%, enquanto Construção e Agropecuária representam cerca de 0,4% e 0,5%, respectivamente.
As atividades de manutenção e reparo dominam o universo verde, com aproximadamente 64% das empresas atuando na recuperação de veículos automotores, computadores, máquinas, eletroeletrônicos e objetos pessoais. O transporte coletivo e escolar surge como outro segmento expressivo, reunindo 9,6% dos negócios e reforçando um perfil marcado por serviços urbanos e práticas de economia circular.
A concentração também se destaca entre os CNAEs mais procurados: dez atividades respondem por cerca de 79% de todas as empresas verdes. Entre elas, sobressaem “Manutenção e reparação de veículos automotores” (35,1%), “Reparação e manutenção de computadores e equipamentos periféricos” (9,4%) e “Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos da indústria mecânica” (6,2%).
Mapa regional da economia verde
A distribuição geográfica revela tendências distintas. O Sudeste concentra o maior número absoluto de pequenos negócios verdes, com São Paulo liderando — apenas a capital paulista reúne 127.965 empresas, equivalente a 7,5% de todo o país. Rio de Janeiro e Belo Horizonte também figuram entre as cidades com maior presença de CNPJs verdes.
Entretanto, quando se analisa a “intensidade verde”, ou seja, a proporção de empresas verdes em relação ao total de negócios de cada estado, outras regiões ganham destaque. Mato Grosso (8,5%), Mato Grosso do Sul (8,3%) e Rondônia (8,3%) aparecem à frente, com economias locais em que os negócios ambientalmente alinhados têm maior peso relativo.
Esses dados sugerem que, embora os grandes centros urbanos concentrem volume, estados do Centro-Oeste, Norte e Sul vêm construindo uma estrutura empreendedora mais voltada à sustentabilidade, muitas vezes influenciada por dinâmicas territoriais, ambientais e produtivas específicas.
