Setor de costura ganha força e incentiva consumo consciente no Brasil
Com mais brasileiros adotando o slow fashion, ajustes e reparos de roupas deixam de ser improviso e viram opção estratégica para economia e estilo
247 - Em um cenário dominado pelo fast fashion e pelo descarte rápido de peças, um ofício tradicional ressurge como protagonista da economia criativa: o setor de costura e ajustes de roupas. Silencioso, mas resistente ao tempo e às modas, esse mercado se reposiciona como elo essencial na transição para um consumo mais responsável.
De acordo com dados do Think With Google, 85% dos brasileiros afirmam estar tentando consumir de forma mais consciente. A tendência de “comprar menos e melhor” cresce sobretudo entre jovens, que valorizam a durabilidade das peças como expressão de estilo, economia e compromisso ambiental. É nesse contexto que um serviço historicamente invisibilizado volta a ganhar força: o conserto e a customização de roupas.
“Hoje, o consumidor olha para o próprio guarda-roupa com mais atenção. Uma peça esquecida pode ganhar vida nova com um bom ajuste. E isso não é apenas sobre economia — é sobre estilo, identidade e responsabilidade”, afirma Evandro de Macedo, CEO da Tem Jeito, rede de costura e customização fundada na Paraíba e responsável por mais de 60 mil atendimentos. A marca se destaca por combinar tecnologia, agilidade e experiência personalizada, sem abrir mão da essência artesanal.
Mais do que um negócio de sucesso, a Tem Jeito representa um movimento de valorização profissional. Em um setor marcado pela informalidade e pela predominância feminina, a rede busca capacitar e dar visibilidade às costureiras, cuja atuação é vital para a cadeia da moda, mas ainda pouco reconhecida.
Levantamento da Usina de Dados SEBRAE PB (2025) mostra que consumidores brasileiros tendem a priorizar roupas versáteis, duráveis e multifuncionais. Relatórios do Enjoei indicam que 56% da população já comprou ou vendeu produtos de segunda mão e que, em breve, esses itens poderão representar 20% do guarda-roupa nacional.
Nesse contexto, os ajustes e reparos ganham protagonismo. Mesmo com menos peças sendo adquiridas, a costura se mantém necessária — e até mais valorizada — quando o chamado “armário inteligente” estimula o investimento em roupas de qualidade e adaptáveis ao corpo e ao estilo.
A tendência é reforçada por fatores econômicos e culturais. Em tempos de orçamento apertado, costurar sai mais barato do que comprar. Já a popularização das compras em marketplaces internacionais, com modelagens diferentes do padrão brasileiro, gera demanda contínua por ajustes.
De ofício doméstico a serviço estratégico, a costura se consolida como atividade capaz de gerar renda, autonomia e impacto social — especialmente para mulheres chefes de família e migrantes que encontram no setor uma oportunidade de sustento digno. Mais do que remendar tecidos, o trabalho costura relações entre consumo e consciência, mostrando que a inovação também pode estar em ressignificar o que já existe.
No fim das contas, ajustar uma roupa é, muitas vezes, ajustar prioridades. E o setor de costura prova que, mesmo longe dos holofotes, continua sendo peça-chave na engrenagem da moda e da economia sustentável.
