“Brasil viveu uma tentativa de golpe articulada, não um improviso de extremistas”, diz Pedro Serrano
Jurista afirma que o ataque às instituições foi planejado e que a democracia segue ameaçada por setores conservadores dentro do Judiciário
247 - O jurista Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional, criticou duramente a conduta do ministro Luiz Fux e reafirmou que não há dúvidas de que o Brasil viveu uma tentativa de golpe de Estado, liderada por Jair Bolsonaro. A declaração foi dada durante entrevista ao Boa Noite 247, em meio ao final do julgamento do núcleo 4 da tentativa de golpe na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Ninguém que tem o mínimo de equilíbrio e sensatez duvida que houve uma tentativa de golpe de Estado no Brasil. E que foi comandada pelo ex-presidente da República”, enfatizou Serrano.
Para o jurista, as investigações da Polícia Federal deixaram claro que houve articulação entre militares, agentes públicos e civis para instaurar uma ditadura no país. “Os fatos são muito claros. Há um relatório de 800 páginas mostrando que existiu uma organização criminosa no Brasil que tentou instaurar uma ditadura. E não ia ficar só no presidente, no vice e nos ministros do Supremo — iam matar gente”, declarou.
Pedro Serrano classificou como “contraditória e preocupante” a postura de Luiz Fux no julgamento dos envolvidos em fake news e na tentativa de golpe de 8 de janeiro.
“Ele tem atuado como um militante, um intelectual orgânico das causas da direita e da extrema-direita”, afirmou Serrano, destacando que o pedido de mudança de Fux para a Segunda Turma — que reúne ministros indicados por Bolsonaro, como André Mendonça e Kassio Nunes Marques — pode consolidar uma maioria conservadora no STF. “Pode ser que ele esteja querendo mudar para outra turma para ali consolidar um polo de poder. É preocupante, porque o Supremo não é um parlamento, tem que agir de acordo com padrões de conduta”, avaliou.
Serrano também criticou o que chamou de “minimização da tentativa de golpe” por parte de alguns setores do Judiciário.
“Uma tentativa de golpe nunca é um ato isolado. É um roteiro, um conjunto de atos. Foi isso que aconteceu no Brasil. E todos que participaram, direta ou indiretamente, têm responsabilidade penal”, explicou.
O jurista defendeu que as condenações têm um papel pedagógico: “Qualquer cidadão tem que saber que participar de qualquer etapa de uma tentativa de ruptura democrática traz consequência. É muito grave. Essa é a mensagem que precisa ficar para as novas gerações”.
