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Latuff sobre o Natal em meio à guerra em Gaza: “É muito difícil celebrar diante dessa barbárie”

O cartunista afirma que o genocídio em Gaza destruiu qualquer perspectiva de paz e critica o silêncio da imprensa ocidental

Latuff sobre o Natal em meio à guerra em Gaza: “É muito difícil celebrar diante dessa barbárie” (Foto: Carlos Latuff)

247 - Durante particpação no programa Giro das Onze, da TV 247, exibida em 25 de dezembro o cartunista e analista geopolítico Carlos Latuff refletiu sobre o significado do dia 25 de dezembro em meio ao massacre em Gaza. Latuff afirmou que o cenário internacional torna praticamente impossível qualquer celebração.

“É muito difícil, pelo menos para mim, celebrar o Natal, ter esperanças de um mundo melhor, de um novo ano melhor. Não vejo nenhuma perspectiva disso acontecendo”, afirmou.

Latuff comentou uma de suas charges publicada em vários veículos internacionais, em que retrata a cena do nascimento de Jesus em meio a escombros, na Palestina, com a bandeira palestina ocupando o lugar da estrela da manjedoura. A imagem faz referência direta ao genocídio palestino.

“Existe uma população na Palestina que é cristã e que celebra o Natal, apesar de a grande maioria ser muçulmana. Existe até uma paróquia católica em Gaza”, destaca ele, ressaltando que Gaza vive hoje uma tragédia sem precedentes históricos, amplificada pela quantidade de registros visuais disponíveis.

“Gaza é talvez o genocídio mais bem documentado da história, porque não faltam provas visuais de que Israel efetivamente cometeu um genocídio. Se estima que mais de seiscentos mil palestinos foram assassinados”, afirmou;

O cartunista também denunciou a diferença de tratamento que a imprensa ocidental dá às vítimas palestinas em comparação com outras tragédias.

“Quando o crime é cometido por Israel essas pessoas não têm nome, não têm rosto, são números. Não se faz questão de ressaltar que são civis na grande maioria”, disse, ele comparando esse silêncio com a ampla cobertura de atentados contra judeus em países ocidentais como o ocorrido na Austrália recentemente.

“Você identificou cada uma das pessoas. Contou a história de cada uma dessas pessoas. Humanizou. Mas em Gaza elas não têm rosto, não têm nome e o mundo não se choca”, argumentou.

Ao analisar a sucessão de guerras e conflitos, Latuff afirmou que a barbárie não é uma exceção, mas parte estrutural da história humana. “A civilização é a barbárie. A gente lida com a barbárie. E ela não é pontual. Ela é histórica”, completou.