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Leonardo Stoppa: “A esquerda precisa rever a linguagem para reconquistar os trabalhadores”

Em entrevista a Hildegard Angel, o comuicador e analista político alerta para os riscos de pautas identitárias substituírem a redistribuição de renda

Leonardo Stoppa: “A esquerda precisa rever a linguagem para reconquistar os trabalhadores” (Foto: Divulgação)

247 – O cientista político e escritor Leonardo Stoppa foi o convidado do programa Conversas com Hildegard Angel deste sábado (13), onde abordou os desafios da comunicação política no Brasil. Stoppa destacou como a disputa pelo significado das palavras é central para o embate ideológico atualmentwe.

Segundo ele, a linguagem tem sido manipulada desde a campanha presidencial de Aécio Neves, em 2014, quando agências de comunicação dos Estados Unidos ajudaram a esvaziar conceitos fundamentais para a esquerda. 

“O termo 'pobre' deixou de ser um adjetivo de identificação e passou a carregar um peso de humilhação. Hoje, quando um político promete governar ‘para os pobres’, afasta o eleitorado. O correto seria falar em ‘trabalhadores’, porque todos se identificam como tal”, afirmou.

Stoppa também defendeu uma revisão na forma como a própria esquerda se comunica. Para ele, insistir na sigla “PT” reforça estigmas construídos pela mídia hegemônica. “O significado de ‘PT’ está associado ao que a Globo repetiu por décadas, sempre vinculado à corrupção. Falar ‘Partido dos Trabalhadores’ muda completamente a percepção e ajuda a reconstruir o campo semântico da política progressista”, argumentou.

O cientista político foi além e criticou a ênfase em pautas identitárias, que, em sua visão, desviam o foco da redistribuição de renda. “O identitarismo é a pauta principal dos Estados Unidos em países periféricos porque não ameaça o poder dos bilionários. Enquanto se discute linguagem e costumes, o dinheiro continua concentrado. O coração da esquerda, no entanto, é a luta pela redistribuição, por tirar recursos do topo e levar para quem passa fome”, avaliou.

Apesar das críticas, Stoppa ressaltou que não generaliza sua análise a todos os parlamentares do PSOL, mas reforçou a necessidade de a esquerda compreender a comunicação como ferramenta estratégica. “Mudar o mundo é difícil, mas mudar a forma de falar é possível. Usar outras palavras pode abrir portas que hoje estão fechadas”, concluiu.


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