"Plataformizados veem renda, mas esquecem os direitos", diz Magda Biavaschi
Ao analisar pesquisa PNAD Contínua sobre os trabalhadores de aplicativos, a doutora e pesquisadora vê com preocupação o aumento das horas trabalhadas
Por Denise Assis (247) - No próximo “Denise Assis Convida”, que vai ao ar no domingo (26), a conversa será com a desembargadora e doutora em Economia Social do Trabalho, Magda Barros Biavaschi, que é professora e pesquisadora da Unicamp.
A professora comentou a pesquisa publicada no final da semana passada pelo IBGE, com resultados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), com um recorte do estudo sobre os trabalhadores em aplicativos. O levantamento investigou o trabalho por meio de quatro tipos de aplicativos: as plataformas de transporte particular de passageiros (exceto táxi); de entrega de comida ou outros produtos; e de prestação de serviços gerais ou profissionais.
Uma das novidades apontadas na pesquisa é que, se por um lado, conforme o esperado, houve um aumento do número de pessoas dedicadas à atividade, por outro, o que se descobre é que o rendimento dos que trabalham nos aplicativos é apenas de cerca de R$ 300,00 a mais.
Na entrevista, Biavaschi aponta o “engano” embutido nessa pequena vantagem salarial. “Eles não levam em conta que não têm os direitos sociais e enfrentam uma carga horária de quatro horas além dos registrados. No final das contas, não vale a pena”, comentou.
Em 2024, quando houve a aferição, esses trabalhadores eram 1,7 milhão de pessoas. Outro aspecto do estudo, segundo Magda Biavaschi, é que no levantamento há um dado que não foi devidamente esmiuçado.
“É o que diz respeito aos que contribuem para a Previdência. Lá cita que 35% pagam a Previdência, mas isso é vago diante da realidade. Primeiro, porque os mais jovens, que trabalham de bicicleta ou de moto, não conseguem juntar reserva para contribuir. Segundo, porque os jovens não têm essa preocupação tão presente. Acaba que a parcela que consegue contribuir são os motorizados, com carros de alto padrão, provocando uma estratificação. Esses trabalhadores, sob esse ponto de vista, são divididos em castas”, avaliou.
Em 2022, esse grupo era de 1,3 milhão. Em 2024, esse contingente, chamado de "plataformizados" na pesquisa, representa quase dois por cento do total de trabalhadores (1,9%) de 14 anos ou mais com alguma atividade no setor privado (88,5 milhões). A mão de obra total também cresceu em relação a 2022 (eram 85,6 milhões), mas bem menos em termos proporcionais (+3,4%).
Para os que estranharam a citação de “trabalhadores” com 14 anos na pesquisa, ela aponta que “os pesquisadores consideram os ‘aprendizes’ no levantamento. Não se trata de tolerar trabalho infantil”, adverte.



