HOME > Entrevistas

"Soberania energética não pode ser desculpa para destruir o meio ambiente", afirma Horta

Historiador defende que o país tem vantagem para abandonar o carbono agora, antes que o custo global se torne insustentável

"Soberania energética não pode ser desculpa para destruir o meio ambiente", afirma Horta (Foto: Brasil247 | Reprodução)

247 - O historiador Fernando Horta defendeu que o debate sobre soberania energética no Brasil não pode servir como justificativa para políticas de exploração que ameacem o meio ambiente e acelerem o colapso climático. Durante o programa Brasil Agora, Horta criticou a decisão do Ibama que autoriza a Petrobras a iniciar atividades exploratórias na margem equatorial e afirmou que a sociedade brasileira ainda não compreende plenamente o impacto dessa escolha.

“Todo petróleo tirado do subsolo vai parar na atmosfera”, afirma o historiador, apontando que a extração de petróleo tem efeitos rápidos e inevitáveis sobre o clima. Segundo ele, a cada novo poço perfurado, as emissões de carbono resultantes estarão alterando o equilíbrio atmosférico em pouquíssimo tempo.

“Todo petróleo que você tira do subsolo tem um período mais ou menos de dois anos para estar na atmosfera”, alertou. “Esse é o argumento cabal. Em dois anos ele vai estar na atmosfera causando problema”.

Para Horta, os discursos sobre desenvolvimento regional e geração de empregos não podem se sobrepor a esse dado técnico fundamental. “Esses argumentos são menores diante do impacto climático real”, observou.

Para ele, há um falso dilema entre soberania e destruição ambiental. Horta afirmou que o Brasil pode e deve buscar autonomia energética, mas de forma sustentável, sem reproduzir o modelo predatório adotado historicamente por grandes potências. Ele defende que o país tem vantagens estratégicas — como a matriz energética mais limpa entre as economias emergentes e o potencial das fontes renováveis — para liderar uma transição justa, baseada em ciência e planejamento de longo prazo.

“O Brasil precisa, sim, fazer essa transição energética. O Brasil está talvez entre os países mais bem colocados para isso”, disse.  “A questão é: queremos sair dessa condição de sociedade baseada na queima do carbono? Porque não há mais condições de seguir assim.”

Horta também ressaltou que insistir em um modelo dependente de combustíveis fósseis coloca o país em uma rota de contradições políticas e diplomáticas.

“Não é possível você concatenar um discurso pró-defesa do meio ambiente em conferências internacionais e, ao mesmo tempo, permitir a exploração de petróleo na parte norte do Brasil”, criticou.

Artigos Relacionados