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A vida constrangedora no reino de Cachoeira

O Gois 247 lista algumas s dez, mas poderiam ser mais das muitas passagens em que as conversas telefnicas colocam a nu os polticos na relao nada republicana com o contraventor Cachoeira. Tem cada uma...

A vida constrangedora no reino de Cachoeira (Foto: Folhapress)
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Goiás 247 – O tema certamente não é de dar risada. Entre vítimas, como o povo goiano, e os envolvidos, ninguém em sã consciência deve achar engraçado o rol de revelações que os grampos telefônicos da Polícia Federal revelou através da Operação Monte Carlo, que evidenciou ao Brasil o extenso volume de negócios de Carlos Cachoeira dentro da política brasileira, através da Delta Construções.

No entanto, através da intimidade das relações – sempre negadas em um primeiro momento – é possível, sim, encontrar passagem que se tangenciam o humor, também acertam em cheio o constrangimento na carreira ilibada de políticos que sempre se postaram para a população como referências em lisura e honestidade.

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O Goiás 247 lista algumas das inúmeras passagens em que as conversas telefônicas revelam para além da verdade do que são os políticos e como eles agem com o contraventor Cachoeira, de forma direta ou indireta.

1. Leréia em Paris

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Poucos políticos gozavam de tanta intimidade e informalidade na sua relação pessoal com o Carlos Cachoeira como o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO). Depois de assumir sua amizade e seu conhecimento das atividades do amigo preso desde 29 de fevereiro, Lereia foi lido e ouvido em diversos grampos da PF. Alguns realmente engraçados. O mais notório deles certamente foi a sua viagem oficial a Paris, ao lado de outro deputado envolvido no caso, deputado-ator goiano Stepan Nercessian (PPS-RJ).

Leréia em passeio pela cidade-luz resolve ligar para Cachoeira. Para dar o tom de onde está e brincar com o amigo, ao invés de dizer o tradicional ‘alô’ telefônico ou dar um bom dia, vai além, escolhe a língua de Sartre para saudar o contraventor. “Bonjour, monsieur”, diz um sofisticado Leréia.

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Cachoeira, sabendo que o amigo não é destas praias, rebate em tom de deboche, já imaginando o porque de tanto francês na ligação: “Tá de fogo, Leréia”, diz Carlinho, insinuando que àquela hora Leréia estaria alcoolizado em plena missão oficial.

2. Faca no Pescoço

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O vereador goianiense Santana Gomes (PSD) aparece duplamente nesta lista. É autor de passagens, no mínimo, curiosas na sua relação com o contraventor. Em uma conversa feita via rádio, Cachoeira não entende o que seu interlocutor diz. Santana brinca com o contraventor e emenda: “Você num entende direito não? Você é surdo?”. Cachoeira dispara: “Olha a faca no pescoço, neguinho. Segura o dedo no trem (sobre o rádio)...”.

Se teve ou não faca no pescoço, nem a PF conseguiu revelar.

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3. Mundo do Crime

Outra de Santana Gomes. Novo diálogo com Carlos Cachoeira e o contraventor pede que Santana Gomes não saia por aí comentando o que estão debatendo em segredo. No caso, a candidatura de Demóstenes, os rolos com empreiteiras e até mesmo a atração de políticos para o grupo de Marconi e Demóstenes, visando a eleição municipal de 2012. Eis que o vereador tranquiliza Cachoeira com a seguinte pérola. “Sobrevivi até hoje nesse mundo do crime porque eu sei preservar as situações importantes”.

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Sem mais.

4. O Boca do Inferno

Gregório de Matos, poeta baiano considerado o maior dos barrocos brasileiros, foi apelidado de Boca do Inferno. Tudo por conta da sua construção poética satírica, despejando críticas a políticos e personalidades de sua época. Ninguém escapava de Mattos na realidade soteropolitana do século XVII. Ligado à erudição, o senador Demóstenes Torres (sem partidos) um dos mais enrolados com o esquema de Cachoeira, pode ser considerado a reedição de Gregório de Matos. Isto porque nas gravações da PF simplesmente ninguém escapa da língua feérica de Torres. Principalmente um dos principais alvos de comentários entre ele e Cachoeira: o governador Marconi Perillo.

Para forçar a realização de obras e negócios do grupo com o governo através da Delta, Demostenes Torres atribui comentários poucos elogiosos a Perillo. Entre eles, pede que Cachoeira dê um “costeio nele” porque é um “vigarista”, um “inconfiável”. Em outra oportunidade, na falta de novos adjetivos, recorre ao sacrilégio cristão, e considera Perillo um “excomungado”.

É bom lembrar que não é a primeira vez que Torres mira seu cabedal e xingamentos a Perillo. Em 2006, em entrevista, Marconi classificou o senador de “inconfiável, desprovido de caráter, traidor, leviano e com uma mente doentia”. Demóstenes, então, respondeu, classificando Perillo de “analfabeto, vagabundo, maloqueiro e ladrão”. Pelo menos, oito anos depois, Demostenes não pode ser chamado de incoerente: continua achando as mesmas coisas de Perillo.

5. Festinha

Negando peremptoriamente relações íntimas com Carlos Cachoeira, o governador de Goiás, Marconi Perillo foi traído pela própria informalidade. Em gravações da PF por conta da festa de aniversário de Cachoeira, Perillo saúda o, segundo ele, “não-amigo” de “Liderança”. E mais a frente, entrega a verdadeira relação que tem com Cachoeira, ao perguntar-lhe: “Rapaz, vocês faz festa e não chama os amigos”?

Pano rápido.

6. Geladeira e fogão. Só.

Demóstenes Torres foi a primeira vítima do chamado grampo seletivo. À primeira fumaça de confusão, quando disseram que ele teria sido flagrado em conversas suspeitas com um bicheiro de Goiás, Torres se antecipou e, no Senado, assim como em entrevistas diversas, considerou. “Só ganhei uma geladeira e um fogão. E mesmo assim foi um presente de casamento, não tinha como devolver”. Menos de dois meses depois, reportagens baseadas nas mesmas gravações apontam que talvez Torres tenha se esquecido de citar os R$ 3,1 milhões separados para ele, por conta de serviços prestados no esquema.

7. Sem noção

Viagem de assessores de Cachoeira aos Estados Unidos. A chance para um apreciador de vinhos como Demostenes conseguir bons rótulos por preços mais em conta. Mais em conta, entenda-se uma garrafa que aqui custa em média R$ 30 mil, lá sairia por R$ 25 mil. Gleyb Ferreira está nos EUA e encontra o rótulo de Torres. Informa que tem cinco unidade na loja e ouve do senador para comprar todas elas. “Passa o cartão do nosso amigo que depois a gente vê”, emenda. Gleyb faz a milionária compra de vinhos e, depois comenta com Geovani da Silva. “Rapaz, cada garrafa custa R$ 30 mil aí. Esses caras perderam a noção...”.

8. Quem colocou Marconi lá?

Debate duro entre o apaniguado de Cachoeira e então presidente do Detran Edivaldo Cardoso e seu padrinho. O tema: as cotas de publicidade do órgão. Cachoeira quer que saia do plano de mídia o jornal O Anápolis (segundo ele, que fez oposição a Marconi) e que seja reduzida a cota de outro, Tribuna de Anápolis, e que sua verba excedente seja direcionada ao seu periódico em Anápolis, “Jornal do Estado de Goiás”. Para justificar sua ordem, Cachoeira é taxativo com o afilhado no Detran: “Rapaz, fomos nós que colocamos o Marconi lá. Tem que vir mais pra gente mesmo”.

9. O chefe? Quem? O governador?

Ainda persistem as tentativas de alguns envolvidos em negar a intimidade com o esquema de Cachoeira. Entre eles, o governador de Goiás, Marconi Perillo, e o dono da Delta, Fernando Cavendish. No entanto, em um dos diálogos revelados envolvendo o ex-diretor da empresa no Centro-Oeste, Claudio Abreu, ambos aparecem sendo citados como sendo “o chefe”.

Cláudio, diante de um impasse na definição de alguma estratégia da organização, pergunta a Cachoeira: “E aí, você então quer falar com o chefe?”. O contraventor, por sua vez, sem entender de qual dos dois chefe se refere Abreu, responde: “Quem, o governador?”. Abreu conserta: “Não, o Fernando”.

10. Conversas Franciscanas

Não, por acaso, para fechar esta lista está a fala do deputado federal Sandes Junior (PP-GO). Logo no início das investigações, iniciadas após a prisão de Cachoeira, o deputado que foi flagrado pedindo dinheiro para diversas situações, inclusive para uma pesquisa eleitoral, afirma de forma categórica em entrevista: “Mantive várias conversas com Carlinhos. Ele gosta muito de política. Mas em todas, tivemos um tom de análise. Posso considerar inclusive que foram conversas franciscanas”.

Deis meses depois, com o nome envolvido em diversas negociações e relações pouco católicas, o deputado emenda outro comentário sobre sua participação: “É tudo brincadeira”.

Se for mesmo, o povo brasileiro até o momento ainda não achou nenhuma graça em tudo isto.

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