Agitação noturna. Como evitar e tratar os distúrbios de parasomnia
Você sofre de parasomnia sem o saber? Sim, se você apresenta comportamentos psicomotores anormais durante a fase de adormecimento, durante o sono ou nos períodos de adormecimento parcial. As parasomnias do sono lento profundo – presentes sobretudo na primeira parte da noite e em pessoas jovens – reagrupam o sonambulismo, os terrores noturnos e o despertar em estado confusional.
Por Nathalie Szapiro-Manoukian: Le Figaro
Sofrer de parasomnia não representa nada de extraordinário na infância: “Cerca de 25% dos indivíduos com menos de dez anos de idade viveram pelo menos um episódio do distúrbio ao longo da vida. Mas quando tais perturbações persistem após os 10-12 anos, é preciso buscar ajuda especializada. Até 4% dos adultos seriam sonâmbulos, com uma grande variedade da frequência, duração e intensidade dos episódios. Apenas 1% dessas pessoas buscam ajuda terapêutica”, explica o professor Yves Dauvilliers, chefe da unidade de problemas do sono no Hospital Gui-de-Chauliac, em Montpellier.
O estudo do sonambulismo é de grande interesse para os especialistas, pois ele prova que o cérebro não adormece na sua totalidade como se pensava outrora, mas que o sono é regional, variável segundo as diferentes zonas cerebrais. “No sonambulismo, o córtex motor está muito ativado, ao mesmo tempo em que as áreas dedicadas à consciência permanecem adormecidas. É isso que possibilita um comportamento motor, mas sem que o sonâmbulo saiba o que está fazendo”, continua Dauvilliers. Explica como um sonâmbulo possa deambular, e às vezes se ferir se o ambiente onde se encontra oferece algum tipo de risco (acesso a uma escada, janelas, etc). Ele pode sofrer uma fratura e até cometer algum delito (roubo, violação sexual, etc) e chegar ao ponto de matar sem acordar e sem ter a menor lembrança dos atos cometidos na véspera.
Confirmar o diagnóstico
Embora tais casos sejam excepcionais e exijam uma enquete minuciosa para que o distúrbio seja comprovado, cerca de 60 mortes nos últimos anos em todo o mundo foram atribuídas a um episódio de parasomnia. Além disso, existem formas “especializadas” de parasomnia: alguns sonâmbulos são vítimas de sexsomnia (três vezes mais frequente em homens do que em mulheres). “Eles manifestam uma atividade sexual (masturbação, penetração) durante o sono lento profundo e ao acordar não têm a menor lembrança disso. É sempre, portanto, uma terceira pessoa que narra o ocorrido. Certos sexsomníacos podem passar por obsessivos sexuais e desenvolver um forte sentimento de culpa a respeito, embora eles não sejam responsáveis pelo que fizeram. No passado, em vários casos dramáticos nos quais a pessoa que sofreu a investida sexual não tinha dado o seu consentimento, o episódio de sexsomnia foi considerado uma violação. “Antes de 2014, nos estados Unidos, quando a Academia Americana de Medicina do Sono reconheceu oficialmente a sexsomnia como sendo uma modalidade de parasomnia, algumas pessoas foram parar na cadeia e cumpriram pena por esse motivo”, lembra a doutora Catherine Solano, sexóloga e autora do livro Trois Cerveaux Sexuels (Três Cérebros Sexuais), Editora Robert Laffont.
Os distúrbios do comportamento alimentar noturno também fazem parte do rol de afecções da parasomnia. Menos frequentes, eles se traduzem pelo consumo de alimentos não cozidos ou preparados (conservas frias, por exemplo), ou inapropriados (manteiga), ou de produtos não alimentares (produtos de limpeza, detergentes), com o risco de lesão em caso de ingestão de um produto tóxico, etc.
“A consulta médica, de preferência feita em algum centro de referência, objetiva confirmar o diagnóstico. Ele se torna mais fácil se alguma testemunha que presenciou a cena venha contar o que viu”, explica o médico Régis Lopez, da unidade de distúrbios do sono do Hospital Gui-de-Chauliac, de Montpellier. “A gravação em vídeo do sono do adulto é necessária pois ela permite estabelecer a diferença com outros distúrbios, por exemplo uma crise de epilepsia frontal que pode mimar um episódio de parasomnia. Mas, no caso da epilepsia frontal, as crises são quase sempre idênticas e o eletroencefalograma é capaz de revelar as anomalias típica dessa moléstia”.
Reticência a consultar um médico
Embora o diagnóstico raramente represente um problema, muitos sonâmbulos adolescentes ou adultos não se preocupam em consultar um especialista, seja porque pensam que não se trata de um problema grave, seja porque estimam que não há nada a fazer. Mas isso é falso! “As pessoas que manifestaram parasomnias violentas apresentam frequentes recidivas. Mas existem tratamentos a fim de diminuir fortemente o seu sono lento profundo e, desse modo, diminuir os riscos de parasomnia”, observa o dr. Dauvilliers. Embora a pista genética seja provável, pelo menos um antecedente familiar costuma ser encontrado na metade dos casos. A higiene de vida é também primordial: o álcool e o débito de sono devem ser evitados. “Idem para os sexsomníacos: eles não devem beber álcool à noite e devem evitar ir dormir mais tarde que de costume (dois fatores de risco que favorecem a ocorrência de um novo episódio). Além disso, jamais deve dormir com uma criança ou um adolescente: é questão de segurança. O cônjuge, por seu lado, deve aprender a gerir a situação, pois na maioria dos casos o sexsomníaco se mostra dócil e volta a dormir normalmente quando é rejeitado. E resta sempre a solução de dormir em uma cama separada ou em um outro quarto”, insiste o dr. Solano.
Enfim, se é importante evitar fazer mal aos outros, também é essencial preservar a si próprio. Isso significa adotar medidas ditadas pelo bom senso: nada de camas situadas em mezaninos, janelas fechadas com cadeados, porta do quarto bem fechada a chave, nenhum objeto contundente ao alcance da mão.
