Alckmin quebra o imobilismo
Governador de São Paulo muda o jogo no apagar das luzes de 2012; após ver seus índices de popularidade declinarem, descruzou os braços: muda a cúpula da Segurança Pública, ensaia uma política de atenção social ampliando para 35% a cota racial de acesso às universidades estaduais e, ao cogitar José Serra para seu primeiro escalão de governo, busca neutralizar um mico e ganhar um curinga frente ao presidenciável tucano Aécio Neves; Alckmin conseguirá se reerguer?
247 – Discreto e bom de voto, o governador Geraldo Alckmin viu, ao longo deste ano, sua primeira característica prejudicar a segunda. A passividade com que encarou a crise na segurança pública de São Paulo, representada na explosão de assassinatos em série na capital e arredores, lhe custou, segundo apuração de pesquias de opiniões, pontos importantes no quesito popularidade. Até na mídia tradicional, em cujas páginas jamais foi incomodado, Alckmin passou a perceber uma oposição crescente. Era preciso fazer algo, mas até o último momento ele próprio se negava am mexer no time que estava perdendo.
Na segurança, a situação ficou insustentável quando o ex-secretário Antonio Ferreira Pinto insistiu, contra todas as evidências, em negar a existência de uma grande organização criminosa no Estado, enquanto civis morriam carbonizados em ônibus incendiados pelos chamados 'soldados do PCC'. Na terceira semana de novembro, o governador finalmente substituiu seu homem de confiança pelo ex-promotor Fernando Grella. Em seguida, escalou para o cargo delegado-geral Luiz Maurício Blazeck e, para completar a troca, posicionou o coronel Benedito Roberto Meira no comando da Polícia Militar. Paulatinamente, esse trinca vai promovendo mexidas estratégicas nas duas corporações, com o objetivo de aumentar a colaboração entre elas – bastante escasssa até aqui.
Tomando para si uma bandeira cara à esquerda, Alckmin resolveu radicalizar no estabelecimento de cotas raciais para acesso às universidades públicas estaduais. Levantou para 35%, no Estado, a porção de vagas destinadas a negros no quadro de acesso à universidade. Pode parecer pouco, mas para um político considerado conservador, o movimento indica que ele pretende lançar mão, cada vez mais, de gestos de repercussão, de modo a não sucumbir no noticiário diante das frequentes aparições do senador e ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves.
O lançamento da candidatura presidencial de Aécio pelo ex-presidente Fernando Henrique colheu Alckmin de surpresa. Ele gostaria de um jogo mais lento, com uma definição mais à última hora. Precisou, então, reagir. O chamado a José Serra para ocupar a Secretaria de Saúde, divulgado nesta sexta-feira 21, representa uma barreira erguida pelo governador para conter os avanços de Aécio sob as bençãos de FHC. Caso Serra aceite, estará de volta ao jogo, chefe de uma poderosa máquina para mostrar serviço. Sua presença em posição de mando só aumentará a atual falta de consenso no PSDB em torno de um candidato a presidente para 2014 tende a se ampliar.
Alckmin, é certo, está-se reforçando. E o timming da escolha de um nome no partido para 2014 tende a ser bem mais lento do que queria FHC, apressado em lançar Aécio já em novembro. O próprio Aécio, que gostaria de uma definição a seu favor já no início do próximo ano, terá de pensar duas vezes. Afinal, Serra, seu grande adversário partidário, podetá estar de volta às atenções da mídia e, a depender dos ecos de seu trabalho na Saúde, passa a ter mais chances de reivindicar para si mesmo um posto chave nas próximas eleições.
Ao trazer a carta Serra de volta para o seu baralho, Alckmin busca neutralizar o que poderia ser um mico e, ao mesmo tempo, ganhar um curinga.
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