Antrax. Bactéria escapa do solo siberiano e já provocou uma morte
A subida da temperatura na região siberiana acarretou o despertar de uma bactéria mortal, presente no solo congelado há 75 anos.
Por: Cécile Thibert – Le Figaro
Um acontecimento do gênero não fora assinalado desde 1941: a “doença do carvão”, o antrax, causou a morte de uma criança e contaminou 21 pessoas na localidade de Iamalo-Nénétsie, um distrito autônomo do Grande Norte russo, acabam de relatar as autoridades locais.
Causada pela bactéria Bacillus anthracis, o antrax pode se manifestar sob três formas diferentes: cutânea, pulmonar ou intestinal. O garoto de 12 anos, que pertencia a uma família de criadores de renas, morreu no sábado, 6 de agosto, vitimado pela forma intestinal da doença, caracterizada pela febre alta, dores de estômago, diarreia e vômitos. Tudo indica que ele foi contaminado após comer carne de rena infectada pela bactéria mortal. Se a infecção for tratada logo no nício, ela pode ser controlada por antibióticos. Dois terços das 20 pessoas infectadas contraíram a forma cutânea da doença, mais fácil de tratar, enquanto seis pacientes foram, como o menino que faleceu, atingidos pela forma intestinal, a mais grave.
Fortes temperaturas
Segundo as autoridades, a epidemia foi desencadeada por causa das mudanças climáticas. Mês passado, a região conheceu temperaturas muito altas, completamente anormais, chegando aos 35 graus centígrados, contra os 17 graus normais nesta estação. Como consequência, o permafrost, uma camada de terra cuja temperatura habitualmente nunca supera o limite de zero grau centígrado, fundiu, liberando bactérias congeladas na forma de esporos há dezenas de anos. Os esporos constituem uma fase do ciclo de vida das bactérias, que lhes permite sobreviver várias dezenas de anos em ambientes desfavoráveis, tanto no solo quanto na lã ou no pelo do animal infectado.
As temperaturas nessa região da Sibéria são normalmente muito baixas. Mas subiram a 35 graus neste verão, derretendo o solo congelando e liberando as bactérias do antrax.
O antrax afeta sobretudo os animais, mas atinge também o homem. No total, mais de 2300 renas pertencentes aos rebanhos da região foram mortas após comerem vegetais infectados. A transmissão do animal doente para o homem pode ocorrer de diversos modos: por contato direto com a pele, por inalação de esporos ou pela ingestão de alimentos contaminados, notadamente a carne mal passada. Não existe, no entanto, nenhum caso documentado de transmissão do homem para o homem. Todas as pessoas infectadas no decorrer da semana passada pertencem à tribo nômade dos Iamalo-Nénétsie, que vivem em uma região situada a 2 mil quilômetros a nordeste de Moscou. Segundo o jornal Siberian Times, 90 pessoas foram hospitalizadas a título preventivo, das quais 54 são crianças, a fim de passar por exames complementares a Salekhard, a capital do distrito.
Quarentena siberiana
A região, cuja superfície é superior à da França, foi posta em quarentena. A governadora do distrito, Natalya Khlopunova informou que todas as renas da região encontram-se agora vacinadas e que as mortes cessaram. “A grande maioria dos nômades que vivem no território também gozam de boa saúde, ela acrescentou. Mas os médicos lhes proporcionaram um tratamento preventivo. Aqueles que foram infectados na forma intestinal têm ainda um prognóstico vital reservado, conta o jornal The Siberian Times. Expertos militares mforam enviados à região para realizar testes no local e para incinerar os cadávers dos animais mortos. Como o principal risco de propagar a doença é ligado à carne infectada, o governo regional decidiu proibir a exportação de toda carne, couro e derivados do leite de rena.
O antrax tira seu nome da palavra grega que significa carvão, referindo-se às placas negras que se formam na pela das pessoas atingidas. A doença subsiste na maior parte dos países da África sub-saariana, em vários países da Europa do Sul, nas Américas e em certas regiões da Austrália.
Com o aquecimento climático, o permafrost siberiano começa a desvelar sua coleção sinistra de micróbios aprisionados no gelo há dezenas de anos, talvez até mesmo milhares de anos. Assim, em setembro 2015, uma equipe de cientistas franceses já anunciara a descoberta de um vírus gigantes de um gênero totalmente desconhecido. Tal vírus foi reativado após um dormência que durou mais de 30 mil anos!
