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Arena da Amazônia recebe ajuda de haitianos

Conheça a história de operários do estádio de Manaus para a Copa que deixaram o país caribenho em busca de trabalho e melhores condições de vida

Arena da Amazônia recebe ajuda de haitianos (Foto: Glauber Queiroz/ME)
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Gabriel Fialho _Portal da Copa - As construções e reformas dos estádios da Copa de 2014 também são uma oportunidade de trabalho para quem vive fora do Brasil. Um exemplo é a Arena da Amazônia, em Manaus, que conta com 18 haitianos no canteiro de obras. Quatro deles com histórias bem parecidas: sofreram com o terremoto que devastou o país em janeiro de 2010, não conseguiram emprego fixo após o desastre e deixaram a capital, Porto Príncipe, em busca de uma vida melhor. Hoje têm carteira assinada, vivem de aluguel e podem ajudar os parentes.

Mardoche Jean, Cebien Dorce, Makenson Alcine e Guy Moliere têm um roteiro comum de viagem até desembarcarem na capital amazonense. Saíram do Haiti, com escala no Panamá, ficaram alguns meses no Equador e no Peru buscando trabalho e de lá foram a Tabatinga (AM), na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Ali ficaram alguns meses, até chegarem de barco a Manaus e conseguirem emprego na Arena da Amazônia.

"Saí depois do problema que o Haiti está passando. As casas caíram, muitas pessoas morreram e há problemas de economia, de emprego. Saí de Porto Príncipe em janeiro, entrei no Panamá e depois no Equador. Fiquei cinco meses lá, mas a situação não estava boa. Fui para Lima e Tabatinga. Até que algumas pessoas e o governo nos ajudaram e viemos a Manaus", relata Cebien Dorce.

Armador admitido na construção da Arena da Amazônia em junho de 2012, ele ficou sabendo da vaga a partir de um anúncio no jornal. Dorce perdeu a mãe e a casa em que vivia durante o tremor. Os irmãos ficaram em Porto Príncipe. "Estão reconstruindo o país somente agora. Quem tem dinheiro não está sofrendo. Para mim está melhor aqui. Consigo ajudar minha família. Mando o dinheiro direto pelo banco e de 15 minutos a 20 minutos está lá".

Compatriota e colega de Dorce na obra, Mardoche Jean avalia que o Brasil se tornou um refúgio para muitos. "Lá eu trabalhei com táxi, em fábricas, mas não era todo dia que tinha trabalho. Aqui no Brasil a gente tem sempre. Eu vim e mando dinheiro para minha família. Dou dinheiro para o tio, o primo e eles vivem melhor".

A trilha do também armador Makenson Alcine, 28 anos, é similar. Ele conseguiu uma passagem de avião para o Equador graças ao dinheiro enviado pelo pai. Passou por Lima e Tabatinga antes de se estabelecer na capital amazonense. Foi admitido nas obras do estádio que receberá quatro jogos da Copa do Mundo de 2014 em fevereiro de 2011. "Meu futuro é aqui", resumiu.

Residência Permanente

O Conselho Nacional de Imigração, vinculado ao Ministério do Trabalho, concedeu autorização de permanência aos haitianos que chegaram ao país depois do terremoto de janeiro de 2010 e solicitaram refúgio. Apesar das convenções internacionais não reconhecerem refúgio para desastres naturais, o Brasil tomou a medida que dá direito a eles de retirarem carteira de identidade estrangeira e, assim, poderem trabalhar, abrir conta bancária e obter outros benefícios.

No primeiro semestre deste ano, foram 2.311 autorizações concedidas ao Haiti, sendo 2.154 de caráter humanitário. O país é o segundo da lista, atrás apenas dos Estados Unidos. Desse total, 1.319 autorizações foram para o estado do Amazonas, de acordo com relatório publicado pelo Conselho Nacional de Imigração.

Com carteira assinada, direitos trabalhistas e salário que possibilita o pagamento de aluguel em Manaus, Mardoche conta que pretende viver muitos anos no Brasil. "Vou passar um mês de férias no Haiti e volto. Gosto daqui e do trabalho". Servente na construção do estádio desde junho de 2012, ele completou 22 anos em 1° de setembro.

Guy Moliere, 30 anos, também tem a intenção de voltar para o Haiti somente para passar férias. Ele foi contratado em junho como armador. "Fico um mês lá e volto para trabalhar e ajudar a família". Quando perguntado se pretendia se casar com uma brasileira, respondeu: "Não, com uma haitiana mesmo". Opinião diferente tem Dorce. "Se Deus quiser vou me casar com uma brasileira, já que gosto do Brasil".

Convivência

O líder deles na obra, Horácio Almeida, elogia o empenho dos haitianos e a convivência no trabalho. "Eles são respeitadores, trabalhadores. Tudo o que se pede, eles fazem. Estão aqui buscando oportunidade". Algumas vezes, a comunicação se dá por meio de gestos, já que eles ainda estão aprendendo o português. Complicado, para os brasileiros, é quando resolvem conversar entre si. "Aí a gente não entende nada", sorri Almeida.

 

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