Às portas do cume: como uma escalada de inverno virou caso de polícia na Áustria
Investigadores analisaram celulares, fotos, vídeos e dados de relógios esportivos para reconstruir a cronologia do caso.
247 - O caso que envolve a morte da austríaca Kerstin Gurtner, de 33 anos, continua a ganhar contornos dramáticos. Novas revelações sobre a noite em que ela morreu congelada no pico Grossglockner, o mais alto da Áustria, reforçam as acusações contra seu namorado, o alpinista Thomas Plamberber, de 36 anos. Ele responde por homicídio culposo e negligência grave e pode pegar até três anos de prisão.
Segundo reportagem do jornal espanhol El País, Plamberber recusou o resgate por helicóptero oferecido por equipes de salvamento por volta das 22h do dia 18 de janeiro, mesmo diante das condições extremas. Àquela altura, rajadas de vento alcançavam 70 km/h, com sensação térmica próxima de -20°C. Kerstin, inexperiente em escaladas de alta montanha, já apresentava sinais de exaustão.
Escalada em condições extremas
O casal iniciou a ascensão às 6h45 e chegou, no início da tarde, a apenas 250 metros do cume do Grossglockner, que tem 3.799 metros de altitude. Trata-se do trecho mais difícil da rota, o que atrasou o avanço. Quando anoiteceu, equipes de resgate localizaram o casal graças às luzes de suas lanternas e enviaram um helicóptero.
Plamberber, no entanto, decidiu permanecer na trilha. Em depoimento, afirmou que naquele momento ambos estavam “bem”, mas que “pouco depois” Kerstin deu sinais de desgaste grave.
Falhas de comunicação e demora no pedido de socorro
As autoridades apontam que Plamberber não respondeu mensagens nem ligações dos serviços de resgate durante a noite. Ele afirmou à polícia que o celular “estava no silencioso”. O primeiro contato efetivo ocorreu apenas às 00h30, quando já não havia condições meteorológicas para um resgate aéreo.
Com isso, o resgate teve de ser iniciado a pé. Investigadores relataram que o alpinista permaneceu com Kerstin até cerca das 2h, quando se afastou para procurar outras pessoas na trilha. Um novo pedido de ajuda foi feito apenas às 3h40.
A jovem foi encontrada morta na manhã seguinte, por volta das 10h, a poucos metros do cume. A causa da morte foi hipotermia.
Equipamentos inadequados e falta de proteção
Promotores afirmam que Kerstin tentou o trecho final sem o equipamento apropriado: usava botas inadequadas e uma prancha de snowboard dividida. Além disso, o casal não levava kit de emergência, como cobertores térmicos, essenciais em escaladas de inverno.
Investigadores analisaram celulares, fotos, vídeos e dados de relógios esportivos para reconstruir a cronologia do caso. O Ministério Público afirma que Plamberber não tomou medidas mínimas de proteção para manter a namorada aquecida enquanto aguardavam ajuda.
Defesa fala em tragédia
O advogado do alpinista, Kurt Jelinek, declarou que seu cliente “lamenta profundamente” o ocorrido e que a defesa encara o episódio como “um acidente trágico e fatídico”. O julgamento de Plamberber está marcado para 19 de fevereiro de 2026, no Tribunal Regional de Innsbruck.
A investigação continua em andamento, e novas evidências devem ser apresentadas na audiência.
