Bernardinho sobre o Partido Novo: ‘não vou levantar bandeirinha’
Medalhista olímpico e colecionador de campeonatos mundiais, enquanto esteve à frente das seleções brasileiras de vôlei feminino e masculino, Bernardinho, filiado ao Partido Novo, diz que prefere não “erguer bandeiras”, mas falar de projetos e pessoas; "Eu não vou levantar bandeirinha e ficar 'atenção, é isso aqui'. Não. Nós acreditamos nisso e vou falar naquilo que acredito"; questionado sobre o que o partido tem de novo, ele disse que "existem tantas coisas novas"; e sobre o PSDB, declarou: "Acho que todos nós nos decepcionamos com algo"
Fernanda Canofre, Sul 21 - O Bernardinho que entrou na sala de imprensa improvisada da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amirgs), em Porto Alegre, nesta terça-feira (13), lembrava pouco o Bernardinho que conquistou quatro medalhas de ouro em Olimpíadas e colecionou títulos de campeonatos mundiais, enquanto esteve à frente das seleções brasileiras de vôlei feminino e masculino. De camisa xadrez, óculos de grau e falando mais baixo do que o tom que costumava usar nas quadras, na capital gaúcha, Bernardo Rocha de Rezende cumpria o papel de ser porta-voz do Partido Novo, ao qual se filiou em janeiro do ano passado, depois de sair do PSDB.
A filiação de Bernardinho à sigla conhecida pela linha neoliberal e por ser fundada por “pessoas sem carreira política” só veio a público este ano, quando o PSDB do Rio de Janeiro atualizou a lista de filiados e descobriu que o ex-técnico da seleção já não estava mais em seu quadro. Bernardinho havia se filiado aos tucanos em 2013, depois de um convite do amigo Aécio Neves. Em 2014, ele chegou a gravar depoimentos em vídeo para a campanha à presidência do mineiro. No começo do ano, quando Bernardinho anunciou a aposentadoria da seleção de vôlei, o senador afastado também o homenageou em uma página nas redes sociais.
Foi Aécio quem sugeriu e insistiu para que Bernardinho se candidatasse ao governo do Rio em 2014. Mas, segundo ele, não era o momento. Agora, se acontecer, será com a legenda criada para ser uma novidade em tempos de crise de representação política. E é sobre ela que Bernardinho tem viajado pelo país para falar. Nas eleições do ano passado, quando estreou, o Novo conseguiu eleger vereadores em quatro das cinco capitais onde concorreu: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre (onde elegeu Felipe Camozzato). Só não conquistou cadeiras em Curitiba.
Mesmo filiado a um partido e em um evento onde a maioria das pessoas desfilavam com camisetas alaranjadas, balões e o número 30, Bernardinho diz que prefere não “erguer bandeiras”, mas falar de projetos e pessoas. Na noite desta terça, depois da exibição de uma reportagem da TV Globo, relembrando sua carreira com depoimentos de amigos, colegas e atletas, começou parafraseando Platão e disse, para a plateia de 600 pessoas, que pagaram ingressos de R$ 100 a R$ 120 para ouvi-lo: “Se as pessoas do bem, competentes, não se envolverem na política, que faz parte da vida em sociedade, vamos continuar a ser comandados e governados por pessoas diferentes”.
Lembrando que não existem “salvadores da pátria”, ele citou o empresário gaúcho Jorge Gerdau Johannpeter e lembrou de uma palestra dele que assistiu há alguns anos, falando que sua geração havia falhado porque não ensinou os filhos a empreender e sim a pensar em ir embora do Brasil. “Nós temos que pensar nisso, na nossa responsabilidade, em eleger nossos representantes e cobrar deles efetivamente. É controlar essa reflexão, é um questionamento de vida sobre um questionador permanente e um auto-questionador. Todo questionamento provoca uma mudança, uma mudança de postura, uma mudança de qualquer coisa. Questionamentos provocam mudanças que provocam crescimento”, afirmou Bernardinho.
Pouco antes de entrar no palco, o ex-técnico falou rapidamente com o Sul21 sobre o que espera da política e do Novo:
Sul21: Tu te filiaste ao PSDB em 2013. O que te levou, num momento em que se fala tanto em crise de representação, a buscar filiação a um partido?
Bernardinho: Na verdade, até me perguntaram isso, fui muito criticado porque mudei de partido, como se tivesse acontecido agora, como se fosse um oportunismo. O que não é verdade. O que aconteceu foi que o senador Aécio Neves junto com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, me convidaram para uma reunião como parte de um projeto em 2014, para me candidatar ao governo do Rio de Janeiro. Conversamos muito, eu não me sentia capaz, não me sentia pronto, também estava em um projeto olímpico de 2016, uma série de questões familiares também. Eles disseram, “pensa um pouco mais” . Nós estávamos em setembro de 2013, as eleições aconteceram em outubro de 2014 e eu precisava ter um ano de filiado para poder me candidatar. Então, na realidade, a filiação acontece como uma defesa para, no caso de eu querer me candidatar, ter tido essa condição legal. Não me filiei porque “ah, sou um peessedebista”. Me filiei porque eu acreditava naquelas pessoas e foi o meu voto. Eu votei no Aécio e não na Dilma. Acho que todos nós nos decepcionamos com algo, não importa. Mas naquele momento, essa era a ideia. Logo depois, meses depois, eu fui a Brasília e disse que não me candidataria. No final de 2014, quando conheci o Novo, o projeto, as ideias, comecei a
Sul21: Por que tu escolheste o Partido Novo e o que ele tem de novo?
Bernardinho: Ele tem tantas coisas novas… Mas o que eu acho que é mais importante é pessoas como protagonistas de transformação, não o Estado como fermentador de tudo. O Estado buscar eficiência dentro daquilo que é realmente importante, que diz respeito, digamos, aquilo que realmente é responsabilidade do Estado. Não o Estado se meter em tudo na vida das pessoas. É a questão do mérito. É a questão de você falar em projetos, acreditar na capacitação de pessoas, enfim, não criarmos essa questão dos políticos profissionais. Pessoas que vêm dar uma contribuição como tal e não vão se perpetuar naquilo. O mandato não é do mandatário, é do partido. Quer dizer, é uma ideia por trás disso. Existem tantas coisas interessantes novas, uma construção tão bem feita de um ideal diferente. As ideias serão debatidas, você pode discutir alguns temas que são obviamente muito complexos, mas os respeitos aos valores fundamentais, nisso eu sou totalmente engajado e alinhado com eles. É o conhecer as pessoas, conversar sobre os projetos, é o que eu quero apoiar. Comecei a apoiar, ao começar a apoiar me filiei, no sentido de apoiar, sem divulgar, sem nada. Recentemente é que veio à tona tudo isso. Até porque, eu sou do esporte e esporte vive de patrocínios. Quando você se declara alguma coisa, muitas vezes as pessoas vem, “então, não quero”.
Sul21: Te prejudicou essa questão de estar filiado a um partido político?
Bernardinho: Prejudicou. É aquela história. Criou-se uma versão, a vida política, as pessoas da vida política, isso é fato. Então, muitas pessoas têm um certo receio. Se eu me envolvo com alguém que está envolvido com alguma coisa, de repente vão querer prejudicar a minha empresa ou o que quer que seja ou se acontece algum escândalo, como aconteceu recentemente em tantos partidos, isso pode ser associado à minha empresa. Eu entendo a preocupação dessas empresas. Só que em toda atividade há risco. O importante é que a gente, ao acreditar em alguma coisa, se ficarmos apenas buscando apenas a conveniência do conforto do momento… Nós temos que fazer o que é certo. Se eu acredito que aquilo é certo, vou estar fazendo o certo. Se eles fizeram alguma coisa errada, e eles sabem disso, eu vou contra eles. Mas isso não vai acontecer porque todos nós temos essa postura. Acho que é um pouco o porquê disso e o porquê dessa escolha. A minha vinda aqui hoje não é para evangelizar as pessoas em relação a isso. É para convidá-las a uma reflexão, para que se informem, para que entendam e assumam responsabilidades, para apresentar um projeto em que eu acredito.
Sul21: Quais tu diriam que são as principais pautas do partido e tuas hoje?
Bernardinho: Na realidade, o evento – claro, o partido vai ser apresentado para as pessoas que não conhecem – mas a noite hoje é para debater, falar, expor questões que eu acho relevantes. Tem a ver com aquilo que o partido acredita.
Sul21: Mas tem posições que marcam a identidade do partido e com as quais tu te identifica?
Bernardinho: Eu não vou levantar bandeirinha e ficar “atenção, é isso aqui”. Não. Nós acreditamos nisso e vou falar naquilo que acredito. As pessoas vão ver que tem um alinhamento com aquilo que o Novo prega, então é por aí. Volto a dizer, eu vim aqui falar de valores, do que eu acredito. Se as pessoas acreditam em valor espiritual, aquilo que eu estou dizendo, porque de certa forma eu fiz, eu vivi isso, essa é a intenção aqui hoje. Para que as pessoas, realmente, elas se questionem, porque a fonte do crescimento é o questionamento. Se questionar sempre. A ideia hoje é falar desses temas, abordar esses temas e eles farão os links com aquilo que o Novo propõe e que será amplamente divulgado.
Sul21: Tu falaste que em 2014 não era o momento certo, tinhas o projeto das Olimpíadas. Mas agora tu estás aposentado da Seleção Brasileira de Vôlei e o próprio presidente do partido defende teu nome como candidato ao governo do Rio no ano que vem.
Bernardinho: Metade das pessoas que eu encontro dizem assim, “puxa vida, você tem um cabo eleitoral aqui no Rio Grande do Sul”, “você tem um cabo eleitoral lá em Natal”, porque eu tive lá. Metade fala isso. A outra metade diz: “não se mete nisso não, você é bom demais para isso”. Então, há essa vontade. Eu digo que nós temos que fazer alguma coisa. Eu não me vejo hoje como candidato, eu me vejo como apoiador de pessoas e de projetos. Então, sou apoiador de projetos e quero poder apoiar o Novo e as pessoas que estão capitaneando esse processo. Com o tempo, vamos ver como a coisa acontece, mas eu não sou um candidato. Não estou candidato!
Sul21: Tem se falado muito da ascensão de “não-políticos” na política, exatamente pela crise de representação que a sociedade tem vivido. O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), é um exemplo disso. Tu também achas que se encaixa nisso?
Bernardinho: Eu sou muito crítico em relação a mim mesmo. Eu não me acho nada, sabe? Eu vejo o que as pessoas sentem, falam e como elas se posicionam. Eu vejo que elas têm admiração, respeito, carinho, e tem críticas também. Muitas senhoras falam, “você grita demais com os meninos e as meninas”. Sempre críticas produtivas, sinceras, de pessoas que torceram, sofreram, por nós. Claro, existem muitas pessoas que eu admiro que não são políticos de carreira e o partido luta por isso. Ele não quer políticos de carreira. Quer pessoas que dão contribuição e não se perpetuem nisso. Isso que é importante. Cada um de nós, acreditando numa contribuição, poder dar a sua contribuição. Não sei, eu posso ser uma pessoa. Não sei se tenho a capacidade do Doria ou de outros que são citados também como possíveis candidatos, que não são evidentemente do mundo político, mas o fato é que hoje existe um nível de frustração tão grande, de aversão tão grande, que coisas novas certamente suscitam interesse. Esse é um fato. A gente não pode ser hipócrita e dizer que não. Mas, eu, sinceramente, não me vejo como tal.
Sul21: Tem algum líder que tu admiras?
Bernardinho: Eu acho que sim, mas é difícil falar de um “líder-salvador”, porque não existe né? Um dos líderes que eu admiro muito é o Jorge Lehmann. Não só porque é um grande empresário, mas pela preocupação com educação, com tudo o que ele tem feito por aí. Quem sabe ele não assume uma posição desse tipo? Seria fantástico.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: