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Cachoeira não conseguia se infiltrar em Goiás, apontam gravações

Sequência de escutas da PF mostra frustração do bicheiro diante de sucessivas negativas que inviabilizaram negociatas para beneficiar a Delta e interesse do grupo; voz de Marconi Perillo não aparece em nenhuma gravação; governador era chamado de "excomungado" e "louco" por não atender pedidos

Cachoeira não conseguia se infiltrar em Goiás, apontam gravações (Foto: Edição/247)
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Goiás247 - Um estudo aprofundado revela que gravações realizadas pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo que desarticulou a rede de jogos ilegais inocentam o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), de qualquer relação com o esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira.

Os grampos, em vez de revelarem um grupo feliz com os supostos negócios que manteriam com Governo do Estado, mostram o contrário: os líderes da jogatina revoltados com o governador Marconi Perillo e secretários que se recusam a praticar atos ilícitos.

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A irritação com o governador tem por base a impossibilidade de ação dentro da estrutura administrativa.  Em reportagem recente do jornal O Globo, Carlinhos Cachoeira aparece nervoso com o assessor Wladmir Garcês, por este não ter influência junto ao governo. "Ô, Wladmir, eu tô fazendo a coisa. Esquece esse negócio de viagem, meu. Eu tô puto, porque vai enchendo o saco, vai caindo a gota, sabe, aí um bobão tá lá no trem lá, ele tá lá. (...) Um cargo que a gente tinha, todo dia, esse bosta deste cara, esse malandro desse Rincón [Jayme Rincón, presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop)], todo dia você tá com ele, rapaz, nós tínhamos uma gerência, nós tínhamos uma diretoria forte. Não temos mais nada. Não temos uma pessoa nossa lá", irrita-se Cachoeira.

Em outra gravação da PF, Carlinhos Cachoeira diz para a noiva Andressa Alves que passa por inúmeras dificuldades por conta de ações da Polícia Civil goiana, o que demonstra a inexistência de qualquer forma de controle do grupo. "Sabe como que eu tô me sentindo? Tô aguentando pra não chorar. Sabe o que eu tô sentindo? Tô me sentindo um bandido. A forma que, que... A sociedade me vê, eu tô me sentindo, entendeu? Coisa que eu nunca tive, né, é preconceito de mim mesmo. Hoje eu to com preconceito de mim mesmo", disse para a noiva.

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Conforme os relatos de Cachoeira, ocorria uma verdadeira perseguição aos seus negócios. "Foram em dois locais, os melhores aqui em Goiânia. Ontem foram em mais em dois. Quer dizer, acabou. Vi que era perseguição mesmo, entendeu?". O suspeito de contravenção tinha informantes tanto na Polícia Civil quanto na Polícia Federal, o que demonstra que o grupo buscava influir em diversas esferas de investigação e governo.

Em 2011, de acordo com O Globo, Carlos Cachoeira está muito contrariado, pois o atual senador Wilder Morais (DEM-GO), mesmo não sendo do grupo político do governador, consegue indicar servidores e ele não. "Eu não consigo pôr no Detran, o Wilder foi lá e emplacou. O Wilder não dá um centavo pra ninguém. Imagina só: o Wilder vai lá para o Palácio, consegue convencer o Marconi a colocar o cara e você tá lá todo dia e não fala nada. Você tá com o secretariado todo dia, todo dia você traz conta pra mim, levo pro Cláudio, e não consegue emplacar ninguém. Entendeu?"

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Marconi Perillo é chamado até de excomungado em um dos diálogos. Na passagem em que Carlos Cachoeira fala que "vai largar mão sobre o negócio do Entorno", o então senador Demóstenes Torres diz: "Tem que largar mesmo, isso aí é um excomungado".  O motivo da birra era um só: Carlinhos Cachoeira temia a participação das empresas Odebrecht e Queiroz Galvão em uma licitação, que, segundo ele, não seria destinada à Delta Construções.

Um dos trechos mais comentados das gravações mostra o grupo desesperado com um discurso realizado pelo governador Marconi Perillo, no ano passado, oportunidade em que diz claramente que o Estado não vai fazer esquemas com a Delta Construções.  Em uma conversa também com Demóstenes Torres, Cachoeira se revolta: " (...) Deixa eu te falar. Eu te liguei hoje, esse homem é vagabundo, você acredita que ontem foi, ele foi falar lá na Saneago lá e ele citou a Delta  dizendo que no governo dele, ele não vai...vai pegar uma licitação lá. A Agetop apareceu e 93 empresas. Se não vai ter conluio tipo essa Delta, você acredita num trem desse?".

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No mesmo diálogo, Demóstenes questiona: "Quem que falou? O governador?". Carlinhos confirma e escuta do interlocutor: "Sem vergonha, né, rapaz. É um sem vergonha. É um negócio... Que isso rapaz. Esse homem é... Ele não tem... Ele não tem condição, viu?". Na sequência, Carlinhos Cachoeira diz que o governador citou nominalmente a Delta e pelo fato, de certo, queria "guerra".

Outro diálogo mostra o grupo de Carlos Cachoeira ainda mais irritado com Marconi Perillo, que parece não se deixar pressionar por qualquer pedido.  Demóstenes fala para Cachoeira não fraquejar nas reivindicações que fazia ao governo, por meio de assessores. " (...) Tem que mandar um recado duro pra ele. Manda o Edvaldo entregar o cargo, que ele vai ficar doido nesse trem. Esse cara não tem jeito não. Joga leve não. Joga pesado, não deixa barato esse trem não. Ele é desqualificado demais, pô. Puta que pariu. Essa foi de pé no saco". Carlinhos, na sequência, diz para Demóstenes Torres que "tem que

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explodir esse vigarista". O ex-senador, então, retorna e diz: "É...tem que ter respeito, né, rapaz...Esse cara. O que é que vai falar, porra. Isso é um negócio dos mais, né? Dos mais doidos que tem. É maluco, né? Só pode... A explicação. Porque bêbado naquela hora da manhã não tava".

O que mais intriga é que em nenhuma gravação a Polícia Federal encontra o inverso. Em todas as passagens existe um grupo extremamente nervoso por conta de interesses negados dentro do Estado. Apesar da presença do então senador Demóstenes Torres no grupo, sobra pouca margem de ação.  A falta de registros da voz de Marconi e mesmo de gestores próximos em diálogos com o grupo de Cachoeira é a maior evidência de que o Estado seguiu seu curso natural em detrimento dos interesses da organização.

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Isso não significa que inexistiam tentativas de aproximação e mesmo pressão. Um dos diálogos mostra que o grupo usava o nome de Marconi sem sua permissão. Trata-se da fraude em que enviavam SMS de celular como se fosse o governador. "Eu vou mandar uma mensagem pra você. Primeiro você vai e grava [...] Marconi P no meu número. Eu vou mandar uma mensagem prá você cobrando e você manda pra ele", orienta Cachoeira ao seu assessor, o ex-vereador Wladimir Garcês.  O jornal Folha de S.Paulo revelou que a intenção do grupo era realizar algum pedido ao diretor da Delta Construções por meio do nome do governador, sem qualquer autorização dele.

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