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Carta aberta ao ministro Ricardo Lewandowski

A publicao pelo 247 do inqurito da Operao Monte Carlo deu fim aos vazamentos seletivos e permitiu que a sociedade tivesse a viso completa da floresta. Nesta quarta, quando novos documentos sero entregues CPI, abra mo do segredo de Justia. At porque ele no ser respeitado

Carta aberta ao ministro Ricardo Lewandowski (Foto: Montagem/247)

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Exmo. Ministro Ricardo Lewandowski,

Como o senhor bem sabe, na última sexta-feira, quando o Supremo Tribunal Federal tomou a decisão de compartilhar documentos com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito instalada para investigar as atividades do contraventor Carlos Cachoeira e do senador Demóstenes Torres, nós, do Brasil 247, trabalhávamos freneticamente para tornar públicos todos os arquivos. Eram pouco mais de 18h, quando conseguimos subir, em nossos servidores, a denúncia apresentada contra o senador Demóstenes Torres pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acrescida de sete anexos.

Graças à publicidade que demos ao inquérito, foi possível saber, por exemplo, que Carlos Cachoeira, em telefonemas gravados com seus assessores, tratou de depósitos de R$ 3,1 milhões para o senador Demóstenes Torres. Foi também possível ter acesso a boa parte do material produzido pela Polícia Federal sobre as relações entre o esquema Cachoeira e alguns meios de comunicação. Uma relação, se não criminosa, no mínimo, perigosa.

A divulgação do inquérito mereceu espaço no Jornal Nacional, da Rede Globo, e em vários sites, jornais e portais. Depois disso, soubemos, também pela imprensa, que o Supremo Tribunal Federal pretende acionar o Ministério Público e a Polícia Federal para apurar os nomes dos responsáveis pelo vazamento de informações sigilosas do inquérito, que tramita em segredo de Justiça.

O autor do furo de reportagem foi o jornalista Vassil Oliveira, um dos nossos mais conceituados profissionais, que hoje responde pela operação do Goiás 247 – uma das sete afiliadas da rede Brasil 247, que pretende levar informação de qualidade aos brasileiros, 24 horas por dia, sete dias por semana, num modelo online e gratuito de jornalismo.

Vassil Oliveira obteve cópia do inquérito e, evidentemente, não lhe fizemos qualquer pergunta sobre a procedência dos arquivos digitalizados. Apenas comemoramos o fato de que tenha sido ele, e não um concorrente, o primeiro a conseguir algo que fatalmente seria tornado público em algum momento.

Como o senhor também sabe, a Constituição Federal assegura em seu artigo 5º, numa de suas cláusulas pétreas, o sigilo da fonte. “É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”, diz a nossa Carta Magna.

Não temos uma visão dogmática sobre esse princípio. O sigilo da fonte, no nosso entendimento, não deve servir de pretexto para acobertar outros crimes – especialmente quando há um dano concreto a terceiros. Mas, no caso em questão, a publicação do inquérito na íntegra fez bem à sociedade brasileira, pois a investigação sobre a Operação Monte Carlo é coberta, do início ao fim, de interesse público.

Vazamentos seletivos

Evidentemente, não fomos os primeiros a dar publicidade à Operação Monte Carlo. Antes de nós, praticamente todos os jornais, revistas e telejornais do País vinham competindo por furos de reportagem que eram distribuídos a conta-gotas. A sociedade brasileira era submetida à lógica dos vazamentos seletivos. E não se pode negar o fato de que policiais, parlamentares, promotores, jornalistas e meios de comunicação também têm os seus interesses – embora não os tornem públicos. E é também inegável que todo trabalho de edição, seja ele feito por jornalistas ou por terceiros, também se submete à subjetividade de quem edita. Até mesmo quando não há interesses comerciais ou políticos em jogo.

Ao publicar o inquérito na íntegra, o Brasil 247 quebrou a lógica dos vazamentos seletivos. O distinto público, que antes enxergava galhos esparsos do esquema Cachoeira, passou a ter a visão completa da floresta, com as suas ramificações em todos os poderes: o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e também os meios de comunicação.

A todos aqueles que se sentirem injustiçados, por terem seus nomes citados em conversas de terceiros, haverá sempre espaço para suas defesas. O mundo de hoje exige a transparência e assegura a todos direito de resposta.

A informação horizontal e colaborativa

Ao publicar o inquérito sobre a Operação Monte Carlo, fomos chamados, por alguns leitores, de “wikileaks” brasileiro. Não era esse o nosso objetivo, mas, evidentemente, o rótulo reflete uma transformação significativa no universo da comunicação.

Nos dias de hoje, estão sendo rompidas as hierarquias entre emissores e receptores de informação. O modelo não é mais vertical, imposto de cima para baixo e, portanto, sujeito a manipulações. É horizontal, colaborativo e, nele, todos participam.

O espírito “wiki” é uma realidade na era da informação online e das redes sociais. Assim que publicamos o inquérito, milhares de leitores começaram a garimpar dados relevantes e a encontrar novas perspectivas para a compreensão dos fatos. Até mesmo jornalistas experientes foram capazes de reconhecer que, na era dos vazamentos seletivos, vinham sendo manipulados e que, portanto, inconscientemente, reproduziam a manipulação.

Os novos documentos da CPI

Nesta quarta-feira, o senhor irá compartilhar novos documentos com a CPMI. Ao que consta, são 40 mais volumes, que estão trancados no Supremo Tribunal Federal. O senador Vital do Rego (PMDB/PB) e o relator Odair Cunha (PT/MG) já anunciaram medidas para garantir a confidencialidade das informações, mas todos nós sabemos que será impossível conter os vazamentos. E serão, novamente, vazamentos seletivos, submetidos aos interesses nem sempre republicanos de quem fornece os documentos.

Neste sentido, fazemos um apelo: determine o fim do segredo de Justiça e permita que toda a sociedade brasileira tenha acesso às investigações da Operação Monte Carlo. Só assim haverá a certeza de que esta CPMI não se renderá a conchavos, acordos e que todos os fatos contidos nos relatórios da Polícia Federal merecerão a devida apuração.

Do nosso lado, continuaremos fazendo o nosso trabalho.

Com os nossos sinceros cumprimentos,

Toda a equipe 247

 

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