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Caso Benício: família denuncia erro em adrenalina aplicada na veia que levou criança de 6 anos à morte em Manaus

Polícia Civil investiga conduta de médica e técnica de enfermagem; relatório do hospital confirma prescrição incorreta

A morte de Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, desencadeou uma série de questionamentos sobre condutas médicas e protocolos de segurança em um hospital particular de Manaus (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

247 - A morte de Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, desencadeou uma série de questionamentos sobre condutas médicas e protocolos de segurança em um hospital particular de Manaus. A denúncia foi apresentada pelos pais do menino à polícia na terça-feira (25). As informações iniciais do caso foram publicadas pelo g1 AM, que detalhou a cronologia do atendimento e os desdobramentos após a aplicação de uma dose incorreta de adrenalina.

Segundo relatos da família, Benício morreu após receber adrenalina por via intravenosa, em quantidade e frequência incompatíveis com o quadro clínico, durante atendimento realizado entre o sábado (22) e a madrugada de domingo (23). A Polícia Civil já abriu investigação, ouviu profissionais envolvidos e segue analisando prontuários e documentos fornecidos pelo hospital.

Atendimento inicial e prescrição da medicação

Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia na noite de sábado após apresentar tosse seca, suspeita de laringite e dois episódios de febre. De acordo com os pais, ele foi avaliado por uma médica, que prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml a cada 30 minutos. A aplicação ficou sob responsabilidade de uma técnica de enfermagem de plantão.

A família relata que estranhou a prescrição e chegou a questionar a profissional. O pai, Bruno Freitas, disse ao g1 que a técnica reconheceu não ter experiência com esse tipo de administração. “Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer”, afirmou.

Piora abrupta e paradas cardíacas

Pouco depois da administração da medicação, o menino apresentou uma piora súbita. Segundo os pais, Benício ficou pálido, com extremidades arroxeadas e relatou forte dor no peito, dizendo que “o coração estava queimando”.

A saturação caiu rapidamente para cerca de 75%. Ele foi transferido para a sala vermelha e, posteriormente, intubado na UTI por volta das 23h. A partir desse momento, o quadro evoluiu de forma crítica: a intubação provocou a primeira parada cardíaca, seguida de outras cinco. Apesar das tentativas de reanimação, a última parada, registrada às 2h55 do domingo, foi fatal.

Denúncia e início das investigações

No dia 25, a família procurou a Polícia Civil afirmando que a aplicação intravenosa da adrenalina foi responsável pela série de paradas cardíacas. A delegacia especializada já ouviu a médica responsável e a técnica de enfermagem.

O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) informou que abriu um processo ético sigiloso para apurar a conduta da médica Juliana Brasil Santos, que já foi afastada pelo hospital. A técnica de enfermagem também foi afastada preventivamente.

Relatório interno confirma erro na prescrição

Um relatório do Hospital Santa Júlia encaminhado à Polícia Civil — obtido com exclusividade pela Rede Amazônica — confirma que houve erro na prescrição da adrenalina, administrada de forma inadequada.

No documento, a médica reconhece ter prescrito o medicamento por via intravenosa e afirma ter comentado com a mãe da criança que a medicação deveria ser administrada por via oral. Ela também declarou ter ficado surpresa pelo fato de a equipe de enfermagem não ter questionado a prescrição.

O hospital mantém a apuração interna para esclarecer a sequência de decisões que levou ao erro.

Próximos passos

A Polícia Civil deverá ouvir novos profissionais e solicitar perícias adicionais para determinar responsabilidades criminais. A família aguarda o resultado das investigações e afirma que busca justiça para evitar que outras crianças passem por situações semelhantes.