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Cérebro humano. Verdades e mentiras sobre nosso órgão pensante

Utilizamos apenas 10% das nossas capacidades cerebrais? Isso é mentira, da mesma forma que várias outras ideias preconcebidas sobre o cérebro. O órgão que nos torna especiais dentre todas as espécies vivas ainda suscita uma série de dúvidas e questionamentos. Gostaríamos que ele fosse superpoderoso, mas não: ele é simplesmente humano.

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Por: Sarah Laîné – Le Figaro Santé 

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1. Utilizamos apenas 10% das capacidades do nosso cérebro.

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“A maior parte das pessoas utiliza apenas 10% do seu cérebro. Imaginem se pudéssemos chegar aos 100%”: esta é uma ideia preconcebida muito antiga, retomada pelo cineasta francês Luc Besson em seu filme Lucy (2014). Scarlett Johansson interpreta uma estudante que atinge progressivamente 100% das suas capacidades cerebrais, depois de ingerir uma droga experimental. Ela então se torna capaz de manipular os homens e as máquinas através da telecinesia e consegue calcular tão rapidamente quanto um computador de última geração.

Essa perspectiva é, certamente, muito sedutora, mas ela se baseia em uma afirmação totalmente falsa. Os progressos alcançados na área da imagiologia médica (ressonância magnética, tomografia, etc) permitiram visualizar a atividade cerebral de maneira muito detalhada. Os resultados são evidentes: nenhuma zona é inativa de modo permanente. Todo o conjunto do nosso cérebro é utilizado, embora cada uma das suas zonas não seja mobilizada ao mesmo instante. A ideia de que existiriam zonas cerebrais não afetadas e suscetíveis de oferecer novas potencialidades não se assenta, portanto, na realidade.

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2. Aprender de cor é essencial para o cérebro

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Tabelas de multiplicação, datas históricas, poesias, etc, são saberes que necessitam de uma aprendizagem “de cor”. Apesar disso, se esse método é indispensável para certas aprendizagens, pois ele ativa diferentes tipos de memória úteis ao bom funcionamento cognitivo, ele não pode ser considerado “essencial”. A conquista de muitos conhecimentos exige a compreensão da coisa aprendida: um texto aprendido de cor por um ator não seria suficiente para que ele o conheça e possa interpretá-lo em toda a sua profundidade.

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3. O estoque de neurônios é constituído no nascimento, e de uma vez para sempre

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No decorrer do século 20, os cientistas pensavam que nós nascemos com um estoque de neurônios, o qual diminuiria inexoravelmente com o avançar da idade. Acreditava-se que o cérebro adulto fosse incapaz de gerar novos neurônios. Nos anos 1990, esse dogma foi derrubado. Duas zonas bem localizadas foram identificadas. Situadas perto do bulbo olfativo e do hipocampo, nós as chamamos de “nichos germinativos” pois elas contêm células-tronco capazes de se transformar em novos neurônios. Elas renovam desse modo, ao longo da vida inteira, certas células implicadas na memória e no aprendizado. Essa “neurogênese” poderia até mesmo se produzir em outras zonas do cérebro, mas isso ainda não foi provado. Além disso, pode ser que ocorram variações: os pesquisadores revelaram que o ambiente pode estimular (através da atividade física ou social) ou, ao contrário, diminuir (estresse, isolamento, depressão) essa renovação celular.

 

4. Certas pessoas são fortes o bastante para cumprir múltiplas tarefas ao mesmo tempo

Napoleão Bonaparte tinha a reputação de conseguir fazer várias coisas ao mesmo tempo, e costuma-se dizer que as mulheres são mais propensas às multitarefas do que os homens. Esses mitos foram mais uma vez desmentidos pela ciência. Em 2010, uma equipe de pesquisadores franceses demonstrou os limites do cérebro graças à imagiologia médica. Segundo seus trabalhos, cada um dos nossos dois hemisférios cerebrais só pode controlar uma tarefa de cada vez. Nosso cérebro, portanto, consegue coordenar ao máximo duas tarefas ao mesmo tempo, e mesmo assim passando sucessivamente de uma para outra. A partir de três tarefas, as pessoas que se submeteram à pesquisa cometiam mais erros e se tornavam menos reativas. Depois de um breve tempo, uma das três atividades acabava por ser abandonada.

 

5. Quando repousamos, o cérebro gasta menos energia

O cérebro de um homem adulto representa apenas 2% do peso total do seu corpo. No entanto, ele consome cerca de 20% da sua energia (glucose e oxigênio). A maior parte desse consumo energético está diretamente ligada à função cerebral: transmissão dos fluixos nervosos e comunicação entre os neurônios. Esse gasto de energia varia muito pouco entre o repouso e a atividade física ou intelectual. Em revanche, o cérebro consome cerca de 40% menos energia durante o sono profundo (cerca de 75% do tempo dormido) ou durante uma anestesia geral.

 

6. Devanear não é estimulante para o cérebro.

Errado. Bem ao contrário, as pessoas que “vivem no mundo da lua” são exatamente aquelas que produzem mais reflexões! Em 2009, pesquisadores canadenses observaram que o córtex pré-frontal – onde têm sede as atividades de planificação e raciocínio – fica mais ativo quando o indivíduo deixa seus pensamentos vagabundearem. Devanear não apenas estimula o cérebro, mas às vezes permite que ele resolva problemas complexos. Prova disso são certos matemáticos que encontraram uma solução para seus problemas muito complexos justamente quando passeavam distraídos no interior de uma floresta. Quando ele não é perturbado por solicitações exteriores, o cérebro trabalha de forma ainda mais eficiente.

 

7. Se você não é bom em matemática, a culpa certamente é sua

Quanto é 15 vezes 3? 280 é maior ou menor do que 134? Operações simples para a maioria de nós, tornam-se um verdadeiro quebra-cabeças para pessoas que sofrem de discalculia. Essa afecção está para o calculo assim como a dislexia está para a leitura. A disfunção aparece desde os primeiros anos do desenvolvimento da criança. Ela se traduz por uma incompreensão da numeração, dificuldades de aprendizagem e de memorização das tabelas de adição e de multiplicação. Segundo os neurologistas, a discalculia estaria associada a anomalias de certas regiões do cérebro. Na França, cerca de dois milhões de adultos apresentam problemas para fazer cálculos profundos, mas isso não pode ser confundido com as simples dificuldades em aprendizado matemático.

 

8. O cérebro reptiliano é responsável pelos nossos instintos mais primitivos

Nosso cérebro seria dividido em três partes: o cérebro reptiliano, responsável pelos comportamentos primitivos (se alimentar, se reproduzir, combater); o cérebro límbico, centro das emoções; e o neo-córtex, sede do pensamento. Essa teoria, forjada pelo neurofisiologista americano Paul MacLean no inicio da década de 1960, conheceu um sucesso mundial. Pondo de acordo os neurologistas e os psicanalistas, esse modelo permitia explicar a complexidade do ser humano, dividido entre seus instintos arcaicos, suas emoções e sua inteligência. Infelizmente, esse esquema consensual é simplesmente falso. Desde os anos 1970, a teoria foi desmontada pelos neurocientistas: nosso cérebro não pode ser compartimentado dessa forma. Bem ao contrário, todas as áreas cerebrais estão interconectadas.

 

9. As ondas dos telefones celulares provocam cânceres do cérebro

Numerosos trabalhos foram desenvolvidos a respeito dos possíveis enlaces entre as ondas dos celulares e os cânceres do cérebro. Mas seus resultados foram contraditórios, e os cientistas não dispõem de suficiente recuo e de estudos incontestáveis para chegar a qualquer conclusão. De qualquer modo, os estudos que estabeleceram uma conexão entre uso de celulares e cânceres do cérebro mostraram que pessoas que passaram por exposições prolongadas poderiam apresentar uma pequena margem de maior risco de manifestação de tumor do cérebro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prefere manter uma postura de prudência e considera o uso de telefones celulares como “potencialmente cancerígeno”. O que é uma linguagem de estatística, e não de medicina clínica. Esperando o resultado de novas investigações, os médicos aconselham limitar a exposição às ondas, a utilização de um kit mãos-livres e um uso moderado às crianças e adolescentes.

 

10. Um peixinho vermelho tem uma memória de apenas 12 segundos

“Ter memória de p[eixinho vermelho”, na França, significa ter memória fraca e curta. Essa crença popular faz referência à suposta memória fraca desses pequenos animais, a qual não duraria mais de poucos segundos. Embora ainda hoje bastante difundida, essa ideia é totalmente equivocada. Muitas equipes de pesquisadores demonstraram, com efeito, que o peixinho vermelho – e os peixes em geral – possuem uma memória que pode durar vários meses. Eles são capazes de memorizar locais associados à alimentação ou à dor, e também de memorizar o percurso de saída de um labirinto.

 

11. Os videogames bestificam os seus jogadores

Violência, agressividade, fechamento em si mesmo, etc. Acusados de provocar diversos males, os videogames parecem no entanto ser bons exercícios para o cérebro, desde que praticados sob certas condições. Muitos estudos internacionais demonstraram, com efeito, que a prática regular desses jogos de ação melhora a capacidade de tomar decisões, a atenção, e também a velocidade rde reação a estímulos. Certos trabalhos sugerem até mesmo que eles poderiam se tornar suportes terapêuticos para a reeducação de pacientes sofredores de certos déficits visuais. Assim sendo, embora não pareçam melhorar a inteligência, os videogames podem ser benéficos para certas capacicdades cognitivas. Mas é sempre bom lembrar que o uso excessivo desses divertimentos pode levar a formas de adicção, causando dependência e produzindo repercussões na vida social e profissional e também no quadro psíquico do praticante. O importante, portanto, é não abusar dos videogames.

 

12. Não existe diferença entre cérebro masculino e feminino

Estudos demonstraram que o cérebro das mulheres (1,2 kg) é em média menor que o dos homens (1,35 kg). Mas essa diferença nada tem a ver com inteligência e pode ser explicada por simples razões anatômicas. Contudo, uma descoberta recente demonstrou também que a estrutura interna dos cérebros masculino e feminino é diferente, particularmente quanto ao cabeamento nervoso entre as diferentes zonas cerebrais. É preciso prestar atenção às interpretações abusivas.: uma tal distinção nada significa em termos de funcionamento do cérebro de um homem ou o de uma mulher. Ela nada diz quanto a influên cia dos genes, ou do meio ambiente.

 

13. É impossível criar-se lembranças falsas

Em 2013, uma equipe da Universidade de Utrecht, na Holanda, testou o efeito da desinformação na criação de lembranças falsas. Os pesquisadores holandeses interrogaram 249 soldados recém chegados do Afeganistão. No decorrer de um questionário que tratava do estresse, os cientistas perguntaram aos soldados se eles se lembravam de algum evento que era, no entanto, fictício (por exemplo um ataque que na verdade nunca acontecera). Nove meses depois, os mesmos soldados foram novamente interrogados, e 26% deles declararam ter presenciado aquele acontecimento, embora ele nunca tivesse acontecido. Esse estudo mostra que é, portanto, muito possível a criação de falsas lembranças. Mais recentemente, trabalhos americanos revelaram igualmente que a fadiga e o estresse favorece a criação de lembranças falsas.

 

14. Os especialistas em propaganda e marketing sabem manipular nossos cérebros para favorecer as compras

Os comerciantes com certeza não precisaram esperar o advento das neurociências para saber como nos convencer a comprar coisas das quais nem sempre temos necessidade. Mas hoje, as ferramentas de imagiologia médica permitem às marcas comerciais estudar o impacto dos seus programas publicitários no cérebro dos consumidores., O neuromarketing estuda a influência de certos fatores cognitivos ou emocionais para melhorar o efeito da publicada ou da embalagem dos produtos. O objetivo declarado dessa disciplina é compreender os fatores que podem motivar a tomada de decisão de uma compra. Mas esses estudos não possibilitaram a identificação de algum tipo de “botão de compras” em nosso cérebro, e menos ainda foram capazes de criar técnicas de manipulação da nossa mente.

 

15. Neurosciência e psicanálise são forçosamente antagonistas

Ambas, as neurociências e a psicanálise se interessam pelo estudo do funcionamento mental. No entanto, tudo parece separar essas duas abordagens do ponto de vista conceitual. As neurociências utilizam uma abordagem científica experimental, com teorias baseadas sobre dados objetivos e quantificáveis, e com hipóteses testáveis. A psicanálise, por seu lado, lança mão de campos conceituais muito ricos porém dificilmente verificáveis. Hoje, em numerosos países, a guerra entre os dois gêneros “psi” tende a se apaziguar. Uma abordagem pragmática praticada por certos especialistas tende a identificar aquilo que pode ser útil em cada uma das duas áreas. Certos neurocientistas tendem inclusive a encontrar ligações entre certos conceitos da psicanálise e as descobertas mais recentes a respeito do funcionamento da mente.

 

 

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