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CPI "esquece" de Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Dnit

Numa entrevista, o antigo controlador do rgo do Ministrio dos Transportes que cuida da construo de estradas e toca obras do PAC associara seu afastamento ao da quadrilha de Cachoeira e do comando da Delta. Mesmo assim, os personagens no sero investigados

CPI "esquece" de Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Dnit (Foto: Ueslei Marcelino/Folhapress)
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247 – Entre os ilustres personagens dos grampos da Polícia Federal, na operação Monte Carlo, que foram "esquecidos" pelos parlamentares na CPI do Cachoeira figura Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Dnit. Há 13 dias, numa entrevista ao repórter Murilo Ramos, Pagot associara seu afastamento do órgão do Ministério dos Transportes que cuida da construção de estradas e toca obras do PAC à ação da quadrilha de Cachoeira e do comando da Delta. Relembre o caso no post publicado pelo jornalista Josias de Souza:

Ignorados no plano de trabalho da CPI do Cachoeira, Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, e Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Dnit, são personagens centrais de diálogos telefônicos captados pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, deflagrada em fevereiro.

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As conversas revelam indícios da existência de um esquema para favorecer a Delta no Dnit, órgão do Ministério dos Transportes que cuida da construção e manutenção de estradas e toca obras do PAC. O áudio foi veiculado pelo ‘Jornal da Globo’ horas depois da aprovação do plano de ação do deputado Odair Cunha (PT-MG), o relator da CPI.

Soam nos grampos as vozes do contraventor Carlinhos Cachoeira, do senador Demóstenes Torres e de Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta na região Centro-Oeste. A tróica receava que Pagot revelasse os segredos da empreiteira e da quadrilha depois de ter sido demitido do Dnit por Dilma Rousseff, em julho do ano passado.

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De acordo com a Polícia Federal, Pagot participara de um jantar com Cachoeira, Demóstenes e Fernando Cavendish. As escutas indicam que o bicheiro recorreu ao padrinho político de Pagot, o senador Blairo Maggi (PR-MT), para conter os arroubos do “afilhado”, cuja queda fora atribuída a irregularidades no Dnit.

Ouvido, Blairo Maggi nega que tenha sido procurado. O nome dele é mencionado numa primeira conversa de Demóstenes com Cachoeira. O senador soou preocupado. Parecia temer que Pagot levasse os lábios ao trombone:

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- Demóstenes: Você teve notícia?

- Cachoeira: Não, Blairo mandou falar que não tem nada não. Blairo que manda nele, uai.

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- Demóstenes: Mas o Blairo falou que tá tudo ok?

- Cachoeira: Falou… Mandou falar.

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- Demóstenes: Ah, então tá bom. Então beleza. Então falou. Até mais.

Noutro grampo, Cachoeira conversa com Cláudio Abreu, na época o mandachuva da Delta no Centro-Oeste. Fica subentendido no diálogo que, se recorresse ao trombone, Pagot teria o que soprar:

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- Cachoeira: Ele não vai falar nada não. Senão o cara fala que jantou lá, tal, com…Com Fernando [Cavendish], com ele. Não vai falar isso não, porque tá dando tiro no pé também, né?

- Cláudio: É, positivo. Tem nada a ver.

Um dia depois, Cachoeira e Demóstenes como que celebram o silêncio de Pagot:

- Cachoeira: Doutor, deu certo aí?

- Demóstenes: Uai! Deu. O homem não me falou nada não. Tudo tranquilo.

No seu plano de trabalho, o relator petista Odair Cunha incluiu no rol de personagens a serem inquiridos pela CPI o contraventor Cachoeira, o senador Demóstenes e o ex-diretor da Delta Cláudio Abreu. Porém, excluiu da lista Fernando Cavendish e Luiz Pagot.

A exclusão esconde a intenção não declarada de tentar afastar a CPI da administração federal e do PAC, o programa de obras que Dilma coordenava desde a gestão Lula, supostamente com rigores de “mãe”.

Há 13 dias, numa entrevista ao repórter Murilo Ramos, Pagot associara seu afastamento do Dnit à ação da quadrilha de Cachoeira e do comando da Delta: “Fui surpreendido por ter sido afastado através de uma negociata de uma empreiteira com um contraventor. Isso serviu para que fosse ditado meu afastamento. É um verdadeiro descalabro”, dissera.

Pagot quebrou o silêncio depois que veio à luz um grampo captado pela PF em 10 de maio de 2011, dois meses antes de sua queda. Contém um diálogo de Cachoeira com Cláudio Abreu. O então diretor da Delta informa ao pós-bicheiro que plantara informações contra Pagot na imprensa: “Enfiei tudo no rabo do Pagot”, diz ele a certa altura.

Na versão de Pagot, a plantação de notícias deveu-se a “dissabores” que ele diz ter causado à Delta, cujos contratos com o Dnit “passaram a ter problemas” entre 2009 e 2010. Localizou os “problemas” no Ceará, no Mato Grosso, em Goiás, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O ex-diretor do Dnit contou também que parlamentares fizeram lobby em favor da Delta. Mencionou dois deputados federais: o réu mensaleiro Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Wellington Fagundes (PR-MT). Pagot só não havia informado que participara do jantar com Cachoeira, Demóstenes e Cavendish.

A CPI poderia desvendar os mistérios. Porém, tomado pelo plano de trabalho que apresentou, o relator Odair Cunha não parece interessado nesse pedaço das investigações da Polícia Federal que aproxima a quadrilha de Cachoeira da Esplanada dos Ministérios e das obras do PAC.

Pelo cronograma do relator, a CPI se dedicaria a desvendar a ação da “organização criminosa” comandada por Cachoeira e suas relações com o Legislativo, membros do Judiciário e do Ministério Público, com policiais federais e estaduais, com “servidores e agentes públicos de governos estaduais” e “com setores empresariais e agentes de mercado, inclusive com a diretoria da Delta na região Centro-Oeste.”

Pressionado por parlamentares da oposição, Odair Cunha fez uma concessão. Substituiu a expressão “servidores e agentes públicos de governos estaduais” por “servidores e agentes públicos integrantes de governos federal, estaduais e municipais.” Absteve-se porém de incluir o ex-agente público federal Pagot no rol de depoentes.

De resto, não abriu mão de manter no texto a referência ao “Centro-Oeste”. Alegou que, ao utilizar o vocábulo “inclusive”, deixou em aberto a possibilidade de a investigação ser levada a outros pedaços do mapa brasileiro. Havendo disposição genuína, a entrevista de Pagot indica a necessidade de incluir na geografia do escândalo pelo menos mais duas regiões: o Nordeste (Ceará) e o Sudeste (Rio e São Paulo). Mas, por ora, consta da lista de depoentes da CPI apenas Cláudio Abreu, o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste. Nada de Cavendish.

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