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É João Henrique, e não o avô, quem empurra ACM Neto

Má administração em Salvador é a principal causa para a disparada de Antônio Carlos Magalhaes Neto, na capital baiana

É João Henrique, e não o avô, quem empurra ACM Neto (Foto: Montagem/247)

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Por Jeferson Ribeiro e Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - O deputado ACM Neto (DEM) não tem como se desvincular da herança política do seu avô Antônio Carlos Magalhães, e nem quer, mas ela não é o principal combustível para sua liderança nas pesquisas eleitorais na disputa pela prefeitura de Salvador.

Analistas e políticos ouvidos pela Reuters veem o desgaste da gestão municipal, comandada por João Henrique Carneiro (PP), e as recentes greves dos policiais militares e dos professores como os principais fatores de insatisfação dos eleitores, que identificam em ACM Neto o candidato de oposição e mudança.

A greve de pouco mais de dez dias dos policiais da Bahia, que provocou um forte aumento nos índices de homicídios no Estado, e a paralisação dos professores por mais de cem dias, alimentaram a insatisfação da população contra o governo estadual, comandado pelo petista Jaques Wagner.

"Essa candidatura se dá no momento em que grupo carlista não existe mais. Não nos municípios. O que ele está fazendo é pegando a memória e a história (do avô) e tonificando", argumentou o cientista político da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo Fábio Dantas Neto, autor do livro "Tradição, autocracia e carisma: a política de Antônio Carlos Magalhães".

Para Flávio Britto, especialista em direito eleitoral pela escola Judiciária do TSE/Universidade de Brasília (UnB), "todo esse contexto negativo do governo levou à situação de um candidato da oposição crescer".

O levantamento mais recente do Ibope, feito entre os dias 21 e 23 de agosto, aponta ACM Neto com 40 por cento das intenções de voto, Nelson Pelegrino (PT) com 16 por cento e Mário Kertész (PMDB) com 8 por cento das intenções de voto.

HERANÇA

Falecido em 2007, ACM teve uma carreira política tão notória que deu origem ao verbete "carlismo". ACM e seu grupo político comandaram o Estado por décadas e a influência do senador baiano na cena nacional também foi ampla, o que lhe garantiu a manutenção de um exército de aliados no Congresso e no Executivo por longos anos.

O grande herdeiro político de ACM era seu filho Luiz Eduardo Magalhães, que presidiu a Câmara dos Deputados entre 1995 e 1997, quando ajudou a aprovar a emenda que permitiu a reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Era tido como um político hábil e não fosse a morte prematura após um infarto aos 43 anos, em 1998, poderia até mesmo ser indicado para suceder FHC em 2002.

ACM Neto também é um político habilidoso, mas as facetas mais visíveis da escola carlista estão no seu modo de fazer política e não no controle sobre os aliados, o que era bastante visível no avô, na avaliação de Dantas Neto.

"O carlismo enquanto político, como modo de fazer política, isso está no ACM Neto fortemente. Assim como a busca da unanimidade, o culto às tradições baianas, o horror aos conflitos", analisou o professor da UFBA.

David Fleischer, da UnB, vê a perda de poder como um fator a mais que diferencia o neto do avô. "Ele (ACM Neto) não tem as manivelas do poder na mão. O seu partido está muito minoritário no Estado, principalmente depois da criação do PSD. Por isso, ele vai ter de ser mais light (na campanha)", disse.

Mesmo em 2008, quando a morte de ACM ainda era recente e os carlistas tinham mais peso eleitoral em Salvador do que hoje, o neto não conseguiu chegar ao comando da prefeitura. Ele liderou as pesquisas durante a maior parte da campanha, mas não chegou ao segundo turno e terminou a corrida eleitoral em terceiro lugar.

Mas agora o cenário é diferente, na avaliação do professor Dantas Neto, porque Neto já teria inclusive superado o piso histórico dos carlistas em Salvador, que gira em torno de 30 por cento do eleitorado.

"Naquela eleição, o ACM Neto ficou estagnado e os adversários subiram entre os indecisos. Agora, esse espaço de indecisos é menor", acrescentou.

Fleischer aposta que ACM Neto está caminhando para a vitória desta vez. "Ele tem 40 por cento já a poucas semanas da eleição. Tem muita coisa a rolar por lá, mas a possibilidade de ele ganhar está aí."

Já a campanha de Pelegrino aposta que o maior tempo de propaganda na TV --mais de oito minutos a mais que ACM Neto--, o amplo arco de alianças com 15 partidos e as participações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff sejam capazes de reverter o atual cenário.

"Ainda tem um longo processo pela frente. Está muito no início, tanto do programa eleitoral quanto de toda a mobilização", disse à Reuters o senador Walter Pinheiro (PT-BA).

Para Dantas Neto, outro fator para a liderança de ACM Neto nas pesquisas, até acima dos níveis históricos do carlismo em Salvador, é que ele se uniu com novas forças políticas da cidade, como o PV, que indicou Célia Sacramento para vice, e usa um discurso tecnocrático.

"(Ele) é uma inovação tradicional", resumiu o professor baiano.

(Edição de Alexandre Caverni)

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