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Em nome do filho

Filho de Bispo, bispinho é. Experiente vereador, Everaldo Bispo deixa a política para apoiar a candidatura do filho, Kiki; por outro lado, o vice-prefeito Edvaldo Brito e o ex-governador Waldir Pires estão no páreo e prometem ser 'puxadores' de voto em outubro

Em nome do filho (Foto: Edição/247)
Elieser Cesar_Bahia 247

Enquanto o ex-governador Waldir Pires, de 85 anos, e o vice-prefeito Edvaldo Brito, 75; estão com o pé dentro, Everaldo Bispo, 64, está pisando para fora. No batismo outonal e eleitoral (para a Câmara de Salvador), Waldir e Edvaldo são candidatos com forte vocação a puxadores de voto e a liderar uma espécie de "senadinho", pela experiência longeva de quem palmilhou mais de meio século de política brasileira, do final do governo João Goulart, atravessando a ditadura militar e as incertezas da redemocratização comandada por uma eminência parda e subjetiva denominada "governabilidade", álibi para todos os conchavos.

Já o vereador Everaldo Bispo, em seu terceiro mandato e enfeixando uma experiência que o tornou presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal, se confessa cansado com o ritmo lento dos trabalhos legislativos. "Temos mais de 400 projetos não votados. Não é fácil ser vereador. É difícil, quando não há participação no dia a dia", confessa o edil, numa alusão à falta de quórum em plenário que, quase toda semana, derruba as sessões, potencializada por uma conveniência pluripartidária em ano eleitoral, quando cada vereador pensa mais na renovação do mandato do que na presença no Paço Municipal.

De fato, o eleitor pode se perguntar: 'O que fizeram em quase quatro anos, se deixaram acumular tantos projetos, travando a pauta do legislativo municipal?' Para os mais argutos, a resposta não parece complicada. Portanto, abriremos mão de didatismos pedagógicos. Quem não souber (ou fingir que não sabe) a resposta concorrerá ao prêmio "Minha Câmara, nossa vida..."

Para o desistente Everaldo, "a população deve julgar quem comparece ou falta às sessões". Formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), em 1981, Bispo deixará a Câmara Municipal para ser pastor da advocacia, que diz exercer com desprendimento e em favor dos mais necessitados de justiça.

Rebento de si mesmo

Mas não pensem que, no lugar de si próprio, o vereador não pretende colocar um rebento de si mesmo. Everaldo Bispo planeja sair de cena para por, no proscênio da Câmara de Salvador, um futuro ator (no sentido de atuação profissional, convenhamos) da política: o filho Kiki, de 37 anos. Portanto, se exitosa, será uma transição familiar de Bispo para noviço na política, para aumentar a "bancada dos juniores".

Do histórico MDB e, hoje no PMDB, Everaldo Bispo diz ter ingressado na política pelas mãos do ex-governador Roberto Santos, em 1982. Na eleição passada foi um dos vereadores mais votados com 8.010 votos. Ele garante que teria uma reeleição assegurada, mas vai abrir mão do provável próximo mandato em nome do filho. Não confessa, mas se sente decepcionado com o que ele e seus pares não conseguiram fazer.

Nas entrelinhas, deixa entrever: "Ainda tenho esperança de que a maneira de se fazer política vai mudar. Por isso, mesmo com a consciência do dever cumprido, saio de cena e aposta na renovação".

Uma renovação que, para o vereador, contemplaria o filho Kiki, mas não o histórico Waldir Pires. "Waldir, renovação? Ora, ele deveria ter pegado o boné e saído depois da renúncia ao Governo da Bahia, que frustrou uma legião de baianos, como a mim próprio" diz, implacável, Everaldo, que já comunga em outras mudanças. Com DNA da família.