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Geral

Encontro discute situação dos moradores de rua

Com o objetivo de promover debates sobre as diversas opressões presentes na sociedade, um grupo de estudantes da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)-Sul criou a Coletiva Identidades; com o lema "Todo ponto de vista é a vista de um ponto", estudantes formularam uma ampla programação abordando temas como diversidade sexual, direito à moradia, transexualidade, arte de rua, cultura negra, ditadura e, neste primeiro dia, questões referentes à população em situação de rua

Com o objetivo de promover debates sobre as diversas opressões presentes na sociedade, um grupo de estudantes da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)-Sul criou a Coletiva Identidades; com o lema "Todo ponto de vista é a vista de um ponto", estudantes formularam uma ampla programação abordando temas como diversidade sexual, direito à moradia, transexualidade, arte de rua, cultura negra, ditadura e, neste primeiro dia, questões referentes à população em situação de rua (Foto: Leonardo Lucena)
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Débora Fogliatto, Sul 21 - Com o objetivo de promover debates sobre as diversas opressões presentes na sociedade, um grupo de estudantes da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)-Sul criou a Coletiva Identidades. No ano passado, o grupo realizou a primeira Semana da Diversidade da faculdade e, neste ano, voltou a proporcionar debates sobre desigualdades e direitos humanos. Com o lema "Todo ponto de vista é a vista de um ponto", a segunda Semana defende que "Toda interpretação é política, carrega consigo a visão que é desenvolvida a partir do lugar social de quem olha".

A partir desses conceitos, os estudantes formularam uma ampla programação, que começou nesta segunda-feira (19) e segue até a próxima sexta-feira (23), abordando temas como diversidade sexual, direito à moradia, transexualidade, arte de rua, cultura negra, ditadura e, neste primeiro dia, questões referentes à população em situação de rua.

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Durante cerca de duas horas, a conversa transcorreu entre as jornalistas formadas pela instituição Tatiana Reckziegel e Desirée Ferreira; o integrante do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) Anderson Ferreira e a diretora da Escola Municipal Porto Alegre, Jacqueline Junker.

Invisíveis 

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As ex-estudantes relataram sua experiência com o projeto Mulheres Invisíveis, resultado de seu trabalho de conclusão de curso em Jornalismo, que consistiu em uma grande reportagem multimídia sobre a vida de quatro mulheres em situação de rua. A partir de visitas ao Albergue Municipal, em que conversaram com diversos frequentadores, tiveram a ideia de afunilar o trabalho para tratar especificamente de mulheres. “As mulheres estão em uma situação muito diferente, pois os homens são a maioria [na rua]. Então dentro dessa minoria, tem outra minoria, que são as mulheres, que além da fragilidade social ainda passam violências específicas”, explicou Tatiana.

A realização do trabalho foi importante para mudar as concepções das jovens sobre a realidade das pessoas em situação de rua, levando-se em conta que, tendo sido criada em famílias de classe média, não haviam tido muito contato com essa população anteriormente. “Claro que tínhamos um estereótipo sobre essas pessoas e suas trajetórias, e com essa oportunidade começamos um processo de desconstrução”, afirmou. Ela criticou ainda o fato dessa população ser tratada pela mídia e grande parte da sociedade como “um problema social”, enquanto na realidade “são pessoas como nós, e devemos entender suas escolhas e sua situação”.

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Depois de fazer entrevistas no Albergue, elas foram para a rua procurar histórias, segundo contou Desirée. Conheceram então as quatro protagonistas do trabalho: Michele, Elaci, Mercedes e Valquíria. “Elas todas fugiram muito do estereótipo que a gente tinha sobre pessoas em situação de rua. Sempre buscamos fazer imagens que as mostrassem sem esse estereótipo e como elas queriam ser mostradas. Foi uma experiência que nos ensinou muito”, relatou ela, que é fotógrafa.

Elas entenderam, por exemplo, porque muitas pessoas em situação de rua não passam a noite em albergues: muitas vezes não há vagas e, além disso, não é possível levar todos os pertences para os locais. “Se a pessoa tem um colchão, ela não pode levar ele pro albergue. Daí se desfaz dele, dorme no albergue, mas se depois não conseguir mais vaga, já não tem mais o colchão também”, relatou Tatiana.

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Dignidade pela educação

Uma das entrevistadas, Valquíria, vivia ao lado da Câmara Municipal, em uma comunidade de 15 pessoas, que no entanto não são fixas, mas sim mudam com o passar dos dias. Ela frequentava a escola EPA e, conforme relata Tatiana, tinha muito orgulho disso. “Ela sentia que aquilo construía a dignidade dela, nos mostrava cadernos caprichosos”, afirmou.

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Ao ouvir a fala da diretora da escola, na mesma noite, essa preocupação com a construção da dignidade dos estudantes fica explícita. Jacqueline, além de lecionar e dirigir a escola, articula uma instituição preocupada com acolhimento, integração, respeito às histórias de vida e aceitação da diversidade que diferencia a EPA. Apesar de aberta à comunidade, a escola prioriza pessoas em situação de rua e de vulnerabilidade.

“Nós aprendemos a escutá-los, ouvir, acolher as histórias de vida, o sorriso, a dor. Eles não são meros sobreviventes, eles vivem e conseguem viver na contradição. A gente trabalha com projeto de vida e não tem que ser esse estereotipado que todo mundo tem”, afirmou. Jacqueline acredita que a integração entre serviços de educação, saúde e assistência social é essencial ao se tratar dessa população. “A escola oferece banho, e  tem gente que diz que isso cabe à assistência social fazer. Se a pessoa não conseguiu ou não quer abrigagem, tem que ter a mínima condição de estar numa sala de aula”, exemplifica. Para ela, a educação é também baseada na premissa de que “poder cuidar de mim é uma forma de aprender a pensar no mundo em que eu vivo”.

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A diretora aponta que as escolas são espaços muito tradicionais em geral, e que a EPA procura fugir um pouco dessa estrutura rígida. “Na teoria, tem vaga para todo mundo na rede [pública de educação]. Mas ter vaga não é acolher, entender, trazer a vida para dentro da escola. Precisa aceitar esse diverso e isso não é só abrir vaga. É estrutura, olhar, acolher este outro que até então não tinha como ou não conseguiu permanecer na escola”.

Movimento da População de Rua

Representando o MNPR, Anderson, que morou na rua durante dez anos, falou da origem do movimento e das batalhas que já foram travas até aqui. Ele foi um dos fundadores do braço gaúcho do MNPR e, agora, é também ator de teatro de rua e educador social que trabalha com redução de danos. A organização por parte da população de rua começou em São Paulo, após o famoso Massacre da Praça da Sé, em 2003, que feriu 15 pessoas que dormiam no local, matando oito.

No ano seguinte, conversas começaram na capital paulista e em Belo Horizonte, quando a população em situação de rua “decidiu ir para a luta e começar a discutir, construir uma política nacional”, contou Anderson. Cerca de quatro anos depois, a mobilização chegou a Porto Alegre.

Mesmo com tantos diferenciais, a EPA está ameaçada de fechamento. A Prefeitura de Porto Alegre decidiu, há um ano, que a escola teria suas atividades encerradas para que o espaço onde ela se encontra dê lugar a uma escola de educação infantil. Desde então, o MNPR e a comunidade escolar têm travado discussões, protestos e audiências para conseguir o direito de manter o local. Atualmente, vigora uma decisão judicial que proíbe o poder público de fechar o espaço. “Apesar de haver vagas, o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) em Porto Alegre é praticamente todo de noite. Então a população em situação de rua teria que optar por dormir em albergue ou estudar”, destaca.

Em 2007, o atual Centro Pop — na época, chamado Casa de Convivência — não tinha banho quente para se tomar no inverno, o que se tornou uma demanda dos frequentadores. “Para algumas pessoas, um banho pode ser uma coisa do cotidiano, mas a população de rua não tem direito nem a isso. Começamos a querer questionar. Na época, alguns trabalhadores que entendiam que era possível uma organização política incentivaram um grupo a fundar aqui uma base do MNPR”, relatou.

Quando o Massacre da Sé completou cinco anos, foi marcada a fundação do grupo em Porto Alegre. Em Brasília, um ano depois, o então presidente Lula lançou a Política Nacional para População em Situação de Rua, mas até hoje “não se consegue ter acesso aos direitos que a grande maioria da população tem”, explicou Anderson. O movimento não é relacionado a nenhum partido político,segundo afirmaram ele e Jacqueline, que também participa da organização, mas conversa com grupos envolvidos em assuntos semelhantes, como a luta por moradia e reforma urbana.

Confira a programação para os próximos dias da Semana da Diversidade:

◣Terça-feira 20/10◥

> 9h – O lado sombrio do estado brasileiro – Auditório Prédio B
DITADURA MILITAR | DEMOCRACIA | RESISTÊNCIA
– Ignez Maria Serpa Ramminger – Comitê Carlos de Ré da Verdade e da Justiça do RS
– Raul Ellwanger – Comitê Carlos de Ré da Verdade e da Justiça do RS

> 14h – Cine-debate sobre o filme “Mais Náufragos que navegantes” – Auditório Prédio C
AMÉRICA LATINA | DIREITOS HUMANOS | INTEGRAÇÃO
– Jair Lima Krischke – presidente do Movimento de Justiça e Diretos Humanos

> 19h30 – Corpo negro caído no chão – Auditório Prédio B
GENOCÍDIO NEGRO | RACISMO | VIOLÊNCIA POLICIAL
– Onir Araújo – Frente Quilombola do Rio Grande do Sul
– Ubirajara Toledo – IACOREQ

◣Quarta-feira 21/10◥

> 14h – Cidade que exclui – Cine-debate dos filmes “Leva” e “O que é nosso – Reclaiming the jungle” – Auditório Prédio C
DIREITO À CIDADE | OCUPAÇÕES | RESISTÊNCIA
– Ceniriani Vargas da Silva – Coordenadora do Movimento Nacional de Luta pela Moradia- Porto Alegre
– Mateus Miranda – estudante de Ciências Socias pela UFRGS e integrante do Coletivo Arruaça

> 19h30 – Quem tem o poder? – Auditório Prédio B
PATRIARCADO | PROSTITUIÇÃO | PORNOGRAFIA
– Júlia Franz – artes combinadas na Universidade de Buenos Aires
– Luelen Gemelli – Feminista, ativista e profissional do sexo
– Negra Jaque – Música de Hip-Hop

◣Quinta-feira 22/10◥

> 9h – Cultura e apropriação – Auditório Prédio B
INDÚSTRIA CULTURAL | ETNIAS | MARGINALIZAÇÃO
– Ana Langone – KUNTU
– Nina Fola – Africanamente

> 14h – Dizem os muros – Auditório Prédio C
PIXO | ARTE | VOZ
– Fábio Eros – Artista visual e grafiteiro
– Filipe – Harp Brasil

> 19h30 – (Trans)vivências – Auditório Prédio B
GÊNERO | TRANSEXUALIDADE | PROTAGONISMO
– Adriana Souza – Pós graduada em Filosofia Política pela FAFIMC e Ditática da Língua Portuguesa pela UCB
– Bernardo Dal Pubel – Fotógrafo, Artista e Transativista
– Eric Seger – Estudante de Educação Física da UFRGS, bolsista do Nupsex e do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT)

◣Sexta-feira 23/10◥

> 9h – Nosso Norte é o Sul – Auditório Prédio B
COLONIALISMO | IMPERIALISMO | NOVAS PERSPECTIVAS
– Paula Grassi – Mestranda em Educação no Programa de Pós-Graduação da Unisinos
– José Carlos dos Anjos – Professor Dr. de Ciências Sociais da UFRGS
– Marcos Bohner – Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná

> 14h – Nenhum ser humano é ilegal – Auditório Prédio C
REFUGIADOS | IMIGRANTES | INCLUSÃO
– Luiza Corrêa de Magalhães Dutra – Grupo de Assessoria a Imigrantes e a Refugiados-SAJU/UFRGS
– Marina Soares Scomazzon – Grupo de Assessoria a Imigrantes e a Refugiados – SAJU/UFRGS
– Alix Georges – Haitiano
– Isam Ahmad Issa – Comitê em Defesa do Direito do Retorno e ex-professor da Universidade de Bágda
– Nader Baja – Centro Cultural Palestino do Rio Grande do Sul
– Mor Ndiaye – Senegalês

> 19h30 – Para além da heteronormatividade – Auditório Prédio B
SEXUALIDADE | GÊNERO | NOVAS ESTÉTICAS
– Fernanda Nascimento – Gênero, Mídia e Sexualidade
– Paula Sandrine – Dra. em Antropologia Social pela UFRGS
– Célio Golin – Fundador do Nuances – grupo pela livre expressão sexual

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