Explique-se, Dom Emílio!

247 – O presidente mundial do banco Santander, Emílio Bontín, se diz um aficionado por Fórmula 1. Como de costume, ele desembarca em São Paulo esta semana para marcar presença no Grande Prêmio do Brasil. Mas seu interesse pelo evento sempre foi além das pistas de corrida. Esse é o momento em que ele aproveita a vinda ao País para pedir uma audiência com o presidente. Mas esta é a vez em que ele chega mais pressionado.

Nos últimos dias a estratégia do banco de drenar os recursos da filial brasileira para a Espanha para tapar o buraco da matriz se tornou mais descarada, alarmando o governo. Com a corda no pescoço após o rebaixamento da Moody’s e o agravamento da crise financeira na Espanha, o banco tem se aproveitado dos bons resultados do Brasil, colocando em risco investidores e clientes. Depois de promover uma intensa remessa de recursos da filial brasileira para a sua sede mundial, em Madri, agora a estratégia do Santander é fazer uma emissão secundária de ações na Bolsa de Nova York, no valor total de R$ 4,428 bilhões de reais. Os papéis que serão oferecidos ao mercado americano, à quantidade de 310,8 milhões de unidades de ações, pertencem ao Santander Brasil e são negociados na Bolsa de Valores de São Paulo sob o código SANB11.

A estratégia deve provocar uma forte redução no valor atual das ações nas mãos de investidores brasileiros, à medida em que milhões de novas unidades estarão no mercado. Além disso, é forte a desconfiança de que o dinheiro a ser arrecadado pelo Santander não será investido em sua operação no Brasil, mas sim na Espanha.

Os recursos que deveriam ser investidos para melhorar o atendimento no País voam para o exterior. Recentemente, o Santander assumiu o topo do ranking das instituições financeiras com o maior índice de reclamações de clientes, feito pelo Banco Central. Entre outubro de 2010 e outubro de 2011, apesar das garantias de assessores do banco de que há grande preocupação interna com o atendimento na rede de agências, o volume de reclamações praticamente dobrou, saltando do índice 0,56, apurado pelo Banco Central, para o de 1,02 por 100 mil clientes, atualmente. Em setembro, o Santander exibia um índice de 0,84 de reclamações, o que reforça a impressão de que a qualidade do serviço prestado está em queda.

Com esse histórico, a conversa com a presidente Dilma não promete ser nada agradável.