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FHC debate nostalgia da mídia aristocrática

Ex-presidente reúne outros ex-presidentes latino-americanos para debater “meios de comunicação e democracia na América Latina”, justamente no momento em que nunca houve tanta liberdade de expressão; que risco enxergam?

FHC debate nostalgia da mídia aristocrática (Foto: Edição/247)

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247 – “Você, com o seu computador, pode ser um Roberto Marinho, se tiver algo dizer”. A frase, do escritor Fernando Morais, foi dita no ano passado, em Recife, num evento que comemorou a história do jornal Movimento, um dos mais importantes durante a ditadura. “A expressão individual é o entretenimento do século XXI”, disse a jornalista Arianna Huffington, dona do site americano Huffington Post, um ano atrás no Brasil. O mundo vive hoje uma plenitude da liberdade de expressão. Na América Latina, que já conviveu com a censura e onde a inclusão digital avança a passos largos, o fenômeno é ainda mais pronunciado. A influência migra do papel para o online, blogueiros amadores se tornam muitas vezes mais relevantes do que jornalistas de veículos tradicionais e os leitores se expressam com veemência nos sites e redes sociais.

Nesse ambiente de plena liberdade, com muito mais vozes do que no passado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso promove nesta terça-feira em seu instituto, em São Paulo, o debate “Meios de Comunicação e Democracia na América Latina”. A temática subliminar é o risco que governos de esquerda no continente representariam para a liberdade no continente. Tanto que, entre os debatedores, estão Carlos Mesa, ex-presidente da Bolívia, que deixou o cargo em 2005, diante de uma convulsão social, e Osvaldo Hurtado, que presidiu o Equador entre 1981 e 1984 – um país onde o atual presidente, Rafael Correa, é frequentemente apontado como inimigo da liberdade de expressão.

Nostalgia aristocrática

O que ocorre nos meios de comunicação, na verdade, é a soma de duas transformações simultâneas: a tecnológica, do papel para o online, e a cultural, do pago para o gratuito. A elas, se acrescenta uma terceira, na América Latina, que é a mudança no eixo político, com maior inclusão social e participação popular – o que já se reflete em vários setores da sociedade, menos nos meios de comunicação tradicionais.

Um exemplo claro desse choque entre o velho e o novo mundo ocorreu no fim de semana, quando a revista Veja atribuiu a “insetos” e “robôs” os protestos de que tem sido alvo, com frequência, nas redes sociais. Na verdade, os “insetos” e “robôs” são pessoas de carne e osso que passaram a se expressar e decidiram ter voz num mundo que, no Brasil, antes era dominado por quatro famílias. E que ainda confundem nostalgia aristocrática com liberdade de expressão.

(PS: para acompanhar as transformações em curso nos meios de comunicação, uma das melhores referências não é o iFHC, mas o Blog da Cidadania, de Eduardo Guimarães. Leia, ainda, reportagem anterior do 247 sobre o medo da mídia na América Latina).

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