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Gigantes. O que provoca o crescimento anormal do corpo?

Pesquisadores descobrem uma nova forma de gigantismo humano, explica o prof. Albert Beckers, chefe do departamento de endocrinologia na Universidade de Liège, Bélgica.

Gigantes. O que provoca o crescimento anormal do corpo?

 

 

Por Albert Beckers – Le Figaro

 

O tamanho é geralmente - mas nem sempre -, uma questão de hormônios. Tais excessos, nanismo ou gigantismo, às vezes de origem genética, são estudados em nosso laboratório na Universidade de Liège. Começamos a nos interessar por adenomas hipofisários há mais de trinta anos. A hipófise é uma glândula localizada abaixo do cérebro, logo atrás da intersecção dos olhos. Ela produz diversos hormônios, incluindo o hormônio de crescimento.

Quando ocorre uma hipersecreção do hormônio de crescimento motivada por um adenoma hipofisiário na idade adulta, ela causa um quadro clínico chamado acromegalia. Os doentes adultos não crescem mais, pois os seus ossos estão soldados, mas ocorre uma hipertrofia dos tecidos, incluindo o das mãos e dos pés que começam a crescer, e as características faciais são modificadas. Quando a hipersecreção do hormônio de crescimento ocorre antes do final da puberdade, isto é, durante a infância ou na adolescência, ela provoca um aumento do tamanho. Fala-se então em gigantismo.

Após ter descoberto uma nova forma familiar de adenomas hipofisários denominada Fipa (Familial Isolated Pituitary Adenomas), fui levado a me interessar mais especificamente pelos gigantes. Na verdade, os gigantes são especialmente comuns nesta forma familiar. Em 2011, lançamos um estudo internacional para compreender melhor o gigantismo e suas causas. Este estudo abrangeu 208  pacientes recrutados em 47 centros e 18 países. Ele acaba de ser publicado no jornal Endocrine Related Cancer. Tal estudo permitiu descobrir uma nova causa do gigantismo. A descoberta, realizada em colaboração com o Dr. Stratakis do National Institute of Health de Bethesda (USA) permitiu identificar uma forma especial de gigantismo que foi chamada X-LAG para X-Linked Acro-Gigantism. Na verdade, trata-se de uma forma de gigantismo ligada a uma anomalia no nível do cromossomo X.

 

O turco Sultan Kosen, o homem mais alto do mundo na atualidade (2,51 m) encontra em Londres Chandra Bahadur Dangi, o menor homem do mundo (54,6 cm) )

 

Aberração cromossômica

Trata-se de uma síndrome especial que começa no berço e que gera os maiores gigantes. As crianças nascem absolutamente normais, mas crescem anormalmente antes de 1 ano de idade. Elas desenvolvem um grande tumor na hipófise que, alterada em suas funções pela presença do tumor, passam a secretar quantidades extraordinárias do hormônio de crescimento.  Nessas crianças aparece uma vertiginosa taxa de crescimento. Uma criança de 6 anos  de idade já pode ter o tamanho de um adulto. Em paralelo, os pesquisadores puderam determinar qual era a anomalia presente no cromossomo X: trata-se de uma duplicação de genes. Até agora, verificou-se que 4 genes aparecem sempre duplicados, mas um deles está hiper expresso nos tumores que puderam ser estudados.Por isso, ele é muito provavelmente o culpado. Trata-se do gene GPR101, que codifica um receptor cuja função ainda é desconhecida.

Publicados na revista The New England Journal of Medicine, os resultados deste estudo destacam a duplicação do gene GPR101 como explicação para o desenvolvimento dos maiores gigantes do mundo. Sem ser capaz de verificá-lo, eu poderia  apostar  alto  que Robert Wadlow, que media 2m72, isto é, o maior gigante jamais medido, sofria da síndrome X-LAG.

Transmissível

Essa aberração cromossômica demonstrada é dominante e afeta um pouco mais as mulheres que os homens. Trata-se também da segunda causa genética da Fipa. O gigantismo pode ser transmitido em uma família. O receptor para o qual codifica o gene GPR101 está certamente amplamente implicado na regulação do hormônio de crescimento e seu papel estaria intimamente ligado ao GHRH (trata-se de um hormônio de liberação do hormônio de crescimento) cujo receptor está também sobre-expresso em pacientes afetados por este transtorno.

Até aqui, as aberrações cromossômicas implicadas nos adenomas hipofisários, consistiam em mutações genéticas e não na duplicação das mesmas. Estas descobertas mostram, portanto, um novo mecanismo genético no nível hipofisiário, um novo modo de regulação do crescimento e do hormônio de crescimento, uma segunda causa de doença familiar Fipa e ajudam a explicar os maiores gigantes do mundo. Pesquisas adicionais serão necessárias para entender melhor o papel do “receptor” envolvido nesse processo.