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Gil: "As esquerdas estão todas em xeque"

Apesar de estar desapontado com a política, inclusive com a esquerda, pela qual tanto militou, o cantor e compositor baiano deve se filiar ao Rede, partido que a amiga Marina Silva está fundando; Gil fala ainda do movimento das redes sociais contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e das denúncias de corrupção que também envolvem o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB); "A questão de desempenho deles, como de qualquer outro, ou outros quaisquer, vai depender da força da capacidade de pressão da sociedade"

Gil: "As esquerdas estão todas em xeque" (Foto: Divulgação)
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Bahia 247

Apesar de andar meio desapontado e de garantir que não vai mais militar em movimentos políticos, o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil afirma que pode se filiar ao Rede, o partido que está sendo criado pela amiga e ex-senadora Marina Silva, que disputou a presidência da República em 2010 pelo PV.

"É. Eu posso acabar indo para lá. É bem possível", disse o cantor e compositor em entrevista ao site Bahia Notícias nesta segunda-feira (11) de carnaval, em seu camarote, o Expresso 2222. "Tudo o que eu puder fazer para Marina realizar o sonho dela, o desejo dela, o projeto dela, eu farei".

Mesmo com a simpatia pelo novo partido de Marina, Gil se mostra desinteressado pelas atividades político-partidárias e, em geral, contesta o discernimento da esquerda no Brasil. "As esquerdas estão todas em xeque". Abaixo trecho da entrevista de Gil ao Bahia Notícias.

Bahia Notícias - BN – A reforma política que está no Congresso já prevê mudanças em relação ao financiamento das campanhas políticas e quem vai tocar esse projeto na Câmara e no Senado são duas figuras contestadas: respectivamente, o Henrique Eduardo Alves (RN) e o Renan Calheiros (AL). São dois integrantes do PMDB, com um milhão de denúncias sobre eles, mas com a responsabilidade de liderar os debates sobre toda essa temática de financiamento público de campanhas, reforma política, distribuição dos royalties do petróleo... Gil vê como esse cenário político?

Gilberto Gil – A questão de desempenho deles, como de qualquer outro, ou outros quaisquer, vai depender da força da capacidade de pressão da sociedade. Não só de pressão, mas da capacidade de conceituação e reflexão da sociedade. A sociedade vai conseguir apresentar ideias interessantes, projetos interessantes, modelos interessantes? Realmente novos e avançados em relação ao que está aí? Se sim, com que força esse novo ideário, com relação à vida política, chegará ao Congresso? Vai depender disso. A força com que a força da voz das ruas chegará ao Congresso. Isso é que vai determinar o modo de se comportar do Renan, do Henrique, de todos que estão lá. De qualquer um. Porque, se ficar tudo na mão deles, eles vão fazer conforme o que eles acharem (risos).

BN – Você não acha que a sociedade brasileira é desorganizada o suficiente para ver tudo de camarote, não?

GG – Não sei. Ninguém sabe. O mundo está começando a mudar um pouco: a Europa, o Oriente Médio, mesmo nos Estados Unidos você tem movimentação social, original, nova.

BN – Mas nós tivemos um fenômeno recente de um chamado retrocesso, no caso de a direita conseguir voltar a ocupar alguns espaços importantes da Europa – a França só é exceção desde o ano passado –, inclusive o leste europeu, onde prosperou o comunismo, e até mesmo aqui em Salvador, com a eleição do ACM Neto. Isso não mostra um retrocesso e não um avanço da concepção política da sociedade?

GG – Mas aí já é outra coisa. As esquerdas também estão todas em xeque. Estão todas contestadas no mundo inteiro. Toda essa franja da social-democracia, quer dizer, onde a gente pode inserir PT, PSB, PCdoB e mesmo o PSDB, tudo isso está, enfim, da mesma maneira que DEM. O descrédito com a política é muito grande no mundo inteiro. Você está vendo a Espanha agora. Se socorreu de uma alternativa de direita, depois dos anos todos de Partido Socialista e está lá decepcionadíssima, apavorada, sem saber o que fazer por causa das denúncias de corrupção, de incompetência, de incapacidade de lidar com a crise.

BN – A própria Itália também com Silvio Berlusconi e, agora, com Mário Monti...

GG – A Itália nem se fala. E a Grécia, e a Irlanda e Portugal e A e B. E a incapacidade de a política conceber uma forma de o Estado se tornar um agente importante dessa coisa da regulação do mundo financeiro, do mundo produtivo etc., e as marcas estão reinando soltas (risos). O capitalismo está totalmente autônomo. O capitalismo está totalmente voltado para si mesmo.

BN – Adam Smith estava certo, né (risos)?

GG – O fato de que o setor financeiro é o setor mais importante do capitalismo contemporâneo é um sintoma disso. O capitalismo está todo voltado para si mesmo, ele só produz para si mesmo. A sociedade está à deriva. Completamente solta no mundo. Mas ela está começando a perceber isso.

BN – Que ela está surfando em uma onda da qual não controla...

GG – Ela está percebendo isso e está começando a se manifestar. Os movimentos todos nos Estados Unidos, mesmo em áreas ainda 'atrasadas' do Oriente Médio, a voz da rua, da sociedade, está começando. Eu acho que tudo isso pode levar a uma transformação compulsória, a um avanço compulsório. Voltando aí à presidência da Câmara e do Senado é exatamente isso.

BN – Não há alternativas?

GG – Não há alternativas.

BN – E aí, Gilberto Gil poderia se colocar como alternativa ou acabou em 2008 [quando deixou o Ministério da Cultura] o seu ciclo de vida pública?

GG – Não, não. Se tornar ou se capacitar a ser uma liderança hoje em dia é uma coisa muito complicada. Complicada por causa de tudo isso. Você vai liderar o quê? Quem? Em nome de quê?

BN – Qual a bandeira?

GG – É tudo muito fragmentado, fragmentário...

BN – É um mosaico...

GG – Um mosaico enorme de coisas, enfim. Acabaram aqueles líderes consensuais e etc., etc. etc. de uns tempos atrás. Eles já não estão mais aí hoje. Você vê as dificuldades de um cara preparadíssimo, competentíssimo como Obama, por exemplo, nos Estados Unidos, onde a sociedade está lá: metade quer ir para onde ele vai e a outra metade quer ir para longe (risos).

BN – Lá, ele esbarra em uma Câmara dos Representantes de maioria republicana...

GG – Em todos os lugares é assim. O outro, [François] Hollande [presidente francês, sucessor de Nicolas Sarkozy], vem do campo socialista, se elege na França e fica sem poder fazer nada, obrigado a contemplar itens da agenda conservadora por força desse mínimo balanço, desse mínimo equilíbrio político, dessa mínima estabilidade política que é preciso perseguir o tempo todo... Tudo isso está em xeque. A crise é séria, é grande no mundo todo. Não é um problema só brasileiro.

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