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Gregório Bezerra, este sim, um verdadeiro brasileiro

O ano de 2013 marca os 30 anos da morte de um dos maiores políticos e defensores da democracia no Brasil; agricultor, trabalhador doméstico, operário da construção civil, militar e militante comunista; o pernambucano Gregório Lourenço Bezerra foi um dos primeiros a ser preso e torturado pelo regime militar após o golpe de 64, fato reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade no Recife; mais do que fazer parte da história, sua vida é uma lição na busca por um País justo e menos desigual

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Paulo Emílio_PE247 - O ano de 2013 será emblemático para a democracia brasileira. O calendário marca os 30 anos da morte de um dos maiores políticos e defensores da democracia no País. Agricultor, trabalhador doméstico, operário da construção civil, militar, militante comunista. O pernambucano Gregório Lourenço Bezerra, que viria a ser conhecido simplesmente como Gregório Bezerra, foi um dos primeiros a ser preso e torturado pelo regime militar após o golpe de 64, como reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade no Recife. Sua coragem em defender a liberdade e a luta pelos direitos sociais e trabalhistas, bem como o fato de não ter delatado nenhum de seus companheiros, mesmo sob tortura, renderam o reconhecimento da grandeza de espírito do militante tanto pela sociedade como pelo seu torturador, o coronel do Exército Darcy Ursmar Villocq Vianna.

Filho de agricultores da cidade de Panelas de Miranda, hoje Panelas, no Agreste pernambucano, Gregório nasceu em 13 de março de 1900. Começou a trabalhar na lavoura aos cinco anos de idade, preparando roçados para o plantio. Mudou-se para o Recife entre os 16 e 17 anos, onde trabalhou como carregador, empregado doméstico, vendedor a operário da construção civil. Em 1917, já como ajudante pedreiro, foi preso pela primeira vez ao participar de uma greve por melhores salários e que também prestava solidariedade ao movimento bolchevique, recém-iniciado na antiga União Soviética. Só foi libertado cinco anos depois, em junho de 1922.

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No mesmo ano em que ganhou as ruas, Gregório alistou-se no Exército. Transferido para o Rio de Janeiro, dedicou-se a não mais ser analfabeto e, de forma autodidata, aprendeu a ler e escrever para tornar-se sargento.  Já com a patente de segundo-sargento, foi designado como instrutor de uma companhia de metralhadoras e de esportes em uma unidade militar de Fortaleza (CE). Acabou solicitando sua própria transferência para a 7ª Região Militar, no Recife.

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Militância

Foi no Exército que começou a travar os primeiros contatos com integrantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual viria se afiliar em 1930. Ainda em Fortaleza, Gregório organizou de forma clandestina e contra a orientação do partido, uma célula comunista juntamente com outros cinco militares. Na ocasião, também criou um círculo socialista de leituras e debates.

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Em 1935, tornou-se um dos líderes da luta armada em Pernambuco, pela Aliança Nacional Libertadora (ANL), durante a Intentona Comunista.  Gregório acabou preso por três anos na antiga Casa de Detenção do Recife e foi condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional a cumprir uma pena de mais de 20 anos de detenção. Visto como ameaça, ele foi transferido para o presídio que funcionava na Ilha de Fernando de Noronha. O que hoje é considerado um paraíso natural, na época era visto como um inferno em função do isolamento e das duras condições a que os presos eram submetidos. Dali,  foi transferido novamente. Desta vez para Ilha Grande, no Rio de Janeiro e, na sequência, para o presídio Frei Caneca, onde dividiu uma cela com o líder comunista Luiz Carlos Prestes.  

Em 1945 veio um alento. Gregório foi anistiado e o PCB voltou à legalidade. Candidatou-se pelo partido e conseguiu ser o segundo deputado federal mais votado em Pernambuco. Em 1948, o comunismo voltou a ser considerado ilegal e o parlamentar teve o mandato cassado. Em seu curto mandato, ele lutou pelo direito de voto dos analfabetos, dos soldados e por melhores condições de trabalho.

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Pouco tempo depois, foi imputado a ele um incêndio ocorrido no 15º Regimento de Infantaria do Exército, em João Pessoa (PB). O comunista foi preso novamente, desta vez no Rio de Janeiro, e transferido para a Paraíba, onde ficou 91 dias no xadrez. Em seguida, foi levado para o Recife para cumprir mais dois anos de reclusão.  

Um novo julgamento terminou por libertar o militante. Na clandestinidade, Gregório passou a atuar na organização de sindicatos rurais e na luta pela reforma agrária. Em 1963, por exemplo, foi um dos organizadores de uma greve onde 200 mil canavieiros cruzaram os braços por melhores condições de trabalho.

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Prisão, arrasto e tortura

Com o golpe militar de 31 de março de 1964, Gregório levantou-se contra a destituição e prisão do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e foi preso no dia 1º de abril ao tentar incentivar os camponeses e sindicatos rurais a pegarem armas para lutar contra o regime. Acabou sendo levado para a Companhia de Motomecanização, em Casa Forte, no Recife, no dia seguinte. Quando ainda descia da viatura, foi recebido a pancadas pelo comandante da unidade, o coronel Darcy Ursmar Villocq Vianna , mais conhecido como coronel Villocq, que viria a ser o responsável por um dos momentos mais marcantes dos primeiros dias da ditadura: a tortura e o arrasto do militante comunista com cordas amarradas ao pescoço e pelas ruas do bairro.

Villocq, que integrava a linha dura do regime, reconheceu a coragem do homem que torturou. Em uma dos poucos depoimentos sobre o assunto, o militar disse que recebeu o comunista “todo quebrado” e negou que tenha torturado Gregório. “O Gregório Bezerra foi quem teve atitude. Foi preso, não denunciou ninguém. Disse que era comunista, nasceu comunista... De todos, Gregório é que foi homem... Não dei porque não havia onde dar; ele já tinha apanhado tanto...”, disse Villocq à historiadora Eliane Moury Fernandes, em 1982.

Sobre o arrasto pelas ruas da cidade, Villocq relatou que havia recebido uma informação que dava conta que haveria uma tentativa de libertar o comunista. “Tomei um impulso. Peguei dois sargentos armados... Ele saiu comigo com a cordinha no pescoço, de leve... Não apertei”, disse o coronel em seu depoimento. Gregório, porém, conta outra versão no livro de memórias  que começou a escrever ainda na prisão. “Recebeu-me a golpes de cano de ferro na cabeça... Outros me desferiram pontapés e coronhadas... Laçaram-me o pescoço com três cordas... E assim fui arrastado pelas principais ruas de Casa Forte”, relatou Gregório. Villocq morreu em março do ano passado, aos 93 anos.

Gregório acabou libertado em 1969, juntamente com outros presos políticos, em troca do embaixador norte-americano, Charles B. Elbrick, sequestrado pelas organizações de resistência ao regime. Ele passou dez anos no exílio, no México e na União Soviética.

O líder popular retornou ao Brasil em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia. Desligou-se do PCB em função de divergências internas e candidatou-se a deputado federal pelo PMDB em 1982, onde ficou com a vaga de suplente.  Gregório Lourenço Bezerra morreu no ano seguinte, na cidade de São Paulo, no dia 23 de outubro, após uma vida inteira dedicada ao combate à desigualdade e por um Brasil mais justo.

 Veja uma rara entrevista concedida por Gregório Bezerra

 

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