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Homens, mulheres: haverá mesmo tanta diferença?

No existe desigualdade entre a capacidade mental das mulheres e a dos homens. Tudo leva a crer que o crebro humano no feminino nem masculino

Homens, mulheres: haverá mesmo tanta diferença? (Foto: Divulgação)
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Por Luis Pellegrini

Nas festas familiares de outrora, o ritual era sempre o mesmo: o casal chegava e cumprimentava os outros convidados. Passo seguinte, o casal se dividia: as mulheres se reuniam num canto do salão para falar dos filhos, das empregadas, dos últimos gritos da moda e do quanto é difícil combater a celulite. Num outro canto, os homens discutiam futebol, trabalho e política. Até hoje, para as faixas etárias mais idosas, as coisas muitas vezes continuam assim.

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Se baixarmos a faixa etária para os trinta anos, veremos que também nela a separação entre os sexos é evidente: balzaquianos de ambos os sexos têm crescente dificuldade para casar e, quando o fazem, têm cada vez menos filhos.

Baixando ainda mais, na infância e adolescência esses padrões se repetem. Meninos criam clubes do Bolinha, meninas clubes da Luluzinha. Claro, estimulados pelas testosteronas e demais hormônios, os adolescentes se aproximam na tentativa de viver os primeiros romances. Mas, fora desse contexto, a separação permanece: rapazes de um lado, moças do outro.

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O chamado de São Mateus, de Caravaggio

São poucos os que ousam afirmar que existe igualdade entre os sexos. Basta olhar ao redor para verificar que homens e mulheres parecem viver em mundos distintos. Todos estão mais à procura das diferenças que os separam do que das coincidências que os unem. Basta lembrar o escândalo suscitado há alguns anos por Lawrence Summers, reitor da Harvard, a mais prestigiosa universidade norte-americana, ao sustentar que as mulheres são negadas para a ciência.

O paradoxo é que tais controvérsias persistem num momento em que a própria ciência chega a conclusões praticamente opostas: As diferenças biológicas entre os dois sexos são inegáveis, mas não suficientes para condicionar visões opostas da realidade. Do ponto de vista comportamental, essas diferenças constituiriam principalmente, se não unicamente, o resultado de condicionamentos culturais. Derivam de uma revolução contemporânea dos papéis sociais que está ocorrendo sobretudo no mundo do trabalho – onde as mulheres se mostram cada vez mais combativas e presentes, concorrendo com os homens -, e também no âmbito das responsabilidades familiares, no qual as mulheres estão cada vez menos disponíveis e os homens permanecem ausentes.

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Cigana da sorte, de Caravaggio

Foi no final no início do século 20, com o advento da genética, que tiveram início as discussões científicas sobre as diferenças entre os dois sexos. Alguns cientistas afirmavam que os homens eram mais decididos e capazes porque possuíam o cromossomo Y, que as mulheres não possuem. A ciência genética evoluiu, e hoje chega-se a conclusões quase opostas: o cromossomo X, característico do sexo feminino, possui muitos genes a mais do que o Y. É, portanto, mais rico e complexo. Claro, isso ainda não prova nada em termos da superioridade de um ou do outro. Mas se juntarmos esse dado a outros recentemente obtidos por investigadores da psicologia comportamental, chegaremos a conclusões que certamente farão muitos homens ficar de orelhas em pé. Por exemplo, até há pouco os pesquisadores consideravam que os homens manifestavam uma atividade sexual mais intensa do que as mulheres por causa de uma hipotética “missão” biológica: o homem tendo sido, por milhões de anos, mais predador e promíscuo; a mulher, mais pacata e fiel por depender mais das relações sociais. Terri Fischer, professor de psicologia da Universidade de Ohio, descobriu que as coisas não são bem assim. Reunindo grupos de homens e de mulheres, ele submeteu aos integrantes desses grupos um questionário sobre a sua vida sexual. Algumas das perguntas induziam os participantes a acreditar que estavam ligados a uma máquina da verdade, a qual reagiria se a resposta fosse falsa. E Fischer descobriu que, sem a máquina, os homens se atribuíam em média quatro parceiras sexuais e as mulheres 2,6 parceiros. Mas, coligados à pretensa máquina, os homens desciam a 3,7 e as mulheres subiam a 4,4 parceiros! A causa dessas diferenças? Para Fischer, elas residem simplesmente nas expectativas sociais: os homens temem ser considerados pouco viris, as mulheres detestam ser vistas como demasiado “fáceis”.

Também não se sustentam as velhas teorias sobre o sentimento do ciúme que, por razões “biológicas”, seria diferente para homens e mulheres. Até há pouco, os psicólogos evolutivos afirmavam que as mulheres têm ciúme das traições afetivas porque temem perder a ajuda do parceiro na criação dos filhos, e que os homens têm ciúme das traições sexuais porque o terror deles (sempre do ponto de vista evolutivo) é desperdiçar sua energia criando filhos de outros homens. Mas Cristine Harris, da Universidade da Califórnia, depois de dez anos de estudos sobre o ciúme, concluiu que as diferenças só aparecem quando as perguntas são capciosas, feitas de maneira a influenciar as respostas. Em outras culturas, como a chinesa, apenas 25% dos homens declara ter ciúme das traições sexuais; 75% desses mesmos homens considera que a infidelidade sexual e a infidelidade afetiva são igualmente ameaçadoras e desagradáveis. Resultados análogos foram obtidos em relação a homens americanos e europeus, levando os psicólogos a concluir que, para homens e mulheres, tanto faz se as relações extraconjugais sejam sexuais ou platônicas: em qualquer caso, a infidelidade é motivo de ciúme.

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Garoto com cesta de frutas, de Caravaggio

Também no âmbito das capacidades mentais as velhas crenças estão mudando radicalmente. Atribuía-se ao homem, por exemplo, o domínio inquestionável das capacidades matemáticas. Até hoje, em alguns países europeus, os resultados estatísticos de exames vestibulares são citados para demonstrar a superioridade da mente masculina sobre a mente feminina na área das ciências exatas. “Mas, como bem se sabe, o cérebro é muito vulnerável à sugestão e aos condicionamentos. Esse órgão é estimulado pelo encorajamento e pela motivação. Da mesma forma, nada mais eficaz que o desencorajamento e a falta de incentivo para inibir as capacidades do cérebro”, afirma Catherine Vidal, neurobiologista do Instituto Pasteur de Paris. Durante séculos, ciências como a física, a engenharia, a astronomia e a química foram consideradas matérias “não adequadas” para as moças. Em vários países europeus, elas tiveram de esperar até a última década para superar numericamente os rapazes nos cursos de ciências exatas. Hoje, na Suécia e na Islândia as moças regularmente obtém melhores resultados que os rapazes nos exames de matemática e de física. Em 22 nações européias, nos testes de álgebra dos vestibulares para ingresso nas universidades, as moças se saem melhor que os rapazes.

A partir dos anos 70, passou a ser voz corrente a crença de que as mulheres possuíam melhor capacidade linguística e os homens eram mais hábeis nas questões que requerem inteligência espacial. As duas crenças, no entanto, estão desmoronando. Um estudo feito na Universidade de Yale provou que um grande número de mulheres tem, sim, maior capacidade linguística, mas pelo fato de utilizarem (11 mulheres dentre 19) os dois hemisférios cerebrais para reconhecer os vocábulos que fazem rima, enquanto os homens utilizam apenas o hemisfério direito. Esse mesmo estudo também demonstra que homens e mulheres usam o cérebro exatamente da mesma maneira para fazer exercícios de ortografia e para escolher os vocábulos. Todos os estudos feitos nos últimos dez anos mostram que a linguagem ativa do mesmo modo as regiões cerebrais masculinas e femininas.

Narciso, de Caravaggio

Conclusão: praticamente não existe diferença entre a capacidade mental das mulheres e dos homens. Tudo leva a crer que, nesse sentido, o cérebro humano não é feminino nem masculino. É simplesmente neutro. A seleção natural parece não ter o menor interesse em favorecer um dos sexos em detrimento do outro.

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