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Imunologia. O cenário perturbador de um futuro sem antibióticos

A OMS publicou um primeiro relatório sobre a resistência aos antibióticos, uma ameaça que está se tornando realidade. Pois sem os antibióticos, a medicina correria o risco de parecer ao que ela era no começo do século 20.

Imunologia. O cenário perturbador de um futuro sem antibióticos

 

Por Soline Roy - Le Figaro

 

A penicilina mudou o mundo. Mas seu descobridor, Alexander Fleming, Já alarmado em 1945 ao receber o prêmio Nobel de medicina, disse: :«Não é difícil tornar os micróbios resistentes à penicilina (…) expondo-os a concentrações que não sejam suficientes para matá-los.» Fleming imaginou um Sr. X, cuidando de uma dor de garganta com uma dose insuficiente de penicilina. Ele transmite para a Sra. X, bactérias que aprenderam a resistir ao antibiótico. Em seguida, este antibiótico foi administrado em vão para a paciente... que morreu de pneumonia. «Caso você use penicilina, use-a em quantidade suficiente», concluiu o médico.

Esta história esta se tornando uma realidade? Já existem pacientes para os quais nenhum antibiótico é eficaz e que morrem do que começou como uma infecção trivial. Agora, certas pessoas até imaginam um mundo no qual mais nenhum antibiótico funcionaria. Mergulho na ficção médica …

Cânceres e cirurgia

Sem antibióticos, iremos morrer por termos sido tratados. Os tratamentos contra o câncer ou antes de um transplante diminuem a imunidade dos pacientes. Os antibióticos os ajudam a lutar contra as infecções.

A medicina intensiva não é exceção. Ela também usa estes medicamentos para eliminar as bactérias que poderiam ser introduzidas com cateteres e outros dispositivos médicos inseridos no corpo doente tal como a cirurgia, com gestos tão variados, quanto uma operação cardíaca, uma cesariana ou o implante de prótese. Economistas britânicos da saúde calcularam que sem antibióticos, a instalação de uma prótese de quadril iria matar 1 paciente em cada 6. «Se perdemos os antibióticos, iremos perder a capacidade de fazer tudo isso », preocupava-se Tom Frieden em 2013, o diretor do Centro de Controle de Doenças (CCD) norte-americano.

25 mil mortes por ano na Europa

O cotidiano é cheio de situações de risco. Sem antibióticos, os arranhões poderão matar, dar a luz se tornará perigoso, uma simples otite poderá causar surdez … A OMS avalia que estas moléculas nos trouxeram vinte anos de expectativa de vida extra. Mas de acordo com a Agência Europeia de Medicamentos, 25 mil pessoas morrem a cada ano na Europa de infecções causadas por bactérias resistentes, e estas últimas custariam 1,5 bilhões de euros por ano para a União Europeia.

Devemos, portanto, nos preparar para a era pós-antibiótica. Primeiramente, por não infectar mais os mais frágeis: os biomateriais poderiam ajudar a criar próteses «limpas», e as ciências físicas estão tentando criar excelentes condições cirúrgicas (condições hiperbáricas, controle das temperaturas, uso de lasers ou de luzes UV…).

Cuidar através de fagos

Para combater as bactérias, algumas pessoas procuram «potencializar» o sistema imunológico. Outras se esforçam a conhecer intimamente as bactérias para entende-las e não para matá-las mas sim desarmá-las. Em março, uma equipe franco-britânica revelou na revista Nature, a estrutura da máquina permitindo que algumas bactérias pudessem enviar seus agentes patógenos dentro das células hospedeiras.

A terapia do fago, amplamente abandonada pela medicina ocidental desde a descoberta dos antibióticos, interessa novamente os investigadores. Trata-se do modo de utilizar os fagos, estes vírus que atacam especificamente as bactérias. Um projeto europeu foi lançado em junho de 2013 para tratar pacientes com queimaduras graves na pela.Os vírus poderão salvar a humanidade …