Índio acusado de matar em conflito na BA se entrega
Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como cacique Babau Tupinambá, um dos líderes do movimento indígena do sul da Bahia, se apresentou nesta quinta-feira à sede da Polícia Federal, em Brasília; ele é acusado de participação no assassinado de um pequeno agricultor em fevereiro passado; em audiência pública na Câmara, esta manhã, o índio negou participação no crime; segundo ele, há uma tentativa de criminalizar os movimentos dos índios para retirá-los das suas terras; "Vou me entregar para resolver o mal-entendido"
Ivan Richard - Repórter da Agência Brasil
O índio Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como cacique Babau Tupinambá, um dos líderes do movimento indígena do sul da Bahia, se apresentou hoje (24) à sede da Polícia Federal, em Brasília. O cacique é acusado de participação no assassinado de um pequeno agricultor em fevereiro passado. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), já foram apresentados dois pedidos de habeas corpus em favor de Babau, um na Bahia e outro no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Pela manhã, Babau Tupinambá participou de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e negou participação no crime. Segundo ele, há uma tentativa de criminalizar os movimentos dos índios para retirá-los das suas terras.
"A mídia, advogados, a Justiça [na Bahia] usam 'supostos índios' e isso alimenta uma discriminação racial, e todos acham que podem matar a gente. Está havendo uma ação orquestrada contra a nação indígena. Vou me entregar [à PF] oficialmente aqui [em Brasília] e vamos ver o que vão fazer comigo. Não estou foragido. Vou me entregar para resolver o mal-entendido", disse o cacique, antes de ir à sede da PF.
"Eu sei que a perseguição contra mim é porque falo claramente, coloco o dedo na ferida", acrescentou o cacique. Em nota, a PF informou que foi cumprido mandado de prisão temporária expedido pelo juiz da Vara Criminal da Comarca de Una (BA), expedido no dia 20 de fevereiro. Ainda no documento, a PF acrescenta que Babau Tupinambá ficará preso em uma cela separada até ser definida uma unidade prisional para a transferência.
De acordo com o secretário executivo do Cimi, Cleber Buzatto, a decisão de se apresentar à PF em Brasília e não à Justiça da Bahia se deve ao temor de que o cacique sofresse um atentado. "O inquérito durou quatro dias e o mandado de prisão foi expedido dez dias depois do assassinato. Há indícios de que o cacique Babau poderia ser executado se permanecesse na Bahia", disse Buzatto.
O conflito entre índios e fazendeiros ocorre em uma área localizada a cerca de 462 quilômetros de Salvador, na cidade de Ilhéus, na região conhecida como Serra do Padeiro, onde, nos últimos meses, índios ocuparam várias propriedades rurais.
O foco maior do conflito está na cidade de Buerarema, mas há também fazendas ocupadas em Una e em São José da Vitória, além de Ilhéus. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os índios tomaram posse de 80% da área que eles reivindicam como território tradicional.
As ocupações, que os índios classificam como "retomada do território sagrado", foi a forma encontrada pelos tupinambás para exigir do governo federal a conclusão do processo de demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença. O processo de resistência indígena foi iniciado no segundo semestre do ano passado, gerando grande tensão no sul da Bahia.
A área de 47.376 hectares (1 hectare equivale ao tamanho de um campo de futebol) foi delimitada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em 2009. Desde então, os índios cobram que o Ministério da Justiça expeça portaria declaratória reconhecendo a região como território tradicional indígena. Feito isso, ainda será preciso aguardar que a Presidência da República homologue a área.
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