Instrutor admite culpa em acidente que matou empresário que voava de parapente
O caso é investigado pela 15ª DP (Gávea), e o instrutor pode ser indiciado por homicídio culposo
247 - O instrutor de asa-delta envolvido no acidente que resultou na morte do empresário e bicampeão brasileiro de voo livre Philip Haegler admitiu, em depoimento, ter causado a colisão que derrubou o piloto na Praia de São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro. O g1, que teve acesso ao relato prestado na quarta-feira (26), divulgou detalhes da versão apresentada por Sergio Manoel da Silva, que voava acompanhado de um aluno no momento do impacto.
Segundo o instrutor, a manobra que desencadeou o acidente ocorreu quando ele se aproximava da área de pouso e desviou a atenção para soltar a perneira do aluno — procedimento considerado padrão. Nesse intervalo, afirmou ter perdido de vista o parapente de Haegler por aproximadamente três segundos. Ao retomar o olhar para frente, conta que se deparou com o piloto mais abaixo e tentou desviar, mas não conseguiu evitar a batida.
No depoimento, Sergio Manoel disse que “a barra da asa-delta e seu corpo encostaram no parapente”, e relatou que entrou em desespero ao perceber que Haegler não conseguiu recuperar o controle do voo. Ele fez questão de isentar o campeão de qualquer responsabilidade: segundo as regras do Código de Aviação Desportiva, quem está mais abaixo tem preferência, e “a prioridade era de Haegler”. O instrutor classificou o episódio como um “descuido de segundos” e afirmou que a vítima não teve culpa.
A queda ocorreu a cerca de 45 metros de altura. Após o choque, Haegler perdeu o domínio do parapente, atingiu a fachada de um prédio na Avenida Prefeito Mendes de Morais, na altura do 11º andar, e não resistiu aos ferimentos. Ele completaria 60 anos dois dias depois do acidente.
O caso é investigado pela 15ª DP (Gávea), e o instrutor pode ser indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Amigos e pilotos experientes também afirmam que a dinâmica da colisão indica falha técnica. “Com certeza não houve dolo, mas houve responsabilidade e uma falha técnica, sim, desse piloto de asa-delta. Foi uma desatenção, errou por dois segundos, o Phil não teve a menor chance [...] de se defender dessa colisão”, disse José Carlos Srour, presidente do Clube São Conrado de Voo Livre.
Abalado, Sergio Manoel declarou que era admirador de Phil, de quem recebeu ensinamentos ao longo da carreira, e que busca apoio psicológico enquanto permanece à disposição das autoridades.
A repercussão da morte mobilizou a comunidade do voo livre. Na tarde desta quinta-feira (27), amigos e familiares prestaram homenagem ao piloto batizando o gramado de pouso do Clube São Conrado de Voo Livre como Campo de Pouso Phil. Haegler era um dos nomes mais respeitados do esporte no Brasil, com décadas de atuação em competições e eventos, além de sua ligação histórica com Pepê, referência máxima do voo livre, morto em 1991 no Japão.
O peso dessa relação foi lembrado por João Pedro Gayoso de Almendra, filho de Pepê: “O Phil foi o representante do meu pai ao longo de toda a minha vida. Perdi meu pai quando eu tinha um 1 e meio de idade, e todo o conhecimento que tive ao longo da minha vida veio através do Phil”.
