‘Jogue com as fantasias das pessoas’: as ideias que inspiraram o discurso de Doria na posse
Prefeito de São Paulo citou o escritor estadunidense Robert Greene, autor de best-sellers sobre manipulação, poder, sedução e controle
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A escolha do autor é reveladora. Greene é escritor de best-sellers sobre manipulação, dissimulação, poder, sedução e controle. No livro citado, ele – junto com o também escritor Joost Elffers – propõe regras a serem seguidas para a conquista do poder por líderes de diversas áreas como empresários, políticos e cientistas. Regras que não se pautam exatamente pela ética ou pelo humanismo. O livro compila experiências e acontecimentos em vários períodos da história, com ideias de imperadores, conquistadores, religiosos e também mafiosos.
"Jogue com as fantasias das pessoas", por exemplo, é uma regra descrita da seguinte forma: "Pessoas capazes de engendrar romance ou conjurar fantasias são como oásis num deserto: todos se aglomeram ao redor delas. Há enorme poder em explorar as fantasias das massas". O trecho é convergente com a imagem construída do “João Trabalhador”, utilizado pela campanha de Doria à prefeitura. O bordão ajudou a desmontar a imagem do empresário herdeiro de uma família nobre, com histórico na política desde seu bisavô, e a criar a de um empreendedor que venceu na vida.
Outra ação de Doria que parece seguir esta "Lei do Poder" foi vestir-se de gari para o lançamento do programa São Paulo Cidade Linda, na manhã de ontem (1). O prefeito ressaltou várias vezes que a medida era uma demonstração de "humildade" e "simplicidade", de como a gestão iria trabalhar pela cidade. No entanto, Doria ficou uma hora conversando com a imprensa e só pegou a vassoura para posar para fotos. O local foi limpo por equipes da limpeza urbana no dia anterior.
A abertura da descrição do livro no jornal The New York Times é significativa: "Amoral, astuto, implacável e instrutivo, 48 Leis do Poder é o manual definitivo para qualquer pessoa interessada em ganhar, observar e garantir o controle total".
Na mesma linha, o site de uma livraria descreve. "As Leis incluem, entre outras, a capacidade de esperar o momento certo para atacar, criar uma aura de mistério para confundir os inimigos, saber conquistar corações e mentes das pessoas e encobrir todos os atos em cortinas de fumaça. Reis, políticos, generais, diplomatas e religiosos – assim como cortesãs, bandidos e charlatões – servem de base para as 48 Leis que regem o poder e a influência sobre outras pessoas".
Greene é também autor de A Arte da Sedução e As 33 Estratégias da Guerra. Este último também serviu de base para Doria em outro trecho de seu discurso de posse. Criticado por fazer promessas ou afirmações e depois recuar, o prefeito disse que a gestão saberá ouvir e terá humildade para "sempre que necessário, e for comprovadamente necessário, recuar para poder avançar", justificando, em seguida, que "isso é uma prova de grandeza".
No livro sobre guerra, Greene defende que o recuo é um sinal de força. E propõe outras regras como exponha e ataque o lado frágil de seus adversários, atinja-os onde dói e derrote-os em detalhes: a estratégia do dividir-e-conquistar.
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