Leitor desmascara jogo da vergonha
Um artigo preciso expe a nu todo o esquema do banco BMG no futebol brasileiro e revela o que realmente ocorreu no jogo Cruzeiro 6 x 1 Atltico
Pão, circo, clubes mineiros e torcedores otários (autor desconhecido)
O último clássico de domingo me deu gancho para falar e pesquisar sobre algo muito evidente, mas que, por uma série de motivos, as pessoas não ficam sabendo. É o fato simples de que o futebol mineiro está totalmente voltado para o atendimento de interesses econômicos de investidores e políticos. Foi daquelas partidas armadas dignas da final da Copa entre Brasil X França. A despeito do clubismo, que, no caso acontecido, o torcedor cruzeirense prefere atribuir o jogo ao grande mérito de seu excelente clube e que, se fosse o contrário, também ocorreria o mesmo com atleticanos, vamos tentar analisar velhos fatos sobre o futebol mineiro desde mais ou menos 2000 para cá.
Em 1998, o Atlético entrou numa crise política muito intensa. A agitação da torcida era tão intensa que um estrangeiro desinformado poderia confundi-la com alguma revolta política por melhores salários ou leis importantes para a vida democrática. Claro, isso se ele não souber que brasileiro prefere comer o pão que o diabo amassou a perder o jogo do seu time. O presidente então, Paulo Cury, caiu e a paz voltou por alguns momentos ao time. Por alguns momentos as denúncias e o furor investigativo sobre as maracutaias do clube pararam. Após algum tempo sob gestão de Nélio Brant, mero testa de ferro do atual presidente Alexandre Kalil, subiu à presidência do Atlético o senhor Ricardo Annes Guimarães, um dos maiores empresários do Brasil, banqueiro, acionista do BMG, acionista da Magnesita e filho do dono da Brasfrigo S.A., atualmente o homem com maior participação econômica no futebol brasileiro.
Conhecido por ser um dos maiores credores do Atlético, Ricardo Guimarães é o principal financista do escândalo mensalão. Na época, o BMG fechou um acordo de empréstimo ao PT, com o aval de Marcos Valério, Delúbio Soares e José Genuíno. Só figuras ilustres! Dentre outras coisas, empregou a mulher de Marcos Valérios no BMG, fez contratos suspeitos com a Caixa Econômica Federal e, atualmente, é investigado pelo fato minimamente suspeito de o Atlético, em sua gestão, ter feito uma série de contratos de empréstimo com pessoas físicas a taxas de juros altas, para não dizer ilegais. Mas, claro, isso não importa muito, visto que alguns conselheiros do Atlético vivem ventilando com grande serenidade para a cúpula do Atlético quitar parte de sua dívida com Ricardo passando parte do Diamond Mall, cujo arrendamento termina em 2026, para ele. A queda do Atlético em 2005 gerou mais uma crise de denúncias sem precedentes na história do futebol mineiro.
Em 2006, tendo como figura principal o senhor Luiz Otávio Motta Valadares, o Ziza, velha múmia da ARENA nos tempos da ditadura militar, subiu de divisão e conquistou em 2007 o campeonato mineiro com uma goleada histórica sobre o seu maior rival. No entanto, a calmaria durou pouco. Com campanhas medianas nos brasileiros de 2007 e 2008, e com desentendimentos entre Ziza e a principal quadrilha de torcedores do Atlético, a Galoucura, o ambiente no clube descambou em crise política e novamente uma enxurrada de torcedores clamava por transparência, projetos de reforma normativa e auditorias. Proliferavam as acusações de que o Atlético estava servindo de “lavandeira” para o BMG e de rumores de ingerência dentro do Atlético.
Diferente do seu rival Cruzeiro, o Atlético era uma “lavanderia” agitada e instável demais para investimentos. Eis que surge então o filho do antigo presidente Alexandre Kalil, que quase faliu o pai em tempos antigos, como a figura carismática e ideal para acalmar a fachada do Atlético e trazer o silêncio necessário para que negócios escusos acontecessem na calada da noite. Na “era” Kalil, o Atlético desenvolveu-se muito. Foi da água para o vinho em pouco tempo. Contratações milionárias viraram fatos cotidianos, os salários todos eram pagos em dia, as dívidas do clube foram reescalonadas como num passe de mágica e a quadrilha Galoucura voltou a apoiar o time e a presidência incondicionalmente.
A despeito das campanhas catastróficas do Atlético na liga nacional, piores que as campanhas do Ziza, a paz e a tranqüilidade absolutas eram mantidas pela figura totalitária de Alexandre Kalil, sua fiel escudeira Galoucura e a cortina negra da rádio Itatiaia na mídia. O Atlético reestruturou sua dívida exorbitante com Ricardo Guimarães, num gesto de muito altruísmo e amor deste último. No final do ano de 2009, vários investidores ligados ao BMG lançaram o fundo de investimento BR Soccer 1. Dentro da sua carteira de investimentos havia, principalmente, atletas que jogam no Cruzeiro, Atlético e clubes cariocas. O fundo do BMG, em seu primeiro ano de vida, teve péssimos resultados e alcançou desvalorização na casa dos 16,68%. Fato curioso é que, mesmo assim, de 2010 para 2011, o BMG aportou mais R$ 16 milhões no fundo, totalizando um capital em torno de R$50 milhões de reais.
Eis então que chegamos em 2011, quando o foco da atenção muda do Atlético para o Cruzeiro. Em 2011, o Cruzeiro fez uma das suas piores campanhas em Libertadores, perdeu jogadores que fecharam contratos com o seu rival e teve o time desmantelado no meio da liga nacional. Os torcedores começaram a reivindicar e a contestar o lendário presidente Zezé Perrela, fato até então inconcebível, sobretudo por este última também ter uma quadrilha de torcedores acobertando suas falhas. Financeiramente, surgiam rumores de atraso de salários e as contratações do clube foram mais modestas que as contratações do Botafogo, clube mais falido do Brasil. E o desfecho disso tudo foi chegar à última rodada do brasileiro à beira do descenso e com um time menos confiável que o Avaí, lanterna do campeonato.
Agora vamos analisar o efeito da queda do Cruzeiro. Ele se daria por duas frentes: a primeira seria a desvalorização de jogadores com participação do BR Soccer 1 e a corrida por vendê-los para evitar realização de prejuízos; a segunda diz respeito à questão das cotas televisivas dos clubes que, no ano de 2012, no caso dos mineiros, passará de R$ 35 para R$ 70 milhões de reais. Quanto à primeira, ela seria o decreto sumário do fracasso e falência do fundo. Quanto à segunda, vale lembrar que o Cruzeiro antecipou, através de intermediação financeira, todas as cotas televisivas referentes ao ano de 2012. E adivinhem com qual banco? Isso mesmo, o banco do senhor Ricardo.
A perda do valor que o Cruzeiro já comprometeu forçaria o BMG a aceitar moratória por parte do Cruzeiro e, então, o rombo que os investidores teriam seria monumental. Ainda vale lembrar que a saída do senador Perrela e a entrada de uma nova diretoria daria-se no meio do olho do furacão. E se no Atlético essa receita explosiva foi bastante desgostosa para os investidores, no Cruzeiro, clube com mais de 20 anos de maracutaias e oligarquias políticas encobertas pelo clima de sucesso dentro de campo, a coisa seria um “salve-se quem puder” antológico na história da política mineira. Muitos da imprensa, sobretudo da máfia Itatiaia, uma típica máfia midiática mineira comprometida com dinheiro e políticos corruptos, disseram que “não é possível combinar com onze jogadores um jogo” como se o futebol brasileiro fosse um antro de pessoas puras onde a corrupção e a organização criminosa não existem.
Eles subestimam muito a inteligência das pessoas. Eis então um fato pouco conhecido e interessantíssimo: outra figura desse teatro, o diretor de futebol Eduardo Maluf, o sujeito com maior rede de contatos no futebol brasileiro, era homem de confiança no passado e empregado adivinhem de quem? Isso mesmo, mais uma vez do senhor Ricardo Guimarães e do banco BMG. Esse fato, nunca levantado pela imprensa mineira, nos faz pensar se realmente seria muito difícil manipular o resultado de um jogo assim. Um diretor de futebol coligado a um grupo de investidores prestes a perder rios de dinheiro é no mínimo estranho e torna a possibilidade de ordenar “pessoal, quero ver corpo mole domingo e bico fechado” algo bastante verossímil, para não dizer óbvio. Mesmo assim, o torcedor é apaixonado, seja o atleticano ou cruzeirense! Quer achar que os seus resultados são sempre frutos de garra e de uma espécie de espírito sobrenatural que faz a sua camisa superar as adversidades quase que misticamente. É normal, é natural! Mas é a morte da democracia.
Estamos totalmente perdidos quando deixamos nosso lado emocional superar com tanta força o nosso lado crítico e politicamente ativo. O futebol mineiro hoje, quiçá brasileiro, é totalmente refém de interesses econômicos. Um fato cultural tão forte no povo brasileiro está se ajoelhando perante o desejo irracional pelo lucro e pelo poder. O espírito do esporte, o da competição justa que é fim em si mesma, está sendo suplantado pela armação oculta que visa unicamente atender às demandas comerciais de homens que estão “se lixando” para o choro ou sorriso do torcedor. Nossos clubes amados, instituições criadas por nós e nossos antepassados, que colorem nossa vida e enchem nossa auto-imagem de sentido e identidade, estão infestadas de corruptos e padecendo de doenças sistêmicas crônicas.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: