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Lelê Teles: campanha pela OAB de Sergipe já começou

O jornalista Lelê Teles analisa, em texto inédito, o início da disputa pelo comando da Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe; ele ironiza entrevista concedida por um advogado à imprensa local em que defende uma das pré-candidaturas; para o jornalista, há um "aperreio" na antecipação do pleito, que só ocorre em novembro

O jornalista Lelê Teles analisa, em texto inédito, o início da disputa pelo comando da Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe; ele ironiza entrevista concedida por um advogado à imprensa local em que defende uma das pré-candidaturas; para o jornalista, há um "aperreio" na antecipação do pleito, que só ocorre em novembro (Foto: Valter Lima)
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Lelê Teles - O amigo abriu as portas da varanda para que a brisa marinha nos brisasse.

Uma lufada de vento folheou o jornal sobre a mesa onde eu estava sentado a tomar um refresco de murici.

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Chamou-me a atenção um nome em destaque, Aurélio Belém do Espírito Santo.

Curioso.

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Eu conheço a Belém do Pará, bem como sua homônima na Judéia, útero do Mestre.

Nessa Belém do Espírito Santo nunca tinha ouvido falar.

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Fui ver do se tratava.

Havia ali uma foto, em preto e branco - rembrandtiana - com um belo e favorável enquadramento de Belém, que na verdade é um cabra.

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Abaixo da foto, entre aspas e em negrito, uma frase deletéria; palavras de Aurélio Belém do Espírito Santo, portanto: “o advogado sergipano se sente órfão da OAB”.

Conheço vários truques jornalísticos e sou versado em análise do discurso, essa é a minha praia.

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Farejei de imediato algo estranho nesse enquadramento.

Sorvi em um só gole o refresco que restava no copo. Passei então a perdigueirizar o texto.

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Tratava-se de uma entrevista. Espírito Santo é advogado criminalista, experiente, formado pela UFS há 14 anos.

Ok, vamos ouvir o que ele tem a dizer.

A entrevista, na verdade, me pareceu uma conversa amistosa entre dois compadres.

Aurélio parecia ter sido convidado para defender sua tese e seu interlocutor - quero estar enganado - aparentava auxiliá-lo na construção de sua narrativa.

Tá tudo ali no final da entrevista, onde o Dr. Aurélio abre seu coração e declara voto no Dr. Inácio Krauss, “que tem feito um trabalho excepcional na Caixa, testado e aprovado, conheço-o bem”, declara Aurélio.

Saquei, estamos em tempos de pré-candidaturas para as eleições da OAB-SE e Aurélio me pareceu um cabo eleitoral disfarçado de isento observador do panorama local.

Já vi isso em inúmeras campanhas eleitorais.

Uma entrevista pode servir para que alguém construa um discurso, o de Belém é evidente: a OAB/SE precisa mudar, ser renovada, ela está velha, anacrônica.

E Aurélio, veja você, tem um candidato jovem que representa a tal mudança.

Sabemos que nos últimos anos quadruplicou o número de bacharéis em Direito no estado e o nosso Belém do Espírito Santo parece falar para esse nicho.

Por isso aquele papo furado da orfandade lá no início e em destaque.

Para ajudá-lo na sua pregação política, o entrevistador, veja que curioso, ressuscita, do nada, um conhecido caso do professor Evaldo Campos.

Aurélio afirma que a OAB virou as costas para o decano.

O que é uma fraude. Evaldo Campos, no próprio jornal em que Belém joga essa conversa fora, elogia a defesa que a Ordem fez por ele.

Com mil diabos.

Aurélio sabe disso, ele acompanhou de perto todo esse processo.

E oh, sejamos claros amigos meus, não tem essa de mais jovem ou mais antigo, nem de defesa de A ou B, simplesmente porque isso fere o princípio da isonomia.

Elementar, nobilíssimos.

Afinal, a Ordem faz defesa técnica e institucional. Não é seletiva, nem pode ser.

Portanto, essa entrada esquisita do caso de Evaldo na conversa era na verdade uma levantada de bola para que Aurélio inventasse a tal orfandade e falasse mal da atual gestão, da qual ele fez parte até pouco tempo, tentando jogar os novos advogados nos braços de seu candidato.

A ideia é simplória: se a OAB vira as costas para um antigo e respeitado advogado, o que não fará com os novos?

Sacaram?

Como eu estava, por acaso, na casa de um amigo que é também advogado, perguntei a ele sobre a tal orfandade.

Ele gargalhou.

Disse que a OAB Sergipe vai muito bem obrigado, e que nunca se fez tanto em tão pouco tempo.

E que esse aperreio, antecipando muito as eleições, origina-se no temor de que a chapa da situação dê um baile nos adversários, afinal tem muito o que mostrar enquanto os outros precisam criar um discurso artificial, ressentido e ilusório.

Com a devida vênia!

Não vou aqui arvorar-me como um rábula abjeto e emitir juízo apressado sobre questões tão delicadas, por isso pedi para o amigo falar mais.

Cheguei a conclusão de que se trata de um clássico caso daqueles "velhos conhecidos" pregando o novo.

Como sempre.

No entanto, a única novidade no cenário até agora é o surgimento da pré-candidatura de uma mulher, Roseline de Morais, advogada trabalhista e presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de Sergipe, que promete dar ainda mais dinamismo ao que vem sendo feito.

E oh, questão de ordem, há que se ter o cuidado de, na refrega política, acabar se desrespeitando a imagem da instituição que se quer dirigir, porque isso é incoerente.

Após terminar a leitura, debruço-me sobre a mesa, coloco o ouvido no jornal e ouço pulsar a respiração ofegante de um personagem que está apavorado e procura os amigos para auxiliá-lo.

Por isso que na curiosa entrevista, entrevistador e entrevistado parecem dois amigos a sorver um destes modernos picolés mexicanos com uma fruta dentro.

Dá pra sentir que um até prova do picolé do outro.

Todos o sabemos. Em tempos de eleição sempre surgem essas feitiçarias.

Ao final, devo admitir, fiquei em dúvida se havia mesmo duas pessoas ali conversando ou se era uma só; como num desses números de ventriloquia em que o boneco abre a boca e finge articular palavras, mas tudo o que ouvimos sai da boca do velho que lhe tem no colo.

Palavra da salvação.

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