Mãe de santo recorre contra discriminação

Alagoas247 - O caso de discriminação contra a ialorixá Mãe Neide foi tema de uma coletiva realizada na manhã desta sexta-feira (29), na sede Ordem dos Advogados do Brasil seccional Alagoas (OAB/AL), em Maceió. A defesa da líder religiosa ingressou com representações na OAB e também no Ministério Público Estadual (MPE), adiantando que também irá mover uma ação penal e um processo por danos morais contra a ex-esposa do ator Henri Castelli, depois de a jornalista criticar o fato de a filha ter posado para foto com a mãe de santo.

Mãe Neide Oyá D´Oxum alega ter sido vítima de discriminação por parte de Juliana Despírito, depois que o artista postou nas redes sociais, no Dia das Mães, uma fotoem que a criança aparece nos braços da religiosa, prestando-lhe uma homenagem por ocasião da data comemorativa. Juliana desaprovou a atitude, o que gerou uma onda de ódio contra as religiões afro na internet.

"Tenho filhos de todas as raças, espalhados pelo mundo inteiro. E no Dia das Mães recebi esta homenagem linda. Foi um momento de carinho. Ele postou a foto e, algum tempo depois, meus filhos começaram a esconder meu telefone. Já havia mais de 160 mil curtidas e comentários sobre minha pessoa, minha religião e minha fé. Desde esse dia, eu vivo à base de rivotril, com medo de que façam alguma coisa com meus filhos", disse.

Emocionada, ela disse que a fotografia foi tirada fora do contexto religioso e que, depois da postagem, foi chamada de “macumbeira” e “cavalo de Satanás”. "Não tenho nada contra essa moça. Já cheguei a conversar com ela. Porém, após a foto, disseram que eu faria sacrifício humano. Quem é daqui sabe que isso não é verdade, mas e quem é de fora?", questionou.

A advogada de defesa, Walkyria Carvalho, destacou que todas as medidas estão sendo tomadas, destacando que tal comportamento é inaceitável. “São direitos constitucionais aceitos, o da igualdade racial e o de expressão. As religiões africanas não são seitas, e precisamos de respeito para que não aconteça o que aconteceu em 2014, quando um juiz do Rio de Janeiro disse que candomblé e umbanda não eram religiões. Tem-se um clima de guerra religiosa, e Mãe Neide, Patrimônio do Estado, está sendo atacada”, expôs.

Já o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Daniel Nunes, disse que o órgão vai dar total apoio à mãe de santo e que o caso, classificado por ele como inadmissível, pode ser tratado como racismo.

"É uma demonstração gritante de discriminação e jamais poderíamos compactuar com isso. Nosso País é formado pelas três raças, o índio, o negro e o branco, e qualquer manifestação contra as religiões de matriz africana é forma de mascarar o racismo, que vem crescendo a cada dia".

Mãe Neide, que recebe uma homenagem na tarde desta sexta, na Câmara de Vereadores de Maceió, ressaltou que já conversou com Henri Castelli após o episódio, revelando que o ator se desculpou pelo ocorrido. “Falo com ele todos os dias. Ele disse que a intenção dele era prestar uma homenagem e que eu me sentisse à vontade para fazer o que achasse melhor. Ainda pensei muito, principalmente pela criança, mas vi que era o que tinha de ser feito”, afirmou.

Com gazetaweb.com