Mal de Parkinson. Ele tem um cheiro, e uma mulher o reconhece
Apenas com o auxílio do seu olfato, a escocesa Joy Milne foi capaz de fazer um diagnóstico correto em 12 pessoas doentes de Mal de Parkinson. Algumas delas já estavam clinicamente diagnosticadas, outras não.
Pesquisadores tentam confirmar que é possível diagnosticar o Mal de Parkinson a partir de odores corporais, com base no depoimento de uma escocesa dotada de um “supernariz”. Ela afirma ter sentido um odor característico exalado pelo corpo de seu marido, bem antes de ele ter manifestado clinicamente essa moléstia degenerativa.
Joy Milne, hoje com 65 anos de idade, explicou para a mídia britânica ter notado uma mudança no cheiro do seu marido Les vários anos antes que ele desenvolvesse os sintomas da doença. “Seu cheiro mudou sutilmente 5 ou 6 anos antes da sua morte, é difícil descrever. Era um cheiro almiscarado (¹). Mas como ele trabalhava como anestesista e podia fazer calor no prédio do centro cirúrgico, eu pensei que ele estava transpirando mais”, disse ela à BBC.
Joy Milne tomou conhecimento da especificidade desse cheiro ao senti-lo em outros pacientes encontrados através da Fundação Parkinson UK. “Sempre tive um bom olfato. Eu não sabia que aquele odor não tinha sido identificado antes”, ela acrescentou.
A escocesa Joy Milne é capaz de reconhecer o cheiro do Mal de Parkinson
Um próximo teste
Para verificar a hipótese, pesquisadores da fundação pediram que Joy classificasse 12 camisetas que tinham sido usadas durante um dia inteiro por 6 pacientes doentes de Parkinson e por 6 pessoas “sadias”. No final do teste, Joy tinha identificado corretamente as camisetas pertencentes a 5 pessoas sadias e a 7 pessoas doentes. Ótima pontuação, portanto, mas não perfeita. Só que 8 meses depois, a pessoa sadia identificada como doente por Joy, chamou a equipe para dizer que acabara de ser diagnosticada com Mal de Parkinson, relata a BBC.
Essa experiência ocasionou, há pouco, o lançamento de um projeto de pesquisa da Fundação Parkinson UK para determinar se a doença e o cheiro estão realmente relacionados. Os pesquisadores colocaram em causa uma eventual modificação hormonal causada pela doença. O estudo abrangerá 200 pessoas, algumas com Parkinson e outras não. Suas amostras serão analisadas a nível molecular, e “respiradas” por Joy Milne e uma equipe de especialistas dos odores, quase todos oriundos da indústria de alimentos.
Narizes eletrônicos
“Estamos no início da instalação da pesquisa, mas já está provado que há um odor único associado ao Mal de Parkinson, especialmente no início da doença. Essa descoberta poderá representar um enorme impacto. Não apenas para os diagnósticos precoces, mas também porque tornaria bem mais fácil a identificação dos doentes e os testes de medicamentos”, avalia Arthur Roach, diretor de pesquisas da fundação. O Mal de Parkinson afeta 1 pessoa em cada 500 e, embora seus efeitos possam variar muito de caso a caso, essa moléstia costuma levar à perda progressiva de neurônios, induzindo tremores e lentidão dos movimentos. Atualmente existem vários tratamentos e medicamentos paliativos, mas não há nenhum medicamento que leve a uma cura total e definitiva dessa doença.
Basear o diagnóstico médico no cheiro não é uma ideia nova. Já foi comprovado que cães treinados são capazes de “farejar” um tumor de próstata com grande precisão. Da mesma forma, vários dispositivos batizados de “narizes eletrônicos” estão sendo desenvolvidos para detectar micro partículas voláteis oriundas de câncer de pulmão, do estômago, do cólon ou da mama, emitidas pela respiração do doente.
(¹) Almíscar é o nome dado originalmente a um perfume obtido a partir de uma substância de forte odor, secretada por uma glândula do cervo-almiscarado e de outros animais e também de algumas plantas de odor similar.
