Marconi e Cachoeira: de novo, tudo a ver. E aí?
Jornal Folha de S. Paulo revela que o governador goiano agiu para evitar rompimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira, o que só reforça as ligações entre os dois, embora o tucano negue. Na história, houve até um empréstimo providencial de R$ 600 mil para um dos principais auxiliares de Marconi, que por acaso foi seu tesoureiro na campanha: Jayme Rincon
Goiás 247 – Está cada vez mais difícil o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), negar o inegável: suas relações perigosas com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Em sua edição desta segunda-feira, a Folha de S. Paulo destaca que grampos revelam que o tucano agiu para se manter próximo de Cachoeira. Pediu até encontro reservado. O governador nega tudo.
Reportagem mostra ainda que tensão acabou quando coincidentemente foi feito um empréstimo de R$ 600 mil para um dos principais auxiliares de Marconi e seu tesoureiro na campanha: Jayme Rincon. Rincon é presidente da Agetop, a agência que cuidas das principais obras do Estado.
No Estado de S. Paulo, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) insiste na defesa do governador goiano, que deve ser convocado para depor na CPMI – coisa, aliás, que ele mesmo pediu. “A ação do PT é muito clara: querem pegar o Perillo”, diz Cunha Lima. Na mesma reportagem, o Estadão registra: “Em depoimento à CPI na última quinta-feira, o delegado Rodrigues confirmou que Cachoeira teve participação na compra de uma casa do governador tucano. Foram usados três cheques de Leonardo Almeida Ramos, sobrinho do contraventor, que somavam R$ 1,4 milhão. Além disso, segundo as investigações da Polícia Federal, Cachoeira teria ‘cotas’ de cargos no governo tucano, com o pagamento até de mesada de R$ 10 mil para secretários de Estado.”
Segundo o Estadão, o delegado Rodrigues confidenciou aos integrantes da CPI que o nome do governador do PSDB é citado 237 vezes em conversas entre integrantes do esquema de Cachoeira. Já o nome do governador petista Agnelo Queiroz aparece em 58 conversas. “Há uma impregnação muito forte dessa organização criminosa do Cachoeira no governo de Goiás”, rebate Cunha Lima o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG).
A reportagem da Folha:
Perillo agiu para evitar ruptura com empresário
Grampos revelam que governador atuou para se manter próximo de Cachoeira; diálogos mostram que tucano pediu encontro com investigado; Perillo afirma que situações não existiram
BRENO COSTA
DE BRASÍLIA
Uma sequência de diálogos interceptados por um mês pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo mostra o esforço do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), em se aproximar e manter boas relações com Carlos Augusto Ramos, o empresário Carlinhos Cachoeira.
As conversas ocorreram de julho a agosto de 2011 e relatam queixas sobre contratos do governo, ameaças de ruptura, promessas de vantagens, pedidos de Perillo por encontros com Cachoeira e a nomeação de oito pessoas indicadas pelo empresário.
O governador diz que as situações nunca aconteceram.
Os diálogos também mostram que o arrefecimento da tensão relatada nas conversas coincide com empréstimo de R$ 600 mil, por meio de empresa-fantasma, para Jayme Rincón - braço direito do governador, porta-voz informal do governo e ex-tesoureiro da campanha do tucano.
Pelas conversas, Cachoeira tinha três porta-vozes junto a Perillo: o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), o ex-vereador tucano Wladimir Garcez e o ex-presidente do Detran Edivaldo Cardoso. Segundo a PF, Cachoeira atuava em nome da Delta Construções.
Tudo começa em 12 de julho de 2011, quando Cachoeira pede para interlocutores avisarem Perillo que ele estava abandonando o governo. A insatisfação envolvia a divisão de percentuais em obras da Agetop, agência de obras do governo de Goiás.
No dia 13, Demóstenes se reúne com Perillo no Palácio das Esmeraldas como porta-voz da revolta de Cachoeira.
O senador relata o encontro ao empresário, dizendo que o governador "já tomou providências" e que trocaria o comando da condução do negócio. "Ele disse que vai sentar com você e pôr você para coordenar lá."
Por volta das 16h do mesmo dia, Edivaldo Cardoso se encontra com Perillo. O recado que chega a Cachoeira é claro: "[O governador] mandou parar tudo e disse que quem vai liderar [a obra] é você", relata Cardoso.
No dia 14, contudo, a crise se agrava depois que Perillo, em discurso público, cita a Delta para dizer que em seu governo não existe conluio.
No dia 15, Cardoso dá recado a Cachoeira. "Ele disse que houve mal-entendido e que ele quer falar com você."
O encontro seria em seis dias. Na véspera, dia 20, oito indicados por Cachoeira para cargos comissionados no governo foram nomeados.
Uma semana depois, Cachoeira empresta R$ 600 mil a Rincón. Os diálogos não deixam clara a razão do repasse, mas a crise acaba.
OUTRO LADO
O governador de Goiás, Marconi Perillo, afirmou, por meio de sua assessoria, que as situações descritas nos diálogos entre Cachoeira, e seus interlocutores nunca existiram.
"É mais uma ilação sem fundamento", diz nota enviada por sua assessoria de imprensa, que recebeu da Folha a sequência resumida dos diálogos.
Colaboraram LEANDRO COLON e FERNANDO MELLO, de Brasília
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