Moradores da Barra temem enchentes após aterro da 13 de Julho
Impactos ambientais causados pela obra de aterramento do rio Sergipe, no bairro 13 de Julho, em Aracaju, começam a prejudicar o dia a dia dos moradores da Barra dos Coqueiros; a administração de João Alves Filho (DEM) aterrou a margem em 40 metros verticais - rio adentro, e mais 200 metros horizontais; paralelo à violência das ondas que chegam ao município vizinho, os habitantes denunciaram uma maior degradação do meio ambiente, e consecutiva poluição do rio Sergipe, em virtude da ausência de limpeza no local da obra
Milton Alves Júnior, do Jornal do Dia - Impactos ambientais causados pela obra de contenção das águas do Rio Sergipe, em Aracaju, começam a prejudicar o dia a dia dos moradores da Barra dos Coqueiros. Durante todo o processo de estudos e execução da obra era sabido que, diante do representativo aterro promovido pela Prefeitura de Aracaju em parte da Avenida Beira Mar, nos dias de maré alta a corrente marítima iria se fortalecer em outro ponto da cidade. Até a conclusão da primeira etapa de construção da balaustrada, ambientalistas presumiam que danos materiais poderiam ser registrados no Bairro Industrial, ou na Atalaia Nova, povoado da Barra dos Coqueiros. Ao todo, a administração aterrou a margem em 40 metros verticais - rio adentro, e mais 200 metros horizontais.
Paralelo à violência das ondas que chegam ao município vizinho, os habitantes denunciaram uma maior degradação do meio ambiente, e consecutiva poluição do Rio Sergipe, em virtude da ausência de limpeza no local da obra. Ao longo da última semana o Jornal do Dia recebeu a denúncia protocolada pelos barra coqueirensses, e na manhã de ontem conferiu de perto a veracidade dos fatos apresentados. Em um raio de 400m é possível encontrar dezenas de pedaços de madeira, restos de saco de cimento, ferro, arame e redes de isolamento usadas em torno da obra. Preocupados com a atual situação, a população teme que as próximas águas de março sejam mais devastadoras.
Se a situação dos moradores é avaliada como preocupante, os comerciantes que dependem dos estabelecimentos para sustentar as respectivas famílias dizem estar enfrentando um momento pior e criticam o poder judiciário. Há aqueles que clamam por intervenções do poder federal. Abismada com a destruição causada pela maré nos últimos 40 dias, a vendedora Almiracica Vale de Santana relata a série de danos causados após o término do serviço realizado pelo prefeito João Alves Filho. "Eu moro aqui há mais de 40 anos e nunca vi algo igual. Antes, mesmo nas marés altas a gente tinha a sensação de que não passava de uma temporada, já hoje, a certeza que temos é que daqui a uns dias teremos que sair daqui porque a água já invade as nossas casas", lamentou.
Contextualizando as críticas da população, quem visita a praia da Atalainha, como é conhecida pelos populares, pode perceber o acúmulo de blocos, concretos e ferragens retorcidas oriundas dos muros de contenção construídos há menos de 30 dias e que já estão integralmente deformados. As árvores, antes de suma importância para a arborização da região, já começaram a cair devido à fragilidade do solo. Por ventura, quando os denunciantes se manifestam para falar de estrutura física dos imóveis, o desespero parece bater na porta.
De acordo com o pescador Antônio de Souza, o solo começou a ceder e rachaduras agora são visíveis em todos os compartimentos da casa que mora desde a adolescência. "Essa árvore que vocês estão vendo, caiu tem uns dez dias, e pra mim foi uma dor forte porque quando foi plantada eu ajudei a cuidar dela ao lado dos meus filhos. Não é só a minha casa que está com essas rachaduras, aqui todos estão com medo de estar dormindo e a casa desabar. Tudo isso vem aumentando depois que construíram a obra do lado de lá", afirmou.
Obra de contenção - Orçada em aproximadamente R$ 5,8 milhões, a obra consistiu na construção de uma mureta de contenção, teve início no mês de março do ano passado e enfrentou diversas intervenções judiciais reivindicadas por grupos que defendem o meio ambiente. A segunda, e última fase, constitui no serviço de paisagismo.
Historicamente a população aracajuana enfrenta situações de risco em virtude da ação de engenharia provocada pelo ser humano. Quando prefeito no início da década de 80, o democrata João Alves também proporcionou o aterro de parte do Rio Sergipe no bairro Coroa do Meio. Desde então, obviamente de forma gradativa, a maré começou a escoar para o trecho urbano localizado especialmente entre o Iate Clube de Aracaju e o mirante do calçadão da 13 de Julho. Desta vez, com a mais recente obra promovida pelo chefe do executivo municipal, os problemas, assim como relatam os moradores da Barra, começaram a surgir de forma quase que instantânea e avassaladora.
Cientes da impossibilidade de desfazer a nova balaustrada de Aracaju, os barra coqueirensses dizem apelar para o Governo do Estado de Sergipe e para o Ministério Público Estadual. "Se nada for feito para minimizar esses danos causados, principalmente pela obra da Prefeitura de Aracaju, dezenas de famílias e comerciantes ficarão desalojadas", declarou o empresário Lúcio Torres Melo que possui dois pontos comerciais na região. Durante o início da obra o serviço público foi criticado por especialistas do Laboratório Geo, Rio e Mar, da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema).
