NY vê São Paulo com melhor plano para lidar com Uber
A capital paulista propôs recentemente um plano ousado, aparentemente sem precedentes, para regular Uber, Lyft e outras empresas de taxi por internet que ameaçavam entupir as ruas e, ao mesmo tempo, dissuadir as autoridades locais a tomarem providências: São Paulo quer cobrar uma taxa de quilometragem dessas empresas; "Se der certo", escrevem Georges Darido, Bianca Bianchi Alves e Felipe Targa, todos do Banco Mundial, o plano "pode se tornar um modelo para outras grandes cidades"
Eric Jaffe, chefe da sucursal de Nova York do CityLab
(tradução – Prefeitura de São Paulo)
Assim como Keyser Soze*, o maior truque do Uber foi convencer algumas das maiores cidades do mundo de que o trânsito não existe. Mas São Paulo não se deixou enganar. A metrópole de congestionamentos insolúveis propôs recentemente um plano ousado, aparentemente sem precedentes, para regular Uber, Lyft e outras empresas de taxi por internet que ameaçavam entupir as ruas e, ao mesmo tempo, dissuadir as autoridades locais a tomarem providências.
A beleza da proposta é sua simplicidade: São Paulo quer cobrar uma taxa de quilometragem dessas empresas.
Depois de um período de consulta pública, o blog Transporte para Desenvolvimento do Banco Mundial publicou detalhes em inglês da minuta. As empresas de transporte cadastradas (vamos chamá-las de táxis mesmo) dariam lances em leilão que as permitiriam rodar um certo número de quilômetros por dois meses. Carros que excedam suas cotas pagariam uma sobretaxa. Os créditos, se presume, cobririam tanto as viagens pagas como a rodagem na procura de clientes.
Esse sistema oferece a São Paulo uma enorme flexibilidade. A cidade poderia aumentar a taxa no horário de pico, por exemplo, ou oferecer descontos para os carros que transportem pessoas de baixa renda ou com deficiência. O sistema de crédito poderia recompensar motoristas que operam fora do horário de pico ou que se arrisquem em áreas de baixo atendimento. E poderia incentivar que veículos sirvam de alimentadores de terminais de transporte público, ao invés de competir com rotas já estabelecidas de ônibus e trilhos.
Além disso, o plano São Paulo exige que as empresas de carro por aplicativo abasteçam a prefeitura com dados das viagens em tempo real, como “origem e destino das viagens, horários, distâncias, rotas, preço e avaliação do serviço", de acordo com o blog do Banco Mundial. Dessa forma, os agentes públicos podem organizar o viário para melhor atender o interesse público. A proposta cita a normatização de segurança, conforto e qualidade do veículo. E até reserva 15% dos créditos para motoristas mulheres.
"Se der certo", escrevem Georges Darido, Bianca Bianchi Alves e Felipe Targa, todos do Banco Mundial, o plano "pode se tornar um modelo para outras grandes cidades".
David King, especialista em planejamento da Columbia University, diz que o conceito de São Paulo é uma maneira mais inteligente de lidar com empresas de carro por aplicativo do que um teto fixo de veículos autorizados, por exemplo, ou qualquer outra política pública apresentada até o momento. "Se vamos ter taxis, precisamos garantir que o taxi seja utilizado da forma mais eficiente possível, então precisa ter uma cobrança”, disse King. “Por ser um leilão, deverá equilibrar oferta e demanda da forma mais benéfica para a cidade."
Mesmo sem saber exatamente que tipo de lance compraria um crédito de quilometragem, King avalia que o preço se estabilizaria depois de alguns leilões. O ideal, para ele, seria que todos os carros de aluguel tenham que pagar, e que toda a receita seja utilizada na manutenção do viário e em transporte para a população de baixa renda. Uma alternativa ainda melhor seria usar parte dos créditos para expandir e melhorar o sistema de transporte público.
Um sistema desses poderia ser implementado de forma menos tecnológica com a simples leitura de odômetro. Claro que o uso da tecnologia mais avançada resultaria em mais vantagens. Com um sistema de quilometragem rastreada por GPS, por exemplo, a cidade pode coordenar o viário com extrema precisão, guiando taxis para fora de ruas residenciais, por exemplo, e rumo às vias arteriais. Quanto mais informação a cidade tiver, melhor para os residentes da cidade.
"A Prefeitura ainda é a responsável pela gestão das ruas", diz King. "Sem dados sobre como as ruas estão sendo usadas, é impossível saber".
*No filme Os Suspeitos (“The Usual Suspects”, 1995), um criminoso elabora uma complexa narrativa para delatar o chefe da quadrilha, “Keyser Soze”, e, assim, esconde sua verdadeira identidade.
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