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O ano das Primaveras que abalaram o mundo

Com incio na Tunsia ( esq.), a chamada Primavera rabe completa um ano com o fim de longas ditaduras, mas com a consagrao de partidos islmicos em processos eleitorais, como ocorre com o Egito (centro), um dos primeiros a aderir ao movimento. Na Lbia, o povo trocou o ditador Muamar Kadafi por um regime extremista.

O ano das Primaveras que abalaram o mundo (Foto: Divulgação)

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Por Roberta Namour, correspondente do 247 em Paris – Há um ano começava a chamada "Primavera árabe" na Tunísia. No início de 2011, uma revolução popular derrubou o presidente Zine el Abidine Ben Ali, que permanceu no poder durante 23 anos. A conquista dos tunisianos se tornou um exemplo para outros países governados por regimes autoritários.

Protestos populares levaram milhares de pessoas às ruas do Egito, Líbia, Jordânia, Iêmen, Argélia, Mauritânia, Sudão e Omã. Mas exatos 12 meses depois, o que começou como um marco na história da democracia é hoje visto como a consagração dos partidos extremistas muçulmanos. A falsa ideia de revolução resultou em processos eleitorais que levaram os islamitas a obter destaque no mapa político.

O estopim para o movimento foi a morte do jovem tunisiano Mohammed Bouazizi. Ele jogou fogo contra seu próprio corpo em 17 de dezembro de 2010, em protesto contra o sistema, e morreu em 4 de janeiro. O episódio levou uma legião de manifestantes às ruas da Tunísia para pedir a queda do regime. A revolução acabou no dia 14 de janeiro, quando o presidente Zine el Abidine Ben Ali abandonou o poder e fugiu à Arábia Saudita.

Durante 10 dias de revolta, 347 pessoas morreram. Até que, no dia 23 de outubro, a Tunísia promoveu uma eleição que contou com a participação de 54,1% dos eleitores. O vencedor foi o movimento islamita conservador Al-Nahda, liderado por Hammadi Jebali, que obteve 89 das 217 cadeiras na Assembleia Constituinte. No dia 13 de dezembro, o novo presidente, Moncef Marzouki, do centrista Conselho pela República, tomou posse e no dia 14 Jabali foi designado primeiro-ministro.

Egito ainda vive clima político instável no pós-Mubarak

O Egito foi um dos primeiros países a aderir à chamada Primavera Árabe. Influenciados pela queda do presidente da Tunísia, Zine El-Abidine Ben Ali, os egípcios iniciaram em janeiro de 2011 um intenso movimento de manifestações populares contra o presidente ditador Mohammed Hosni Mubarak, que ficou no poder por 30 anos.

Os protestos começaram no dia 25 de janeiro, com um manifesto divulgado pela internet que levou milhares às principais praças do Cairo e de outras cidades egípcias. Os principais motivos foram os altos índices de desemprego, o autoritarismo do governo, a corrupção, a censura à liberdade de expressão e as péssimas condições de vida. Os manifestantes queriam impedir que Mubarak se apresentasse às eleições ou colocasse seu filho Gamal como sucessor.

A renúncia de Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro, ocorreu após 18 dias de violentos protestos de rua que deixaram mais de 800 mortos e 5 mil feridos, segundo um relatório da Anistia Internacional (AI).

Mubarak delegou o poder no dia 11 de fevereiro a uma Junta Militar. Em seguida, foi hospitalizado por uma crise cardíaca. Desde então se apresenta em uma maca nos julgamentos contra ele, no Cairo.

A primeira fase das eleições pós-Mubarak aconteceu nos dias 28 e 29 de novembro em nove províncias do país, com uma taxa de participação de 52%. O Partido Liberdade e Justiça (PLJ), ligado à Liga Muçulmana, foi vencedor com 40% dos votos, seguido pelos salafistas do partido Al Nour (muçulmanos ultraconservadores) com 20%.

Alguns analistas políticos acreditam que um golpe de Estado foi organizado as sombras da “Primavera Árabe”, sem nenhum caráter popular.

No início de dezembro, uma nova onda de protestos teria começado depois que foram divulgadas imagens de um jovem supostamente torturado por militares. A situação deixa muitas dúvidas sobre a capacidade do governo de transição de conduzir o Egito rumo à democracia. Segundo o governo, dez pessoas morreram e 441 ficaram feridas.

Com a queda do ditador, Somália ainda vive guerra civil violenta

Desde a queda do ditador Muhammad Siad Barre, em 1991, a Somália vive uma violenta guerra civil. O país caiu nas mãos de senhores de guerra tribais e milícias islâmicas. Rebeldes do Al Shabaab, vinculado à rede terrorista Al Qaeda, estão desde então em confronto com tropas do governo somali e soldados da força de paz da União Africana no norte de Mogadíscio. Nesses 20 anos de conflito, uma geração inteira foi dizimada. Por mês, cerca e dez mil crianças morrem no País.

Em agosto desse ano, o presidente do Governo Federal de Transição da Somália, Sharif Sheikh Ahmed, declarou estado de emergência em várias áreas do Mogadíscio, capital do país, com validade de três meses. Tropas de Djibouti chegaram esta semana no vizinho africano para reforçar a segurança da população.

Segundo o Somalia Report, durante o estado de emergência, os tribunais militares somalis podem executar qualquer infrator, de acordo às leis marciais.

O conflito na Somália agrava a situação gerada pela seca - a pior na região em 60 anos, segundo a ONU - e a consequente crise de fome que castiga o Chifre da África e que mantém mais de 13 milhões de pessoas em situação crítica na região. A guerra civil interrompeu a agricultura e a distribuição de alimentos no sul do País.

Centenas de combatentes estrangeiros lutam ao lado da Al Shabab para derrubar o Governo de Transição da Somália, apoiado pela comunidade internacional, e criar neste país um estado radical muçulmano.

Líbia troca um ditador por um regime extremista

Assim como aconteceu na Tunísia e no Egito, as manifestações populares na Líbia começaram no dia 15 de fevereiro de forma pacífica contra a ditadura de Muamar Kadafi, no poder durante 42 anos. Os manifestantes exigiam mais liberdade e democracia, respeito pelos dreitos humanos, uma distribuição da riqueza mais justa e a redução da corrupção no Estado e nas suas instituições.

O governo e seus aliados reagiram de forma brutal contra os protestos, desencadeando uma guerra civil que durou oito meses. A revolta se espalhou rapidamente pela parte oriental do país, tradicionalmente contrária a Kadafi. A maior parte do exército nesta área se juntou à oposição e os rebeldes passaram a se organizar em grupos paramilitares.

A maioria das nações condenou o governo da Líbia pelo uso de violência contra os manifestantes. Os Estados Unidos impuseram sanções contra Kadafi e o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução com o congelamento de seu patrimônio e de 10 pessoas próximas a ele.

Em 27 de março, a Otan iniciou uma campanha militar na Líbia, semanas depois que as forças leais ao regime começaram a encurralar os grupos de insurgentes do país. Liderada pela França e pela Inglaterra, a coalizão foi conquistando cidades tomadas pelos fiéis à Kadafi, num combate sangrendo que matou 25 mil pessoas e deixou o dobro de feridos, segundo o presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafá Abdel Khalil.

Até que no dia 23 de outubro, a morte de Kadafi em Sirte, sua cidade natal, foi transmitia pelos canais de televisão do mundo todo. Nas imagens, ele aparece suplicando para salvar sua vida, mas instantes depois, seu corpo é puxado pelas ruas. Sua morte foi muito comemorada no País. Mas segundo o promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI), o argentino Luis Moreno Ocampo, existem sérias suspeitas de que ele foi vítima de um crime de guerra. Ocampo também afirmou que o governo líbio deve informar ao TPI até o dia 10 de janeiro se entregará o filho do coronel, Saif al Islam, à corte.

Desde a queda do ditador, o Conselho Nacional de Transição da Líbia governa o país. O CNT prometeu realizar eleições para uma assembleia constituinte dentro de oito meses. Mas uma declaração do presidente do Conselho, Moustapha Abdel Jalil, já deixou claro qual será a linha da nova legislação do país, que será baseada na charia, a lei islâmica que proíbe o divórcio e autoriza a poligamia.

Ou seja, a comunidade internacional que apoiou a queda de forma polêmica do regime de Kadafi terá de enfrentar novamente um governo autoritário para garantir o acesso à maior riqueza do país, o petróleo. 

Síria abre as portas para observadores

A revolução mais sangrenta do ano começou na Síria com uma série de grandes protestos populares em 26 de janeiro e progrediu para revolta armada, ainda em andamento, em 15 de março. No início de 2011, as manifestações se formaram em reposta a uma convocação por Facebook com o slogan "Uma Síria sem tirania, nem lei de emergência".

Depois de um regime repressivo de Hafez al-Assad, seu filho, Bashar al-Assad, tem mantido o poder com mão firme nos últimos dez anos. O presidente afirmou que seu país estava imune a todos os tipos de protestos em massa como os que ocorreram no Egito e na Tunísia e respondeu com violência as manifestações.

A repressão de protestos contra o regime já fez perto de 5 mil mortos, indicam novas estimativas das Nações Unidas, que serão apresentadas pela Alta Comissária para os Direitos do Homem, Navi Pillay. Mais de 14 mil pessoas foram presas pelas forças de segurança e 12,4 mil fugiram da Síria desde março.

Os ministros de Relações Exteriores do bloco europeu decidiram no início do mês endurecer as sanções econômicas contra a Síria, em particular contra os setores das finanças, petróleo e gás.

O País aceitou recentemente receber observadores da Liga Árabe, que têm como missão "garantir o fim de todos os atos de violência, venham de onde vierem, impedir as forças de segurança, os chabbiha (milícias partidárias do regime) e gangues de interferir nas manifestações pacíficas e garantir a liberação dos detidos presos por conta da crise atual". Eles serão dirigidos pelo general sudanês Mohammed Ahmed Mustafá al-Dabi, envolvido na guerra civil Norte-Sul e na guerra de Darfur.

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