O cheirinho de limpeza. Bom para o olfato, perigoso para a saúde
Os produtos de limpeza recheados de aditivos e perfumes são prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. O marketing olfativo foi capaz de mudar o inconsciente coletivo. Mas a limpeza não tem cheiro.
Por Marie Anton – Le Figaro
O cheiro de limpeza e a ausência de bactérias tornaram-se obsessões coletivas. Consequências de uma campanha publicitária para produtos de limpeza, eles estão longe de ser uma promessa de ambiente limpo e saudável. Uma pesquisa europeia com com 60 milhões de consumidores, recentemente publicada, lembra a nocividade e a inutilidade dos bactericidas, conservantes e outras fragrâncias, contidas nos produtos de limpeza mais comuns. Els estão cheios de substâncias alergênicas, irritantes, corrosivas, e/ou perigosas para o ambiente e a saúde e que não melhoram em nada sua eficácia.
A limpeza não tem cheiro
O marketing olfativo foi capaz de mudar o inconsciente coletivo. Para uma grande maioria da população, o cheiro característico da limpeza se tornou o cheiro químico dos produtos de limpeza. Uma variedade de desodorantes se desenvolveu: da névoa para travesseiros aos «neutralizadores de odores» de geladeiras ou de máquinas de lavar louça. «No entanto, a limpeza não tem cheiro», relembra a Dra. Suzanne Déoux, Diretora do Departamento de pesquisas da empresa de engenharia e saúde de prédios “Médieco” .
Um reflexo quase “Pavloviano” instalou-se na população. «Em uma creche, se não tiver o cheiro de desinfetante ou de essência de pinho, os pais questionam a eficácia dos produtos de limpeza e o bem-estar de seus filhos», ela diz. Uma grande mudança cultural deve ocorrer, ela acredita. Este recondicionamento promete ser difícil, pois o sentido do olfato está intimamente ligado às emoções.
No entanto, a mudança de hábitos parece primordial à luz dos resultados dos inquéritos sobre poluição atmosférica, realizados em uma escola. «Após ter feito uma limpeza com os tipos de produtos denunciados pela pesquisa, com 60 milhões de consumidores, há sete vezes mais compostos orgânicos voláteis irritantes e alergênicos no ar», relata Suzanne Déoux. O limoneno (responsável pelo cheiro de limão) e o alfa-pineno (cheiro de pinho), fazem parte destas moléculas voláteis. Elas podem causar, por exposições repetidas, broncoespasmos (diminuição do diâmetro dos brônquios, como durante uma crise de asma) e promover alergias em indivíduos que têm propensão a estas últimas.
A fobia inútil das bactérias
O marketing dos produtos de limpeza também tem aproveitado a onda de fobia dos micróbios ao utilizar slogans cada vez mais alarmistas. A pesquisa com 60 milhões de consumidores relembra que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não vê utilidade nos detergentes bactericidas para uso doméstico.
Suzanne Déoux explica que um simples detergente é suficiente para limpar eficazmente sua casa. Este tipo de produto contém uma molécula tensoativa que desgruda a sujeira e deixa em suspensão na água a gordura e 90% das bactérias, que são então eliminadas pelo enxaguar. Por outro lado, não há necessidade de bactericidas, ou seja, produtos que eliminam as bactérias como os antibacterianos e a água sanitária. «É preciso parar o uso da água sanitária, inclusive nos banheiros. A descarga é suficiente e ela impede a morte das bactérias úteis nas estações de tratamento de esgoto », insiste Suzanne Déoux.
Querer eliminar todas as bactérias é prejudicial. Isso promove o desenvolvimento de bactérias mais resistentes e o surgimento de alergias. Ludivine Ferrer, porta-voz da Associação saúde e meio ambiente, relembra os resultados de um estudo norte-americano publicado na revista Science em 2015: «As crianças em fazendas norte-americanas são muito menos alérgicas que as crianças que vivem em casas desinfetadas além do necessário». Adotar comportamentos sensatos como arejar seu lar, limpá-lo com um detergente simples e lavar as mãos para prevenir a transmissão das bactérias, parece ser um bom compromisso.
