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Geral

O thriller político de Maria Uslenghi Rizzi

Conhecida como “Tupamara” entre companheiros de militância contra as ditaduras do Cone Sul, Maria Cristina Uslenghi Rizzi fugiu do Uruguai em 1969; socialista, acabou presa no ano de 1971, em Pernambuco, e cumpriu pena com Dilma; sequestrada, voltou a Montevidéu e embarcou ao Chile; com golpe de Pinochet, exilou-se em Paris e hoje vive em Goiânia

Conhecida como “Tupamara” entre companheiros de militância contra as ditaduras do Cone Sul, Maria Cristina Uslenghi Rizzi fugiu do Uruguai em 1969; socialista, acabou presa no ano de 1971, em Pernambuco, e cumpriu pena com Dilma; sequestrada, voltou a Montevidéu e embarcou ao Chile; com golpe de Pinochet, exilou-se em Paris e hoje vive em Goiânia (Foto: Realle Palazzo-Martini)
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Renato Dias, especial para o Brasil247

Ativista sindical, ela fugiu do Uruguai, em 1969, após a militarização das instituições bancárias no País. Com a história nas mãos, mudou-se para o Brasil sob a atmosfera dos anos de chumbo e acabou presa sob alegação de subversão, em Recife (PE). Torturada em porões da polícia política no Rio de Janeiro e em São Paulo, foi acusada de manter ligações perigosas com os Tupamaros, que adotaram a estratégia de luta armada. Em 18 de maio de 1972, foi sequestrada no Presídio Tiradentes (SP) e levada para Montevidéu, para novas sessões de torturas. Libertada, transferiu-se para o Chile, de Salvador Allende. Com o 11 de setembro de 1973, refugiou-se na Embaixada da Finlândia e viveu o exílio em Paris. Com a Anistia, voltou à pátria de chuteiras no ano de 1979. Um thriller político: essa é a história de Maria Cristina UslenghiRizzi, hoje com 69 anos de idade e uma tradicional marxista com as armas da crítica.

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Nascida em 19 de agosto de 1944, Maria Cristina iniciou a sua atuação política no movimento sindical dos bancários, em Montevidéu. Ligada ao Partido Socialista, logo logo converteu-se à liturgia professada pelo velho barbudo Karl Marx. Do signo de Leão,  era presa em greves. No pequeno, porém charmoso país do Cone Sul, ela teve a sua primeira filha: Maria Gabriela.  No turbulento ano de 1968, conheceu o seu segundo companheiro, Tarzan de Castro, ex-PC do B e dirigente da Ala Vermelha (AV), uma dissidência da organização fundada por João Amazonas, Ângelo Arroyo, Maurício Grabois e Pedro Pomar. Os dois vieram morar no Brasil. O casal caiu nas teias da repressão política e militar, em 1971. Transferida de prisão, ela conheceu, na cadeia, uma dirigente da VAR-Palmares que marcaria a sua vida: ela atendia pelo nome de Dilma Vana Rousseff Linhares, nascida em Belo Horizonte (MG), terra do ‘incendiário’ Tiradentes.

Acompanhadas de Eleonora Menecucci, Rita Sipahie Márcia Mafra,  as duas ficaram na ala feminina das presas políticas, denominada de “Torre das Donzelas”. Estudante de Economia e especialista em marxismo, Dilma Rousseff coordenava sessões de estudo das obras do filósofo alemão. Era luta de classes para lá, ditadura do proletariado para cá, revolução armada. O seu apelido, em virtude da ações ousadas dos vermelhos no Uruguai, era “Tupamara”. O de Dilma Rousseff era “mineirão”.  Por causa do seu estilo duro, de general. Com o tempo, elas viraram amigas e confidentes e descobriram que os seus maridos – Tarzan de Castro e Carlos Franklin da Paixão Araújo – eram amigos.  Os laços se estreitaram, então. Não era a tortura, que doía, mas a ausência da filha Maria Gabriela que arrebentava com o coração de Maria de Castro. A criança havia ficado no seu país de origem, com os avós Raul Uslenghi e Maria Angélica.

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- Dilma era líder, solidária, organizava a entrada clandestina de livro e nos dava noções de economia política.

Torturas

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Ela conta que em 18 de maio de 1972, agentes da repressão política lhe sequestraram do Presídio Tiradentes e a levaram de volta para o Uruguai. É que os Tupamaros, liderados por Raúl Sendic e Pepe Mujica, realizaram um atentado e que acabou com quatro militares mortos. “Mesmo sem possuir envolvimento com a guerrilha uruguaia, tive de responder por atos revolucionários dos Tupamaros”, denuncia. Mesmo frágil, a submeteram a torturas na cadeira-do-dragão,pau-de-arara, choque, agressões físicas e psicológicas. “Me enfiaram um cabo de vassoura no ânus”, relata, emocionada. Não custa lembrar: o cônsul do Brasil no Uruguai, Aloysio Gomide, havia sido sequestrado pela esquerda armada. “Eles queriam que eu desse informações sob a captura do diplomada, mas não sabia nada da operação”, explica.  “Era porrada à toa”, fuzila. Ela ficou presa até o mês de dezembro de 1972.

Como cerco se fechava no Uruguai e no Brasil, ela decide se mudar para o Chile. Médico, o marxista Salvador Allende, eleito em 1970, adotava a via latino-americana para o socialismo. A experiência era inédita. Também libertado, Tarzan de Castro, seu companheiro, adota o mesmo caminho e segue para o novo farol do socialismo mundial. Lá trabalha em um programa de educação para mineiros. Até que, em 11 de setembro de 1973, o general Augusto Pinochet lidera um golpe de Estado, civil e militar, com a aberta participação dos Estados Unidos. Cai Salvador Allende, que suicida-se dentro do Palácio de La Moneda, bombardeado. Maria Cristina, com o auxílio de companheiros franceses, consegue refugiar-se na Embaixada da Finlândia, uma das referências em Welfare State do Velho Mundo (Europa).  Preso, Tarzan de Castro vai parar no Estádio Chile, vê um cubano ao seu lado ser fuzilado, mas é libertado.

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Maria Cristina e Tarzan de Castro retomam o caso de amor, interrompido pelas prisões e golpe, na bucólica Paris. Lá nasce o primeiro filho do casal de revolucionários: Gregório Alexandre de Castro. Gregório, em homenagem a Gregório Bezerra, o líder comunista que foi arrastado pelas ruas de Recife após o golpe de 31 de março de 1964, no Brasil, e trocado pelo embaixador dos EUA no Brasil Charles Burke Elbrick, capturado – não sequestrado, já que sequestro é crime comum, segundo o historiador Daniel Aarão Reis Filho, em setembro de 1969 -. Alexandre, em função de um pedido de sua filha uruguaia, Maria Gabriela. Castro é o sobrenome do marido. Gregório Bezerra, em carne e osso, o chamava de ‘xarazinho’.  A vida no exílio era dura, nada fácil. Tempos difíceis. Ela cursa, na França, Análise de Sistemas e se forma. Com a Anistia de agosto de 1979, os dois decidem voltar ao Brasil para a retomada do curso da vida.

A volta

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Em dezembro, Maria Cristina, acompanhada de Tarzan de Castro, retorna a Goiânia. Eles são recepcionados por uma multidão no Aeroporto Santa Genoveva. No meio dela, uma senhora chamada Maria de Campos Baptista, ávida por informações de seu filho, Marcos Antônio Dias Batista, membro da VAR-Palmares e da Frente Revolucionária Estudantil (FRE), desaparecido em maio de 1970. A chegada foi monitorada pelos agentes públicos da repressão política e militar. General-presidente da República, João Baptista Figueiredo, sucessor de Ernesto Geisel, o homem da abertura lenta, gradual, segura e pelo alto, anula o decreto de expulsão de Maria Cristina do Brasil. No ano de 1982, nasce Luana, a segunda filha do casal e o terceiro rebento Da “Tupamara”. Mas em 1983, a ditadura civil e militar – João Baptista Figueiredo - negou seu pedido de naturalização.

O caso de amor entre Maria Cristina Uslenghi Rizzi e Tarzan de Castro acaba em 1984. No fim do regime civil e militar. “Adoro Tarzan de Castro, mas ele não serve para ser mais meu marido”, atira. Valterli Leite Guedes [Atual presidente da AGI – Associação Goiana de Imprensa],então amigo do casal, diz que ela lhe afirmou que fez duas coisas certas na vida: casar-se com Tarzan de Castro e separar-se dele. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva e a nomeação de Dilma Rousseff para o Ministério de Minas e Energia, ela se muda para a Capital da República, Brasília (DF). Técnica, ocupa um cargo no Governo Federal entre 2003 a 2006 e depois de 2007 a 2012. Aposentada, volta para Goiás. Hoje, aos 69 anos de idade, dá consultorias na área de análise de sistemas. Apesar de ela ter faltado ao encontro nos anos 60 e 70 do século 20, diz ainda sonhar com a revolução.

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Registro

Crítica como na época da “subversão”, Maria Cristina Uslenghi Rizzi defende a reeleição da atual presidente da República, sua companheira de cela, Dilma Rousseff, acusa o ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, de ser “repugnante”,considera a mídia – os grandes conglomerados de comunicação – golpista, afirma que o colunista Cláudio Humberto representa, hoje, o que a imprensa nacional tem de mais “sujo e porco”. Mais: revela estar encantada com o presidente do Uruguai, seu país, Pepe Mujica, um ex-Tupamaro.   “Ele faz um governo maravilhoso, extraordinário, algo coerente e que me representa”, observa.  Sem medo das patrulhas ideológicas, como a da revista Veja,  ela revela que quer escrever as suas memórias. Para que não se apaguem na poeira do tempo.  Em 2014, quando fará 70 anos, se completarão 50 anos de 1964. “Uma data histórica, não?”, pergunta.

Perfil

Nome: Maria Cristina Uslenghi Rizzi

Idade: 69 anos

Formação: Análise de sistemas

Onde nasceu: Montevidéu, Uruguai

Filhos: Maria Gabriela, Gregório Alexandre e Luana

Partido: PT

Referências: Dilma Rousseff e Pepe Mujica

Ideologia: Socialista

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