Obesidade. Ela está ligada a um envelhecimento acelerado do cérebro
As pessoas de meia idade obesas, ou com peso acima do recomendável, apresentam um envelhecimento cerebral comparável ao de pessoas de peso normal porém dez anos mais velhas.
Por: Cécile Thibert – Le Figaro
Não importa qual seja o nosso peso, nosso cérebro tem o seu destino traçado: encolher, murchar, enfraquecer, atrofiar. Em uma palavra, envelhecer. Mas segundo os neurologistas do Centro de Estudos do Envelhecimento e das Neurociências da Universidade de Cambridge, tudo leva a crer que o cérebro das pessoas obesas envelhece prematuramente. A obesidade, fator já bem conhecido por sua implicação no diabetes, as doenças cardiovasculares e certos cânceres, invade também o cérebro e o influencia.
A fim de avaliar a ligação entre obesidade e o nível do envelhecimento cerebral, os pesquisadores analisaram as estruturas cerebrais de 527 indivíduos com idade entre 20 a 87 anos. Entre eles, 246 foram definidos como magros, 150 tinham excesso de peso, e 87 foram considerados obesos. Os resultados da pesquisa, publicados em julho na revista Neurobiology of Aging (Neurobiologia do Envelhecimento), mostram que os obesos com idade média de 40 anos possuem um volume de matéria branca comparável ao de pessoas de peso normal com idade média de 50 anos. Situada no cérebro e na medula espinhal, a matéria branca contem milhões de fibras nervosas – os axônios – que estabelecem a conexão entre uma região do cérebro e outra, assegurando dessa forma a boa circulação das informações no contexto do sistema nervoso. Antes de chegar aos quarenta anos de idade, nenhuma redução do volume da matéria branca foi observada nas pessoas obesas. Os pesquisadores sugerem que o cérebro se torne particularmente vulnerável ao excesso de peso a partir desse período da vida.
Comparação entre a matéria cinzenta (em marrom) e a matéria branca (em amarelo) entre uma pessoa de peso normal com a idade de 56 anos e uma pessoa obesa de 50 anos.
Como explicar esse fenômeno? Os autores do estudo sugerem que as substâncias produzidas pelo tecido adiposo (ou seja, as gorduras), como a citocina e a leptina, estão na origem de reações inflamatórias induzidas por certas células imunológicas situadas no cérebro. Essa inflamação teria como consequência uma degeneração da matéria branca. Esses resultados, no entanto, ainda não permitem afirmar que a obesidade está na origem dessas mudanças cerebrais. «Nosso cérebro encolhe naturalmente com o tempo, mas não sabemos ainda porque as pessoas com excesso de peso apresentam um encolhimento mais importante da matéria branca”, conclui Lisa Ronan, doutora do departamento de psiquiatria da Universidade de Cambridge e coautora do estudo. “Devemos ainda estudar os mecanismos biológicos que ligam o peso de uma pessoa à estrutura do seu cérebro”, conclui a cientista.
Apesar das diferenças detectadas na quantidade de matéria branca de pessoas normais e obesas, os pesquisadores não observaram um déficit de capacidades cognitivas, aferidas por testes de quociente intelectual. Os investigadores britânicos preparam agora novos testes e estudos para tentar determinar se essas mudanças são reversíveis com a perda de peso.
