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Os neurônios podem se regenerar. Se estimulados pelo trabalho e exercícios

De acordo com um recente estudo sueco, o cérebro é capaz de se regenerar ao produzir novos neurônios funcionais. Uma pista encorajadora na prevenção do envelhecimento cerebral.

Os neurônios podem se regenerar. Se estimulados pelo trabalho e exercícios


 

Por Martine Lochouarn – Le Figaro

 

Pesquisadores suecos acabam de publicar os resultados de um estudo que, pela primeira vez, parece estabelecer que a produção de novos neurônios no hipocampo em seres humanos, que pensávamos ser muito pequena, está longe de ser insignificante, pois ela representa cerca de 2% ao ano de novos neurônios neste órgão principal do armazenamento das lembranças. «Estes novos neurônios poderiam fornecer um potencial para a codificação posterior de novas informações », disse Claire Rampon (CNRS UMR 5169, Toulouse), que trabalha com as relações entre a memória, plasticidade e envelhecimento. «O que também é novo de acordo com este estudo, essa produção seria mantida de forma estável até uma idade avançada. Além disso, a taxa de renovação está próxima daquela observada em camundongos”. Resultados a serem confirmados, é claro.

Novos neurônios são ativados

Marcadores fluorescentes incorporados nos neurônios do hipocampo de camundongos indicam que novos neurônios formados de modo contínuo no animal estabelecem conexões funcionais. «Se “interrogamos” um camundongo sobre uma memória recém formada, podemos observar que esses novos neurônios estão ativados. Eles são preferencialmente utilizados para a codificação de novas informações e codificam também informação sobre a “data” na qual essa memória é formada.» Em camundongos mais velhos, normais ou modelos de Alzheimer, a produção de novos neurônios também continua, mas sua maturação é mais lenta. «Ao estimular esses camundongos por exercícios de cognição ou por esporte, observamos que essa neurogênese acelera, explica Claire Rampon. Nesses camundongos modelos de Alzheimer, temos mostrado que um ambiente estimulante previne o envelhecimento cognitivo.» Agora resta compreender melhor os mecanismos biológicos em funcionamento por trás desses efeitos do ambiente.

Os estudos epidemiológicos apontam na mesma direção. Eles permitiram identificar alguns fatores que influenciam esse envelhecimento. «Conhecemos bem, através do estudo Cohorte Paquid, seguido na França há 25 anos, o efeito protetor de um nível sócio-cultural elevado. Um cérebro estimulado ao longo da vida, desenvolveu uma melhor rede neural, adquiriu uma maior plasticidade que lhe permite compensar mais facilmente e por mais tempo, os efeitos do envelhecimento cerebral» salienta a Prof. Hélène Amieva, psico-geriatra (Inserm U897, Bordeaux).«Sentir-se cercado, incluído em uma rede social rica, tem um efeito benéfico claro na prevenção do declínio cognitivo.»

Uma alimentação saudável

O efeito protetor proveniente da atividade física, de uma alimentação saudável, também foi demonstrado. Dentre os fatores associados a um envelhecimento cognitivo aumentado, as patologias cardiovasculares, o diabetes, a hiper-colesterolomia, a hipertensão, danificam o cérebro. A institucionalização do efeito está sendo estudada atualmente. «Muitas vezes, logo após o declínio cognitivo avançado, parece que ele também pode contribuir para isso », especifica a pesquisadora. Por isso o desafio colocado para uma manutenção domiciliar.

Hélène Amieva lançou há três anos, em colaboração com vários centros de pesquisa, um estudo com mais de 600 pacientes. Seu nome é Etna, e foi concebido para avaliar o impacto de terapias não medicamentosas visando reduzir o declínio cognitivo na prevenção da doença de Alzheimer. «Estas técnicas são amplamente desenvolvidas sem avaliação prévia.» Os resultados do estudo ainda não foram publicados, mas parece que os mais utilizados destes métodos não foram muito úteis. «Este estudo levará provavelmente ao questionamento de certas práticas atuais », ela adianta.