Padre radical quer prisão de José Celso Martinez
Luiz Carlos Lodi da Cruz, religioso de Anápolis (GO) célebre por posturas ultraconservadoras contra o aborto e a união civil homossexual, acusa o diretor e dois atores do Teat(r)o Oficina, um dos mais importantes do Brasil, de promover o "escarnecimento de alguém publicamente por motivo de crença ou culto religioso"; em adaptação da peça Acordes, de Brecht, encenada na PUC-SP, artistas simulam a decapitação do ex-papa Bento XVI; promotor manifestou que grupo estaria “se escondendo através do teatro para dizer impropérios e incitar a violência”; Zé Celso considerou absurda a acusação, que classificou como “um crime contra a arte do teatro”; tipificado no artigo 208 do Código Penal, suposto crime prevê até um ano de cadeia
247 - O diretor José Celso Martinez Corrêa e os atores Tony Reis e Mariano Mattos Martins, do Teat(r)o Oficina, podem ter prisão decretada por terem encenado uma peça de teatro. O motivo de uma ação judicial é a apresentação da peça Acordes, feita na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 2012 pelos artistas do Oficina. A obra é baseada em texto do dramaturgo alemão Bertold Brecht. A peça foi considerada ofensiva pelo polêmico padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, de Anápolis, que assistiu a encenação pelo YouTube e depois entrou na Justiça contra os artistas. Assista:
Os três atores foram intimados pela Justiça a estar às 16 horas da segunda-feira (8) no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Foi a segunda vez que precisaram comparecer a uma audiência no local. Os membros do Oficina são defendidos pelos advogados Fernando Castelo Branco e Fernanda de Almeida Carneiro.
Na audiência, os dois atores apresentaram defesa por escrito - Zé Celso, gripado, enviou um atestado médico. O juiz vai incluir as peças no processo para posterior analise. Uma decisão será tomada pelo magistrado após o procedimento.
A primeira audiência do caso aconteceu em 5 de novembro de 2014, quando os atores se recusaram a assinar um documento de reconhecimento de culpa. Eles ouviram do promotor que estariam “se escondendo através do teatro para dizer impropérios e incitar a violência”. Zé Celso considerou absurda a acusação, que classificou como “um crime contra a arte do teatro”.
Segundo os artistas do Oficina, a sessão especial de Acordes na PUC-SP, da qual Zé Celso é ex-aluno, foi feita a convite de alunos, professores e funcionários que estavam em greve em 2012. Eles se manifestavam contra a imposição do nome da professora Anna Maria Marques Cintra como reitora da instituição, já que esta havia ficado em terceiro lugar na votação com a comunidade acadêmica.
Por isso, o Oficina foi convidado para apresentar a peça que falava sobre autoritarismo e o papel popular para provocar mudanças. Para adequar a peça ao contexto da Pontifícia Universidade Católica, Zé Celso colocou a imagem de um religioso para representar a figura do autoritarismo, na forma de um boneco parecido com o Papa Bento 16.
Na metáfora proposta pela peça, o boneco é decapitado para simbolizar a ruptura com o autoritarismo. Segundo o Oficina, a própria Reitoria autorizou a entrada do grupo na PUC.
O vídeo com a encenação foi parar no YouTube, onde o Padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, de Goiás, o assistiu e resolveu então entrar na Justiça contra o Oficina e ainda pediu abertura de inquérito policial. O padre utilizou o artigo 208 do Código Penal, que criminaliza o escarnecimento de alguém publicamente por motivo de crença ou culto religioso e prevê até um ano de cadeia.
Padre Lodi é presidente da Associação Pró-Vida e Pró-Família de Anápolis, município distante 50 quilômetros de Goiânia e 150 de Brasília. É um ultraconservador reconhecido em Goiás por posições radicalíssimas e histriônicas contra o aborto e o casamento gay.
Segundo o grupo, Zé Celso, Mariano e Tony afirmaram à Justiça que jamais tiveram o intuito de zombar de objetos religiosos ou escarnecer da fé católica. Explicaram que tratava-se de uma obra de arte teatral feita em um cenário de liberdade de expressão artística, garantida pela Constituição.
Na audiência de novembro do ano passado, os atuadores do Oficina não aceitaram a proposta de acordo feita pelo representante do Ministério Público, Matheus Jacob Fialdini, que queriam que estes assumissem a culpa para encerrar o caso.
Como eles se recusaram a assinar o documento, a nova audiência desta segunda-feira foi marcada para definir a sorte dos três artistas.
O Oficina é considerado o mais importante grupo teatral do Brasil, e Zé Celso é um dos encenadores latino-americanos mais reconhecidos em todo o mundo, tendo sido perseguido, preso e exilado durante a ditadura civil-militar que vigorou no Brasil entre 1964-1985.
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