TV 247 logo
    HOME > Geral

    Pobre Santos, pobre Brasil!

    O melhor time que o Brasil formou em muitos anos foi presa facílima para o Barcelona, que novamente manteve a posse de bola por mais de 70% do tempo

    Celso Lungaretti avatar
    Conteúdo postado por:

    Foi constrangedor: os jogadores santistas aparentemente hipnotizados --diria até bestificados-- pelo privilégio de estarem assistindo tão de perto a um show dos melhores futebolistas do mundo.

    O placar de 4x0 para o Barcelona foi justíssimo.

    E que craque extraordinário é Xavi, capaz de dar aquela matada de bola acrobática para depois colocar Messi cara a cara com Rafael!

    O técnico Mano Menezes tem de se indagar: o que ele faria para não levar o baile que Muricy Ramalho levou?

    Esperar o adversário atrás e apostar nos contra-ataques, com os espanhóis, não será solução.

    De resto, se a ficha ainda não caíra para alguém, agora até o mais fanático dos patrioteiros é obrigado a reconhecer: deixamos de ser os reis do futebol.

    O melhor time que o Brasil formou em muitos anos foi presa facílima para o Barcelona, que novamente manteve a posse de bola por mais de 70% do tempo, fez o que quis e quando quis, construiu sua goleada como quem tira o doce de uma criança e perdeu outras chances claríssimas de gol, inclusive mandando duas bolas nas traves do atônito Rafael.

    Muricy Ramalho teve o seu dia...

    Vamos ver se, uma vez na vida, tiramos as lições corretas da (acachapante) derrota, ao invés de nos consolarmos puerilmente com chavões tipo "faltou garra" e "o Neymar pipocou".

    Não é hora de queimarmos as poucas esperanças que temos de dar a volta por cima.

    Se dependesse da opinião de torcedores frustrados, o Gerson canhotinha de ouro nunca mais vestiria a camisa da Seleção depois de desperdiçar um pênalti em 1964, tornando-se o bode expiatório da derrota diante da Argentina por 0x3 em pleno Pacaembu. Ainda bem que o tínhamos regendo a orquestra brasileira em 1970!

    O certo é que, afora os grandes craques com que então contávamos, possuíamos em 1958 e 1962 um esquema de jogo menos convencional, com Zagallo recuando para ajudar o meio de campo e depois avançando como ponta-esquerda clássico, misto de 4-3-3 com 4-2-4.

    Em 1970 fomos além, com o quadrado mágico de Gerson, Tostão, Pelé e Rivelino, quatro jogadores em rotação, podendo ocupar e aproveitar qualquer espaço que surgisse.

    Mas, a partir daí empacamos.

    Não assimilamos o futebol total que começou a se desenhar desde a laranja mecânica de 1974. Tornamo-nos defensivistas, pateticamente cautelosos, acreditando sempre que, segurando tudo lá atrás, nossos talentos decidiriam as partidas com suas estocadas.

    Ainda ganhamos duas Copas do Mundo --sem, contudo, deslumbrarmos o mundo.

    Em 1994, pela primeira vez, a taça nos veio sem uma vitória na final: depois de 120 minutos de sonolento 0x0, superamos a Itália na disputa em pênaltis, mais apropriada para peladas domingueiras.

    ...de José Mourinho.

    Superioridade real se evidenciava quando havia a disputa de jogo extra. A loteria dos pênaltis pode premiar o menos ruim (1994) ou propiciar uma enorme injustiça (2006).

    Em 2002 foi a única vez em que a nova escola brasileira funcionou a contento --mas, num Mundial de entressafra, no qual nenhuma das grandes forças estava inspirada.

    Quando o estilo Barcelona se impôs, o futebol brasileiro despencou de vez.

    Faltam-nos zagueiros habilidosos, capazes de retomar a bola e saírem jogando.

    São anacrônicos e ridículos os nossos meio-campistas recuados, que só sabem cumprir razoavelmente a função defensiva.

    E carecemos desesperadamente de jogadores cerebrais no meio de campo, que ditem o ritmo da equipe e municiem os atacantes de forma a receberem a bola com apenas um ou dois zagueiros os marcando, não uma tropa.

    O superestimado Muricy Ramalho não decifrou o enigma da esfinge: nem conseguiu evitar as jogadas agudas do Barcelona, nem conseguiu fazer com que seus atacantes levassem real perigo (só ameaçaram em lances esporádicos, e mais por erros dos catalães).

    Teve o Brasileirão inteiro para preparar o Santos, mas seu time chegou despreparado à partida mais importante desde 1963.

    Então, temos de repensar muitas coisas e, nas categorias de base, fazer um trabalho direcionado para a gestação dos maestros que deixamos de produzir.

    Duas semanas depois da morte do grande doutor da bola e da democracia, tivemos um atestado eloquente de como nos fazem falta, hoje, os Sócrates.

    * jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: