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"Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós"

A frase de Carlos Cachoeira, numa conversa interceptada pela PF; nela, bicheiro cobra a fatura por ter colocado o tucano Perillo no Palcio dos Esmeraldas em 2010; dilogo revela como doador de campanha se apropria de um governo

"Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós" (Foto: Folhapress_Divulgação_Folhapress)

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247 - Fecha-se o cerco contra o governador de Goiás, Marconi Perillo. Em 2010, o bicheiro Carlos Cachoeira foi um dos principais personagens da sua campanha. Doou recursos, montou parte da estrutura e depois cobrou a fatura. Na disputa, contra o ex-governador Íris Rezende, Cachoeira recrutou o espião Dadá. Cedeu recursos próprios e também da construtora Delta. E, depois, cobrou seu pedaço do governo. "Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós", disse Cachoeira ao ex-presidente do Detran, Edivaldo Cardoso, numa conversa interceptada pela PF.

Cardoso deixou o cargo justamente em função das ligações com Cachoeira. Em Goiás, a Delta saiu praticamente do zero para contratos de R$ 450 milhões. Cachoeira nomeava delegados e participava da indicação até de alguns secretários. Marconi Perillo, que já admitiu a influência isolada de Cachoeira em seu governo, tentou retomar a iniciativa e pediu para ser investigado pelo produrador Roberto Gurgel.

A situação do governador de Goiás começa a se tornar insustentável.

Leia na matéria do Globo:

BRASÍLIA - Conversas gravadas pela Polícia Federal mostram que o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, cobrou do ex-presidente do Detran de Goiás Edivaldo Cardoso a fatura pelo apoio à eleição do governador Marconi Perillo (PSDB). No diálogo, o bicheiro e o ex-auxiliar do governador discutem a partilha da verba publicitária do Detran, segundo Edivaldo, no valor total de R$ 1,6 milhão. Cachoeira lembra da participação que teve na campanha de Perillo e exige a maior fatia do bolo.

— Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós — diz Cachoeira.

A conversa foi interceptada pela Polícia Federal em 2 de março do ano passado, logo no início do governo do tucano. Cachoeira descobriu que um jornal de Anápolis, de oposição ao governador, receberia uma verba mais expressiva que o jornal dele, que, segundo a Operação Monte Carlo, está em nome de um laranja do bicheiro. Contrariado, Cachoeira diz que a partilha não está correta e deve ser revisada.

"Aquele jornal foi contra o Marconi”, diz Cachoeira

Em um dos trechos, Cachoeira fala especificamente do Canal 5 de Anápolis, contratado para transmitir as sessões da Câmara Municipal e que tem como diretor Carlos Nogueira, o Butina, que ao GLOBO assegurou ser o dono da emissora. O mesmo grupo é dono do jornal “Estado de Goiás”. O contraventor vai direto ao ponto:

— O jornal “O Anápolis” vai ganhar do Detran? Aquele jornal foi contra o Marconi o tempo inteiro. O Butina falou que viu (o documento) na mão do cara (do governo) — contesta Cachoeira.

O ex-presidente do Detran nega a veracidade da informação:

— Não viu, não. Eu fechei isso ontem. Tinha televisões (e outros jornais) — disse Edivaldo, antes de complementar, dizendo que deu atenção especial ao jornal de Carlinhos.

— Eu pedi para incluir o seu (jornal) lá — disse Edivaldo.

A partir desse momento, em um diálogo de três minutos e quinze segundos, o contraventor interpela o ex-dirigente do Detran sobre a partilha de valores e compara a fatia abocanhada por concorrentes e pelos veículos ligados ao grupo.

— O nosso tem que ser muito mais. Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós! — diz Cachoeira.

Presidente do Detran foi demitido, após escândaloPressionado, Edivaldo chega a concordar com Cachoeira que a verba aos jornais que fazem oposição ao governo de Marconi Perillo “não se justifica”. Cachoeira então volta a cobrar a suposta parceria com o governo goiano.

— Parceiro só para conversa, não tem jeito. Você tem que nos mostrar em números — conclui o contraventor.

Edivaldo foi demitido no começo de abril deste ano, após o surgimento de outras gravações nas quais aparece em conversas com Cachoeira. O tema da conversa era um possível encontro a ser agendado entre o governador e Cachoeira.

Butina sustentou que ele é o dono do jornal “Estado de Goiás” e da Canal 5. O advogado do governador Marconi Perillo, Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, informou que não comenta trechos pinçados e descontextualizados do relatório da Operação Monte Carlo.

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