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    Rubinho, o piloto que não sabe a hora de parar

    Com 39 anos, brasileiro Rubens Barrichello insiste em continuar em uma categoria que, cada vez mais, fora seu adeus

    Rubinho, o piloto que não sabe a hora de parar (Foto: ANDRÉ LESSA/AGÊNCIA ESTADO)
    Gisele Federicce avatar
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    Cassius Oliveira_247 – Nesse final de semana, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 encerrará a temporada 2011 da categoria. E mais uma vez vem à tona o destino de Rubens Barrichello, da Williams, em umas das principais categorias do automobilismo. Em mais um ano, o piloto não tem o futuro definido e novamente corre o risco de ter sua aposentadoria forçada neste fim de ano, já que ainda não tem contrato com nenhuma equipe para 2012. Fato semelhante aconteceu no fim de 2008, quando a Honda decidiu se retirar da categoria, dando lugar à Brawn GP, escuderia que Rubinho teve sua melhor temporada na F1 fora da Ferrari, quando fez uma das mais famosas duplas com o multi-campeão Michael Schumacher. Apesar de haver um clamor popular para que o piloto pare de correr, ele ainda demonstra forte desejo de disputar sua 20ª temporada, aos 40 anos de idade.

    Nesta semana, seu compatriota Felipe Massa, da Ferrari, revelou à imprensa que aconselhou Barrichello a parar de correr neste domingo, uma forma de terminar sua carreira em casa. O veterano ignorou o conselho e disse que já havia ouvido a mesma orientação de seu pai ao vê-lo novamente nesta situação. “O Felipe tem essa coisa, que é gostosa, de um lado carinhoso de um amigo, que fala ‘Não vale a pena você sofrer’. Já ouvi muito isso de várias pessoas, inclusive do meu pai”, disse Barrichello em entrevista à repórter Mariana Becker, da TV Globo. Mas para continuar a correr na F1 em 2012, o piloto terá de fazer uma manobra inédita em 19 anos de categoria. Resumindo, Rubinho terá que pagar para correr.

    Atualmente, das 12 equipes presentes na categoria, seis necessitam de ajuda de patrocinadores dos pilotos para que financie sua permanência na categoria. E Barrichello está em busca de um patrocínio para garantir sua presença na F1 em 2012. De acordo com o portal iG, o piloto esteve na última quarta-feira na sede da Nestlé em São Paulo para tratar de um suposto contrato com a empresa. Contatada pelo Brasil 247, a empresa desmentiu a informação.

    O irônico é que, em 1993, aconteceu uma situação completamente contrária com Barrichello. Para entrar na F1, o brasileiro teve que encerrar seu contrato com a Arisco, que o patrocinava desde a época do kart, para correr pela Jordan. Caso não consiga um patrocínio, Barrichello terá que dar adeus à categoria pela qual disputou por 19 anos e é recordista de GPs, com 324 corridas disputadas, o equivalente a quase 38% das provas já realizadas em toda a história da Fórmula 1.

    Em entrevista ao Brasil247, o especialista em coaching esportivo da Winner Esportes, Conrado Caiado, disse que, apesar de continuar em destaque na mídia, já passou da hora de Barrichello se aposentar. Como exemplo, deu nomes de grandes jogadores de futebol, como Romário e Ronaldo, que estenderam suas carreiras e foram prejudicados de alguma forma por isso. Leia a íntegra da entrevista, concedida por email nesta sexta-feira, 25.

    Brasil247 – O senhor acha que seria a hora de Rubens Barrichello parar de correr, uma vez que ele ainda estaria no "auge" da carreira?

    Conrado Caiado – Na verdade já passou da hora. Pelo menos na visão do marketing esportivo, pois a “marca” Rubens Barrichello, apesar de continuar em voga e aparecendo na mídia, está perdendo valor a cada ano pelo modo que aparece. Na visão psicológica do caso, nossa equipe faria um preparo para que o atleta canalizasse os desafios e a adrenalina que tanto o segura na F1 para outros campos da vida.

    Caso o Rubinho te pedisse uma consultoria, o que você diria a ele?

    Normalmente nossos clientes buscam chegar onde o Rubinho já chegou, ou seja, sucesso na carreira, reconhecimento nacional e internacional, independência financeira e realização profissional e pessoal. Diria que ele já é um exemplo de atleta para o País e de ser humano para o mundo. E que agora toda essa experiência e modelo podem ser trabalhados em outras áreas do mundo corporativo, esportivo e social. Definitivamente, a família dele, os novos pilotos e a sociedade poderiam ganhar mais com Rubinho fora das pistas do que com as tentativas de ganhar dentro dela. Porém, esse desprendimento e a decisão de parar é um fator psicológico que, invariavelmente, atletas que chegam ao auge não conseguem lidar sozinhos com a situação e sofrem quando não são devidamente assessorados.

    Qual é a hora de se aposentar, e como saber disso?

    Na visão do marketing, quando a “marca” que o atleta expõe ou vende para o mercado está chegando, ou chegou, no ápice da sua carreira ou dos seus resultados. Empresas de marketing esportivo e determinados consultores têm capacidade para fazer essa avaliação mercadológica. Dificilmente um atleta, sozinho, conseguirá decidir o melhor momento baseado apenas em suas reflexões.

    Seria possível um atleta com um excelente currículo destruir sua reputação no esporte por não saber a hora do fim?

    Claro. O atleta de ponta precisa entender que o valor que ele gerou para o mercado do qual faz parte poderá ser rentável mesmo depois da aposentadoria. Se esse valor começa a decair ou a não ser reconhecido, essa soma algébrica que envolve toda a carreira do profissional pode sofrer decréscimos. Outro fator é a vida pessoal, que também cria turbulência nesse período. Exemplo: um atleta no auge que curte suas baladas e "dá conta do recado" ainda é respeitado por torcedores e pela imprensa. Um veterano que faz o mesmo perto de se aposentar recebe críticas muito mais pesadas, já que o próprio desempenho em si não é mais o mesmo e essa combinação de vida social e profissional não é bem vista para alguém que precisa igualar o desempenho de antes e superar a idade. A família, o contexto social e a assessoria desse atleta são muito importantes para não arruinar uma carreira brilhante de 10 anos em 1.

    Poderia dar algum exemplo de atleta prejudicado por estender sua carreira?

    Comparemos Pelé, Romário e Ronaldo. O primeiro é, até hoje, uma das marcas mais valiosas do mundo esportivo, mesmo depois de 40 anos e de termos várias gerações, que hoje determinam o consumo. Contudo, o respeito pelo “produto” Pelé é indiscutível, ainda que na vida pessoal ele também tenha cometido deslizes que arranharam a embalagem do produto.

    O Romário e o Ronaldo são exemplos recentes que passaram da época correta. Poderiam ser eternamente lembrados pelo auge, porém se arrastaram nos campos até não aguentarem mais. Tenho certeza que ninguém iria criticar o Ronaldo se ele ficasse fora de forma depois de se aposentar, mas ao sofrer com a falta de forma exercendo a profissão, ele transmite uma impressão profissional ruim, como se não estivesse levando a carreira e o trabalho a sério. Ambos são ícones brasileiros, mas se fossem ações, com certeza seus papéis teriam perdido valor.

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