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Ruminantes mentais. Afinal, pensar demais faz mal?

Elocubrações mentais incessantes, listas de afazeres, caos interno. Será que faz bem questionar-se sem parar?

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Por Pascale Senk -  Le Figaro

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Há aqueles que, mentalmente, se agarram ao momento atual; aqueles que tentam eliminar de seu raciocínio «eu deveria », «eu poderia» e outros particípios passados inúteis e pesados… Todos os tipos de estratégias refinadamente desenvolvidas para escapar e sobreviver ao novo mal contemporâneo que poderíamos chamar o «híperpensar» («overthinking»).

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Durante muito tempo, os pacientes consultavam os psicanalistas porque queriam se libertar de fantasias vergonhosas. Agora, não é o conteúdo moral de seus pensamentos que os deixa preocupados, mas sua atividade incessante. É uma especialista de transtornos de humor e da ansiedade, Susan Nolen-Hoeksema, do departamento de psicologia da Universidade de Yale, que, ao estudar os mecanismos cognitivos que levam à depressão, foi a primeira (no início da década de 2000) a colocar o foco nessas «ruminações mentais». De acordo com um estudo realizado em 1300 pessoas selecionadas aleatoriamente, ela descobriu que 63 % dos adultos jovens e 52 % dos que estão na faixa dos 40 anos poderiam ser considerados overthinkers, com uma população feminina mais afetada por esse distúrbio (ver seu livro: Pourquoi les femmes se prennent la tête? (Por que as mulheres se preocupam?), Editora Marabout).

Conversa interior

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Desde o começo desses trabalhos, notou-se que o fenômeno é cada vez mais grave, provavelmente porque inúmeros profissionais da psique constataram a dificuldade que mais e mais pacientes têm para «mentalizar» as questões com sabedoria e tranquilidade mental. Vários fatores se somam na atualidade para agravar esse estado de atordoamento psíquico e mental. Entre eles,  a revolução digital, a «sobrecarga de informação» e a falta de tempo necessário para recuperar estímulos cognitivos seriam as principais causas. Filósofo e fundador da Escola ocidental de meditação, Fabrice Midal observa: «Muitos dos nossos contemporâneos têm a sensação de ‘pensar demais, mas, na realidade, eles são ,sobretudo, reféns de pensamentos incontroláveis , acredita Midal.

Na opinião de Fabrice Midal, o interesse atual pela meditação – técnica da qual ele é um dos apoiadores mais entusiasmados e competentes -, nasce dessa conscientização: «Muitos percebem que são prisioneiros dessa tagarelice  que os entorpece e os isola da vida. E tentam se livrar dela…» Para essas pessoas Midal projetou meditações guiadas. «Como eu converso e compartilho inteiramente com eles a experiência de meditação que estou vivendo, eu os ajudo a aprender a se liberar de seus próprios discursos mentais invasivos.»

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No ano passado, na França,  livros dedicados ao overthinking foram best-sellers do setor editorial da psicologia. Dentre eles, os de Christel Petitcollin, formadora em comunicação e desenvolvimento pessoal: “Je pense trop. Comment canaliser ce mental envahissant et Je pense mieux” (Eu penso muito. Como canalisar este mental invasivo e penso melhor). “Vivre heureux avec un cerveau bouillonnant, c'est possible!” (Viver feliz com um cérebro em ebulição, é possível!) (ambos publicados pela  Editora Guy Trédaniel). Do seu ponto de vista, não é o contexto social que acentua o fenômeno, mas sim, o novo reconhecimento de personalidades com «pensamento complexo».

Sair da caverna

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Os que ela chama de «supereficientes mentais» representariam, na sua opinião, de 12 % a 15 % da população. «Onde os pensadores normais têm um pensamento sequencial e linear, os sobre-eficientes têm um pensamento  arborescente, onde tudo está conectado com tudo, ela explica. Nos seus cérebros, é como se tivessem dez computadores conectados juntos.» Assim, se precisarem tomar uma decisão, os «pensadores-normais» exploram as possíveis opções em uma sequência mais lógica, uma após a outra, enquanto os «supereficientes mentais», divididos entre múltiplas possibilidades, precisam enfrentar o seu próprio caos interno. «Eles dão muita importância a certas situações », acrescenta Christel Petitcollin. Principais vítimas dessa desordem cognitiva? Os hipersensíveis, os super dotados, os bipolares… e até mesmo os autistas Asperger! Ponto comum? «Todos estavam entediados na escola e desde sempre ouviram em torno deles a mesma observação: Você se pergunta muitas coisas! Você pensa demais! »

Questionar-se sem parar. Não estaria aí um dos desafios da filosofia? «Tudo depende do tipo de perguntas que nos fazemos. A filosofia interroga o que é, e nos livra portanto de algo requentado sobre mim, mesmo e meus problemas, relembra Fabrice Midal. Assim, ela nos ajuda a pensar “para valer”, isto é, como uma experiência de abertura para  si mesmo, para os outros e para o mundo.» E relembrar, como dizia Platão, que libertar-se dessa armadilha de opiniões é o fruto de um trabalho longo. Isso se chama «sair da caverna».

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